"ENTRE DEUS E O CAPETA" Conto de: Flávio cavalcante
ENTRE DEUS E O CAPETA
Conto de:
Flávio Cavalcante
Essa história é baseada em fatos reais. Relato aqui a história de uma grande amiga chamada Lalá. Ela veio de Fortaleza no Ceará, para trabalhar no Rio de Janeiro. Como diz o povo lá do Nordeste, “COMEU O PÃO QUE O DIABO AMASSOU” para conquistar o seu espaço em busca de sua sobrevivência na selva de pedra.
Para sobreviver teve que encarar a vida que não lhe deu muita trégua. Trabalhou muito tempo fazendo faxina e foi babá por um bom tempo em casa de madame no bairro nobre da cidade. Como todo começo de vida, realmente tudo fica mais difícil, Lalá teve que encarar os tapas na cara que vida lhe deu.
É o que acontece com a maioria dos nordestinos quando deixam suas terras de origens e raízes para as metrópoles em busca de novos horizontes.
Em todo lugar desconhecido sempre se encontra um coração generoso, querendo de uma forma ou de outra dar aquela mãozinha. No caso de Lalá não foi diferente e contou com uma ajuda de uma amiga que morava praticamente do lado da casa que ela alugou.
Como ninguém é perfeito; toda pessoa de bom coração sempre carrega um defeito, até porque estamos falando de seres humanos e num aprendizado a cada passo do dia e por isso carregamos as nossas falhas.
A amiga prestativa da moça carregava um defeito que a Lalá agüentava, porque não via outro jeito. A mulher era evangélica fervorosa da igreja universal. Fanática ao extremo. Muitas vezes passava dos limites e não percebia que estava incomodando a nova amiga. A Lalá era obrigada a ouvir louvores o dia inteiro, coisa que ela adorava mesmo curtir era um bom forró de Calcinha Preta; mas a amiga evangélica ficava no pé dizendo que ela não podia ouvir aquelas músicas do mundo e que era armação do capeta.
A Lalá depois que conheceu esta vizinha chata, ganhou uma sarninha pra se coçar. Qualquer coisa que esta amiga achasse de errado ela repreendia em nome de Jesus. O que deveria ser um céu, passou a ser um inferno na vida da Lalá. A loucura chegou a um ponto culminante, chegando a dizer que a Lalá tinha desejos mundanos e imundos e era coisa do inimigo. A partir daí, começou o tormento da insistência afim de levar a Lalá na sede da universal onde a sua amiga freqüentava.
A Lalá sempre relutava em ir. Aí, era que a amiga dizia “O INIMIGO ESTÁ IMPEDINDO DE VOCÊ IR AO TEMPLO DE DEUS”. Como a Lalá decidiu não ir de forma alguma, a fanática levou o pastor pessoalmente á casa de Lalá para tentar convencê-la e depois de muito bla, bla, bla, finalmente o dito pastor conseguiu levar a nordestina até o tempo divino, mesmo contra a sua vontade.
A pregação sobre o dízimo e a nossa moeda foi a primeira lição do evangelho pregada pelo dito pastor e Lalá empinando o nariz; pois fugia dos seus princípios de crença. Em meio aquela oração com fervor, a sua amiga começou a tremer e se prostrou ao chão se debatendo. O pastor começou então uma sessão de tortura e bateu muito forte nas costas da Lalá, enquanto sua amiga caída ao chão gritava e tremia. O pastor batia mais forte nas costas da Lalá e aos berros dizia “SAI DEMÔNIO!” Lalá sem entender o que estava acontecendo, encarou o pastor “SEU PASTOR, EU NÃO ESTOU COM DEMÔNIO NENHUM NÃO. QUEM TÁ COM O BICHO NO COURO É MINHA AMIGA”. E o pastor continuou sem dar ouvidos a Lalá e gritava mais ainda “SAI SATANÁS! ESTE CORPO NÃO TE PERTENCE”. Lalá já não estava mais agüentando aquela sessão de tortura e retrucou o pastor que não parava de dar murro em suas costas. “COLEGA VOCÊ TÁ ME MACHUCANDO” Ela falou já empunhando a mão para encarar o pastor entre murros e ponta-pé.
Depois de apanhar muito, Lalá voltou para casa com as costas doendo e com alguns hematomas e decepcionada com aquela sessão de tortura que a te hoje ela ficou sem entender o motivo do espancamento. Prometeu nunca mais voltar naquele lugar.
- FIM -