O Reencontro

Pela manhã, não desceu para o desjejum. Subiram para acordá-lo. Quem subiu, soltou um grito de pavor, de repente. Todos sobem correndo, chegam a seu quarto. Olhando, parece estar dormindo. Os olhos, abertos, fixos em algum ponto no branco do teto.

Aproximam-se mais da cama. Sim, está morto. Examinam seu corpo, sua mão segura um papel. Têm medo de mexer nele. A morte provoca medo e repulsa, principalmente quando o morto é idoso.

Enquanto vão ligar a parentes, médico e policia, alguém faz uma prece.

Logo o quarto esta cheio de gente. Uns falando dele, outros de futebol, mulheres, emprego, dinheiro, logo ele é só mais um item na pauta do dia a dia.

Demorou muito a ir embora, a morrer, tinha se tornado um estorvo. Doente precisava de cuidados constantes, remédios na hora certa, alimentação entre outros, por isto sua partida também era um alívio.

Quando veio morar aqui há uns dez anos, trouxe poucos pertences, mas nunca atrasou nenhum aluguel. Raramente saia de seu quarto, mesmo para as refeições. A maioria das vezes preferia que levassem lá.

Quando ficou doente, o médico veio até ele, posteriormente, contratou uma enfermeira. Aposentado, seu contracheque chegava todo fim de mês, ainda fazia uns bicos como cronista escrevendo para um periódico local, um ou dois.

Chegaram os policiais e e o médico, mais o pessoal da funerária. Precavido, ele já deixara tudo pago, até as flores. O médico olhou seus olhos, procurou alguma pulsação. Em vão. Anotava tudo, dizendo por fim serem causas naturais o motivo do falecimento. Alguém perguntou ao médico se ele poderia tirar o papel que o morto segurava debaixo da outra mão. O médico consultou o policial, que assentiu, mas disse que entregasse a ele. O médico assim fez, levantou o braço, do morto, com algum esforço, retirou o papel, e entregou ao policial.

- É uma carta. Vou ler.

- Leia em voz alta, pediu o médico.

"Antonio, meu poeta amado e adorado. Há muito que não nos vemos, ou falamos. Estou muito doente e com muitas saudades. Quando esta carta chegar a tuas mãos, meu querido, talvez neste mundo eu já não esteja. Saiba que estarei à tua espera. Sei que lá, juntos poderemos de mãos dadas passear por parques e lindos jardins.

Meu amor, de teu único amor

Wanda"

Agora entenderam o ar de felicidade em seu rosto e o belo sorriso.

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 07/12/2009
Reeditado em 08/12/2009
Código do texto: T1965163
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