REVOLUCIONÁRIA AOS SEIS ANOS

REVOLUCIONÁRIA AOS SEIS ANOS

A vida corria em paz e harmonia na Vila de São João e para Tininha era o paraíso completo, porque ela corria livre pelas poucas ruas do lugar, sempre junto com outras crianças, na maior alegria e quando se cansavam da vila, iam para os campos colher flores e frutas silvestre.

A única obrigação daquelas felizes crianças era comparecer em casa nas horas das refeições e os maiores não podiam faltar ás aulas da única escola do lugar, mas Tininha não tinha idade escolar e dona Maria, sua mãe sempre dizia: ano que vem vai acabar a folga Tininha, você vai estudar.

O pai da menina era o delegado civil da vila e se não estivesse brincando com as amigas, Tininha estaria por perto dele na delegacia; mas em mil novecentos e trinta e dois as coisas mudaram bruscamente com a chegada da revolução e como a Vila de São João era um ponto estratégico, tudo ferveu.

O delegado Zurico recebeu ordens do comando revolucionário e tratou de cumpri-las ao pé da letra, amarrou um lenço vermelho no pescoço e mandou que seus quatro soldados fizessem o mesmo, entregou-lhe os fuzis e a munição e marcharam pelas ruas em passo acelerado.

O povo olhava aquele aparato bélico sem entender nada e entenderam menos ainda quando a pequena tropa cercou o posto de correios e telégrafo do lugar e Zurico disse: estou tomando este telégrafo em nome do comando revolucionário da capital, e o toque de recolher começa hoje.

Em seguida, percorreu o pequeno comércio da vila e ordenou que todos colaborassem com mantimentos para as tropas que passassem por ali; ninguém gostou do assunto, mas discutir com cinco fuzis é péssima idéia e concordaram; um soldado foi enviado ás fazendas para convocar os fazendeiros para uma reunião.

Todos vieram e foram informados que deviam trazer parte de suas colheitas para alimentar os combatentes e assim ficou decidido; a essa altura todos já sabiam que a policia mineira estava mantendo o exercito cercado, no quartel em Três Corações; as tropas paravam em São João para pegar água e comida.

Dona Maria convocou as senhoras da vila, amarraram lenços vermelhos no pescoço e montaram uma cozinha de campanha no terreiro da casa do delegado Zurico; trabalhavam em turnos dia e noite, cozinhando para os soldados que vinham de Belo Horizonte ou que voltavam feridos para lá.

Tininha colocou lenço vermelho no pescoço, se declarou revolucionária e tratou de ajudar de todas as maneiras; enchia os cantis de água fresca, carregava marmitas de comida para os soldados e ajudava a trocar curativos dos feridos, conversava com todos e cantava canções militares.

Durante toda a campanha Tininha prestou serviços ás tropas que passavam por São João e um coronel achando muita graça no patriotismo daquela criança, colocou divisas em sua blusa e disse: agora você é um sargento das tropas revolucionárias e todos fizeram continência para ela; foi seu dia de gloria.

Aquela menina foi a mais jovem revolucionária da revolução de mil novecentos e trinta e dois e ninguém jamais se esqueceu de seu grito de guerra: Viva o Brasil e Viva o Doutor Getulio; belos tempos em que o patriotismo existia e que o povo mineiro era o herdeiro do amor libertário de Tiradentes.

Aria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no Eda

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 06/12/2009
Código do texto: T1963984
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