DECADÊNCIA

Em uma das calçadas da Castilho França ela ficava a mendigar.

Como se chamaria? Joana ou Maria , talvez ela não recordasse nem o seu próprio nome, vivia apenas mergulhada na sua demência.

Arrastava- se como a buscar algo para reanimar- se

No seu delírio só ouvia passos à passar.

Seu corpo alquebrado ainda havia uma vaga esperança de que alguém viesse em seu socorro.

Grita mas não há ouvidos à escutá-la .

Chora , e seu choro se perde no meio dos sons das buzinas dos carros.

Suas lágrimas escorrem pelo seu rosto e caem no chão sem ninguém para enxugá- las.

Os cabelos em desalinho, por que se preocupar? Os fios brancos estão em todo lugar.

Os rugas denotam os tempos idos que viu passar.

Suas mazelas , há tempos deixou de cuidar.

Trapos de panos que descobrem o que deveriam cobrir.

Quanto deve Ter andado, corrido e quem sabe dançado? Agora mal consegue suas pernas suportar seu corpo raquítico.

Em passos trôpegos procura algo em que se amparar e, não conseguindo desaba no chão.

Quanta vida, folguedos e amores ela já viveu? E quanto deve Ter sofrido...

O que a levara aquele estado de destruição? A promiscuidade? As drogas? Ou quem sabe a desilusão de um grande amor.

Aos gritos lástima- se da própria sorte . Clama pelo término de seu sofrimento, chama pela morte.

Em sua agonia estrebucha, contorcendo- se, dizendo palavras ininteligíveis. Talvez esteja rezando ou suplicando a sua morte.

Aos poucos ela vai parando a sua agonia..

Seus olhos embaçados , estão fitos no nada.

Os curiosos aproximam- se , observam- na e depois vão embora, e ela continua inerte.

De repente alguém grita:

_A mendiga está morta !

Há um rebuliço em volta, todos querendo olhar a veridicidade do acontecido.

Alguém chama a perícia.

Com o passar dos minutos as pessoas se afastam .

O carro da perícia chega. Verificam o pulso e dão o ultimato.

_ Nada mais se pode fazer .Mais uma indigente para enterrar- concluem.

Carregam o corpo para o carro e vão embora.

Ficou apenas uma vela acesa denunciando que ali morrera alguém.

Belém, 17/6/01 – 13:55

Angela Pastana
Enviado por Angela Pastana em 06/12/2009
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