Temporal
Uma gota de chuva
Que caiu primeiro
Desfez a migalha de broa
Que a formiga
Carregava para o formigueiro.
Uma folha da majestosa Figueira
Serviu de canoa
Para o grilo cantor
Que desceu a corredeira
E foi cantar em outras bandas
Naquela tarde de temporal.
O filhote de passarinho
Que caiu do galho
Com o vendaval
Foi salvo pelo menininho
Que o colocou de volta
À segurança do lar.
Ao aconchego do ninho.
A chuva desfez
A teia da aranha
Inundou a toca da ariranha
E derrubou
A casa dos marimbondos caboclos.
Eles
São grandões,
Mas vivem em comunidades pequenas,
E em casas pequenininhas.
Enquanto tem um marimbondinho,
Bem miudinho,
Que vive em comunidades enormes
E em casas muito grandes.
A chuva destruiu
O barracão do pai do Zé.
Do Zé Benedito
Só restou a chaminé
E o fogão a lenha
Que ainda produzia a fumaça
Do fogo do café.
A chuva fez descer matéria orgânica
Da montanha para a várzea
Inundou de fertilidade
A terra plana.
E o pai do Zé Benedito
Vai colher de tudo o que der.
Vai colher quiabo,
Abobrinha,
Chuchu,
Nabo.
Ele vai colher energia
Para reconstruir sua casa.