CAJATI - Minha História com Santo Antonio
Ao amigo Joaquim e família
É nos porões da majestade em que a luz do empíreo se fez relampejar. E bem acolá, germinou naquele município sulista do Estado de São Paulo, a fiel Cajati, repleta de regozijos nos braços de sua afabilidade, onde o índio Botujuru e o português Matias de Pontes, naufragaram nos moldes de uma conquista no auriverde dos olhos da menina da região do Vale do Ribeira. Vêem-se montanhas e carretéis de morros e montes na circunferência de um elo basilar rodeado de terras férteis. É neste elenco que o português Matias de Pontes cruzou com o indígena forte laços de amizade na procura do ouro, abrindo na vegetação fechada, as fendas de uma futurista organização territorial, bravura que se estendia sem limites, perdidos nos matagais, abriam picadas intermináveis no silencio dos seus sonhos, desdobrando novos horizontes entre os vales da certeza de um novo amanhecer. Com o companheirismo guiado nas proporções do coração, eles foram os primeiros e únicos homens a atravessarem o Vale da Ribeira entre vales e serras, desfrutando dos mais longínquos conhecimentos naquela aventurada atração. Assim, desciam e subiam rios ao norte e sul e sudoeste como o rio Japupiranguinha, rio Guaraú, rio Faxinal, rio Turvo entre outros.
Não havia obstáculos ou chuvas de empecilhos capazes de brecarem as ambições que se erigiam nas amêndoas dos olhos destes nobres guerreiros quando o significado presente é, talvez, uma onda marítima, renovando nas pálpebras os anseios de uma descoberta. Nem mesmo as frustrações ocasionadas pelo tempo, seriam capazes de se tornarem nebulosas nas aspirações de seus destinos. Nem mesmo os estreitos rios com suas águas nas imensidões da obscuridade, eram capazes de amedrontar o ímpeto de suas coragens. Nada, nada impedia os passos arrojados na abertura dos vínculos para uma próspera geração. Entre noites, às vezes iluminada pela solitária lua, os olhares inclinados na direção de grandes árvores, alicerçavam as imaginações dos procedimentos como enfrentar a travessia dos rios, e no dia seguinte, cortaram-na e lavraram a madeira na construção de uma canoa que proporcionou a chaminé de uma longa e duradoura viagem com sucessos.
Eram dois homens, dois pensamentos, dois brasões e duas uniões que firmaram um oceano de alegrias e tristezas nas latitudes e longitudes de uma construção e conquista de seus sonhos, edificando pelos traços geográficos a bela cidade de Cajati. Porém, certo dia, e naquela oportunidade crespa de matas fechadas, concorrendo com os ferozes animais, um minúsculo inseto picou o índio Botujuru, tendo adquirido paludismo, propriamente dita malária, causada pelo mosquito Anopheles. Não passou muito tempo, Botujuru, reclamava ao companheiro de dores de cabeça, febre, náuseas e muita fadiga. Sem compreender, Matias de Pontes, medicava-o com erva medicinal, porém, à noite, o calafrio e o delírio tornavam-se medonho pelo corpo de Botujuru, que gemia e se contorcia enrolado numa capa ao lado de um pé de Canela Batalha de aproximadamente uns vinte metros de altura (Cajati). Matias, armando uma tenda debaixo daquele sombreamento refletido pelos feixes de luzes lunares, observava sem entender as causas que martirizava o amigo e companheiro. Após deitar o amigo e companheiro Botujuru numa cama improvisada, este, repassava um pano molhado de água quente em sua face que derramava suor frio.
Instantes, com a voz ainda tremula, Botujuru dizia para o companheiro seguir a estrada do sol nascente entre os vales e serras das árvores de folhas compridas. E que somente assim poderia ofertar com os seus frutos a todos os animais o alimento na qual os deuses havia lhe reservado. E naquele momento, Matias abraçou o índio tentando afagar as dores, suplicando para que o mesmo não o deixasse desamparado. Ainda, com poucas palavras, o índio gemeu por alguns instantes, e dissera a Matias para seguir o desfiladeiro sem medo e que a coragem que bate nos olhos de um homem, serão sempre as luzes de sua própria verdade. Soluçando entre as palavras, Botujuru pediu ao amigo para que enfeitasse o seu corpo com os estandartes de um guerreiro da paz e que não se esquecesse de adornar com o colar das penas do jacu-vermelho o pescoço, além do arco e flechas. Matias saltou os olhos no índio aventureiro, alegando para o mesmo não partir, porém, as pálpebras já haviam se deslizado sobre as pupilas, e o corpo já não se movia com o calafrio. Muito nervoso e sem saber o que fazer, enquanto a noite já se escondia sem o clarão da lua no meio do matagal, Matias chorava sem consolo, e suas lágrimas respingavam pelo solo como pingos de chuvas em forma de ouro.
Era um verdadeiro tormento e sem condições de encontrar o consolo do amigo já sem forças que partia levemente. Logo, uma brisa suave assoprava naquela ocasião. Matias gritava mato adentro sem ser ouvido nas lamentações, agoniava-se com o amigo nos braços, e ali mesmo, atendeu ao pedido do índio Botujuru, entregando a preciosidade abstrata da alma do homem indígena aos deuses que já aguardavam com um aguerrido batalhão de sentinelas nas copas das árvores de folhas compridas (Canela Batalha).
Cumprindo, sozinho a missão, Matias desceu na canoa com o silencio travado nos panoramas através dos ribeirinhos com a única lembrança guardada nos vastos lençóis da mente e dos olhos, os ensinamentos da liberdade e captações sem qualquer pedaço de ouro. Entretanto, levava consigo o maior medalhão de todas as minas ouríferas do mundo, o amor e a amizade que entrelaçavam o índio tupi Botujuru e o jovem português Matias de Pontes.
Passou-se muito tempo, e Matias de Pontes continuou suas lutas e aventuras. Com a alma latejante do índio Botujuru que em sonhos conduzia as grandes descobertas e nomes dos lugares avistados com seus homens e desbravadores, nascendo entre todas as matas do Vale da Ribeira, o nome Cachoeira, e mais tarde, atual Cajati, que assentou numa árvore no solo, a árvores de folhas largas – Cajati, nascendo daí o seu nome, a menina dos olhos do Vale da Ribeira. Desenhando o perfil desta homenageada cidade, está localizada a 230 quilômetros de São Paulo, bem como suas atividades em que permeiam os agronegócios, auspiciando em sua trajetória de desenvolvimento socioeconômico o pódio como a terceira maior produtora de banana nanica da região, sem falar do extrativismo mineral que se alarga no maiúsculo Parque industrial do Parque da Ribeira. É neste ponto produtivo em que germina as maiores jazidas de minérios, produção de cimento, argamassa, ácido sulfúrico e fosfórico.
Assim é Cajati erguida nas árvores de folhas largas no relevo de montanhas, vales e rios com locais belos e ainda bem preservados, despontando em cada clarão os pontos turísticos da cidade com suas belezas naturais. É ali que realça com a magia histórica da Trilha da Serra do Azeite derramando o fulgor inesgotável da cachoeira de águas límpidas que escorrem no destino e sangue de cada cajatiense. E nesta exuberância, que se desdobram por todos os cantos da cidade os novíssimos talentos da música aos sopros melódicos da Banda Municipal de Cajati com digníssimas apresentações nas festividades, tendo como relevância a festividade do padroeiro da cidade – Santo Antonio que ocorre durante vários anos.
A cultura sempre esteve presente nos corações dos seus habitantes e visitantes que por aí, aspiram a tranqüilidade e o banho do prazeroso da paz. Com o som executado de uma seleção variada de músicas, a bandinha cajatiense está sempre presente nos coretos da cidade com os aplausos harmônicos de um povo de conquistas.
Nos trilhos construídos pelos ingleses na rota dos minérios, deixaram marcada a nova Estação da linha que sempre empolgou o progresso através da Fepasa, cujo local, Cajati mostrou que suas grandes industrias de fertilizantes, que são também as pérolas que fazem a riqueza se ostentar nos padrões, apesar de pequenina a estação, era o ponto primordial das manobras dos velhos cargueiros com ponto final na fábrica serrana, mesmo estabelecida nos arredores da cidade, ainda relampeja o seu enfraquecimento com as dores de que o progresso as esqueceu. É como tudo que é doce, alguém sempre abusa por outros métodos mais rentáveis o que lhes trouxera mais lucros, as linhas paralelas que adormecem nas veias de quem assistiu e acompanhou as janelas arregaçadas do desenvolvimento naquele Parque Industrial instalado em vários complexos de puríssimo extrativismo. De fato, geraram riquezas, divisas e amizades, e que não se podem olvidar, além dos empregos diretos e indiretos. Tal avença alimentou o Brasil por vários anos na corrida de instalação de várias indústrias na exploração das riquezas.
Neste desenho cultural, Cajati esta repleta de comemorações que marcam os ensaios das alegrias e festividades, aflorando no mês de março, o encontro de Corais de Cajati e demais Corais do Vale da Ribeira. É sem quaisquer sombras de dúvidas, que vislumbra nas comemorações de Páscoa, o portal de cultura nas apresentações de um povo unido, ladeado pelo charmoso Concerto da Banda Municipal de Cajati invadindo com emoções tocando as músicas: chuva de prata, samba do avião e clássicos como as músicas de Ray Conniff, grupo de danças, o magnífico Coral Municipal de Cajati, além das paixões dos Cameratas de Violões. Tal cultura onde músicos se encontram e batizam no elo melódico os deleites de tocarem, divulgando novos intelectuais, artistas, compositores na universidade da arte e cultura cajatiense em que várias acepções de festas modernizam e congratulam durante o ano todo. Enfatiza que no mês de setembro, além das comemorações cívicas, ocorre também o festival de derivados de banana de Cajati e toda a região.
Desse modo, veste-se ainda a bela cidade no mês de maio com a festa de Peão de Boiadeiro, traduzindo nas festividades populares, onde a arena proporciona aos artistas de montaria e a população, efervescente rios de risos e cachoeiras de aplausos. Porém, é, no mês de junho em que a cidade mergulha na religiosidade plena, oportunidade em que as comemorações da cidade ficam repletas de fieis, convidados, amigos, turistas e o povo em geral, com tanto entusiasmo ao padroeiro da Cajati, Santo Antonio.
É neste município onde gira o seu gigantesco galardão de belezas numa das mais panorâmicas instâncias do Vale da Ribeira, imergindo nas primícias de sua vastíssima matas, trilhando pelos férteis caminhos tem-se a Barra do Azeite e o Salto do Guaraú. Germinando por todos os lados elevações. As cavernas, a cachoeira que se estende pelo bairro Capelinha e do Rio Bananal. Sem desfazer que neste reduto, Lamarca, o nosso guerrilheiro brasileiro, marcado pelas mãos do governo, subia com uma bandeira verde e amarela. Ali, ventilava o sangue vivo do nosso Brasil, os sonhos de um dia poder entregar aos brasileiros a libertação, afogando no fundo das depressões, a opressão e sujeira que sempre lastreou a dignidade humana. Em Cajati, o capitão Lamarca demarcou o seu território como base militar no bairro da Capelinha, tentando acender as luzes para uma nova América do Sul onde se ergue o Brasil.
Todavia, não há outra lanterna da natureza tão eficaz, onde se pode observar a abóbada celestial da Torre do Guaraú que ventila a maior abertura de toda a cidade. Era ali na Avenida Fernando Costa que nascia e crescia o seu primeiro cartório de Cajati, tendo o seu primeiro cartório, renomado na figura de Joaquim Seabra de Oliveira. Um dos elementares e mais arrojado da cidade naquela época em levar o desenvolvimento. Com seus préstimos e bondade, foi o primeiro homem a construir e fundar a Igrejinha de Santo Antonio na cidade, sem se falar que os seus esforços se perpetuaram por toda a cidade. Assim, o seu labor se perpetuou por toda a cidade de Cajati, levando em sua homenagem a Rua Joaquim Seabra de Oliveira cujo modernismo apagou dando lugar a outros estabelecimentos.
É ainda nesta abençoada rua em que os familiares da família Miguel Seabra vislumbrou por muitos anos as doçuras e alegrias. Cuja rua que leva o nome de Joaquim Seabra de Oliveira, é nesta rua onde se estabelece a Casa São José (Pastoral da Criança) no centro com o nº 508, sob os cuidados da irmã Maria Akino, a Floricultura Agrolita, a Auto Escola Nina, além de outros organismos que fazem a lembrança viva do primeiro notarial da cidade como o ginásio de Esportes e a Sociedade Amigos de Cajati que por Decreto nº 1791, assinado no Palácio dos Bandeirantes em 1981, pelo governador Paulo Salim Maluf na qual recebeu em comodato o prédio da Sociedade dos Amigos de Cajati para abrigar naquele local o Subdestacamento da Policia Militar do Estado de São Paulo naquele distrito. Como também permanece ainda em alguns pontos da cidade, vestígios do século XIX, em que vários colonizadores de várias nacionalidades depositaram o manto sagrado da fé, do trabalho derramado em gotas de suor e da prosperidade como: portugueses, italianos e alemães.
Num certo dia, na década de 70, um jovem descendente de português, chamado Miguel Seabra de Oliveira Neto, jovem cidadão eldoradense da cidade de Eldorado, também conhecida como Xiririca (água correntes em Tupi guarani) deixava nos abraços da grande cidade de São Paulo, o conceituado cargo de militar de cavalaria montada, assim como já havia exercido também a profissão de guarda florestal. E, partiu, levando consigo as reservas acumuladas durante anos de prestação de serviços à pátria. No simbolismo de tantas esperanças, o juvenil Miguel com tenacidade e bravura, rasgou o Vale da Ribeira arrastando de dentro do coração as mais céleres paixões e expectativas em alcançar as chamas de uma conquista numa terra nova. Nestes encalços em que a magia do pensamento se reflete nos algarismos dos tempos com a perseverança, a coragem e o amor, recobriam o jovem que mantinha como meta, construir nos pilares da imaginação, a realização do descobrimento, ampliando na visão com projetos de se instalar na cidade de Cajati.
O jovem Miguel Seabra era persistente, mantendo-se no limiar, à espera em que os minutos atravessavam as horas, demarcando a rotação global, este, não se limitava em prestar ajuda aos amigos e desconhecidos que o procuravam.
Sem dobrar as pernas, Miguel conseguiu patentear naquela época, e atualmente um grande círculo de amizade e consideração, até que chegou a ocasião em que conheceu a jovem Maria Neif Carravierie de Oliveira, natural de Jacupiranga, residindo na Fazenda Santa Adélia com elegância e tantos encantos principiaram o festejado namoro entre os dois. Ressalta-se que Miguel ainda militar, ao visitar a namorada na fazenda, este escondia a farda por trás da palmeira que ficava logo ao se aproximar da residência, trocando em seguida por outra roupa, cujo fato fora por várias vezes noticiadas pelos vizinhos.
E foi na cidade de árvore de folhas compridas - Cajati, em que o homem, de cor branca, de sorriso fácil, temperamento extraordinário, apresentando nos lábios o retrato da felicidade, nos olhos a prática da fé, nas palavras e frases o sulco do amor. Era ali mesmo, o desenho geográfico das aspirações do ex militar na terra do Bojuturu e Matias Lopes, entre as corredeiras à vista, e a suntuosa cachoeira.
E não houve tempo, não restou nenhum momento para que o sol se escondesse por trás da Serra do Guaraú, alicerçando entre os dois o grande enlace afetivo de amor. Entretanto, abriu-se assim, a união que se estendeu por toda a margem do rio Jacupiranguinha, redesenhando os impulsos longos do afeto nas raízes da majestosa harmonia entre Miguel e Neif.
Ladeando esta adesão, Miguel Seabra e Neif Carravierie juntaram-se no esforço da vida natural e mergulhado nas asas do sentimento amorável do casamento, surgiu quadro eletivo e efetivo de manter nesse espectro, a realização dos sonhos do casal, advindo da união os seguintes filhos: Maria do Carmo de Oliveira, também chamada por Carminha, Joaquim de Oliveira Neto, Maria Alice Camila de Oliveira (in memorian); Camilo de Lelis de Oliveira; Romeu Carravierie de Oliveira. Foi assim, que o poeta e versador Miguel Seabra construiu um poema num quinteto de filhos. Abrindo sempre um sorriso, Miguel não se distanciava de fazer acrósticos com os nomes das pessoas, além de pronunciar em suas construções literárias o emprego de metáforas e sempre dizendo parábolas assertivas da vida, pois, estava sempre de bom humor. Com o seu jeito elegante, educado e gentilmente alegre, costumava falar sempre às pessoas com quem diálogo expressão: “Com muita Fé, Esperança e Amor”. Em tudo se resumia num lema que se irradia nas questões do cotidiano.
Passados alguns anos, em 1978, o casal presta relevantes serviços à comunidade local. Chegara a hora de ajudar a construir a nova Igreja de Santo Antonio, empreendendo toda a família na elaboração com os amigos, parentes e vizinhos, efervescente empreitada na consolidação da igreja da matriz, sobressaindo a campanha do tijolo e quermesse, onde se podia avistar as barracas com comidas típicas como: milho verde cozido, salsicha, espetinhos assados, pamonha, bolinhos caipira dentre outros. A alegria invadia as noites, crianças e jovens degustando os pasteis , cachorro quente, pipoca, quentão, outros nos bingos, rapazes e moças que desciam e subiam repassando por várias vezes no mesmo local, apreciando as verduras da noite ao lado da igreja
Podia-se observar os gritos do senhor Miguel realizando o leilão com a mesa ao lado repleta de assados e bolos e outros pratos da gastronomia cajatiense feito pela dona Neif esposa do leiloeiro Miguel que ajudava na cozinha, enquanto que este lançava os gritos a voz perante a multidão, dizendo:
-E então, minha gente. Vai começar o leilão. Senhoras e senhores! Queiram por gentileza se aproximarem da mesa. Vejam que nesta noite há variados pratos com delícia. E digo mais no capricho. Alguém vai levar este saboroso capão assado. Está cheirando. Humm! Vamos gente! E já me dá fome olhando pra este capão. Alguém se atreve a dá mais que dois cruzeiros.
Uma voz entre a multidão falou:
-Dou cinco cruzeiros.
O senhor Miguel passou os olhos, e disse:
-Eu não acredito que este senhor vai levar por cinco cruzeiros este delicioso capão. Vejam. Ele disse cinco cruzeiros. Cinco cruzeiros. Quem dá mais? Quem dá mais?
Naquele instante, Sr. Miguel dava uma pausa, enquanto os ouvintes cochichavam uns com os outros. Aí, ele gritava:
-Tem um cidadão de camisa de seda azul. Eu não acredito que ele vai deixar sair o capão por cinco reais. É o nosso vereador da cidade de Cajati. Momento em que todos olharam para a o vereador, e este falou.
-E dou vinte cruzeiros.
Novamente, Sr. Miguel agitava, falando:
-Vinte cruzeiros é o preço que o vereador ofereceu pelo capão assado. E aí amigo cidadão, agora é a sua vez. Você vai deixar o vereador levar pra casa este capão assado por vinte cruzeiros? Vou chamar novamente. Quem dá mais que vinte cruzeiros? É vinte cruzeiros. Vinte cruzeiros pelo capão assado. Esperei... Não acredito que não vai aparecer alguém mais forte que o vereador. Vinte cruzeiros. É só vinte cruzeiros, vinte cruzeiros. Dou-lhe uma! E dou-lhe duas, dou-lhe....
Uma voz feminina balbuciou lá por trás, gritando.
-Hei! Eu dou vinte e cinco cruzeiros.
-Olha aí vereador. A senhora vai levar o seu capão assado por vinte e cinco cruzeiros, vinte e cinco cruzeiros. Ela está lhe enfrentando, quero ver como vai ficar. Vinte e cinco cruzeiros. Quem dá mais. É um bonito capão assado. Uma delícia de sabor. Vou vender por vinte e cinco cruzeiros. Quem da mais? Posso vender para a senhora de Jacupiranga? Olha! Eu tenho aqui vinte e cinco cruzeiros. Dou-lhe uma! Dou lhe...
O vereador percebendo o lance ofereceu por mais valor, ofertando.
-Dou quarenta cruzeiros.
Olha aí pessoal. Essa é boa demais. O nobre vereador vai mesmo levar o capão por apenas quarenta cruzeiros. Então... Dou-lhe uma! E dou-lhe duas! E dou-lhe..
Não terminou de falar quando outra voz de um senhor gritou.
-Eu dou quarenta e cinco cruzeiros no capão.
-E aí vereador. Este senhor veio de Cananéia pra arrematar o capão. Quarenta e cinco cruzeiros. Quarenta e cinco cruzeiros. Vamos lá vereador, não vais comer este capão assado? E então. Ninguém vai dá mais nenhum lance. Quarenta e cinco cruzeiros pelo capão. Alguém tem mais algum lance a fazer. Vou bater o martelo. Dou-lhe uma! E dou-lhe duas! E dou-lhe...
De tal modo que o vereador questionado entre os presentes, e a platéia que aplaudia, e se vendo sufocado, dera um lance final de noventa cruzeiros, o que contribuiu por excelência para a construção da Igrejinha de Santo Antonio, além dos outros pratos que foram durante à noite leiloados. E desta forma, as quermesses eram motivos de descontração, amizades e alegrias a todos os cajatienses como parte de uma cultura.
Passados os anos que sempre mostram as alterações, não tardou os esforços da família para que a filha do casal Maria do Carmo (a Carminha) fosse estudar em Curitiba no ano de 1980, com aproveitamento irradiou e engrandeceu a família cursando Assistente Social na PUC, e atualmente desempenhando brilhante trabalho como assistente social da Prefeitura de Curitiba.
Na mesma esteira, olhando as trilhas da irmã Carminha, o irmão mais velho não demorou a percorrer o mesmo trajeto, deixando a cidade de Cajati no ano de 1982. Com os olhos na saudade de parti, Joaquim já estava preparado para um novo destino ao perceber que seus pais se reportavam ao sucesso e crescimento educacional. Era preciso sacrificar os sentimentos familiares, era necessário deixar as lembranças ao lado dos irmãos menores em busca de uma luz que pudesse fazer o aumentativo com novas raízes do progresso. Se não bastasse, o coração do jovem rebatia apressadamente com os impulsos de gerar novas mudanças e transformações. Instantes em que sua mãe se aproximou, e disse-lhe:
-Joaquim, não demore. Apresse-se que o ônibus já vai sair.
Com tanto nervosismo, e um sorriso pequeno nos lábios, Joaquim abraçou os seus pais, irmãos e amigos. Momento em que dona Neif lhe disse com um olhar triste de despedida, porém, com o coração alegre.
-Meu filho, entregue este bilhete para a Carminha.
-Sim, mãe. Eu vou torcer por vocês e minha luta será incansável.
Do outro lado, o seu pai, senhor Miguel, relembrava ao jovem, dizendo.
-Cuidado meu filho e preste atenção nas coisas. Leve estes santinhos de Santo Antonio para lhe proteger. Ele será o seu maior guardião em todas as horas e em todos os momentos.
E no bilhete a ser entregue a irmã Carminha, guardado no bolso do juvenil Joaquim, estava escrito:
“De: Neif”
“Para: Carminha”
“Olha Carminha, não deu para mandar muita coisa, pois o Joaquim está indo carregado de coisas. Vê se arruma um lugar para ele ficar aí, que na próxima semana nós vamos visitar vocês.”
Se não bastassem as fortes lembranças da cidade, o festejo de Santo Antonio, padroeiro da bela cidade de Cajati, Joaquim olhava fervorosamente para os irmãos menores, com o pensamento forte de poder realizar algo de melhor nas mesmas circunstâncias em que seus pais sempre meditaram. E assim, Joaquim levou dentro do coração os prantos de uma despedida para Curitiba. Na capital curitibana, iniciou o curso de técnico em eletrotécnica no Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná - CEFET –PR, hoje, Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, sendo a primeira especializada do Brasil.
FINAL DO ANO DE 1982
Era madrugada do mês de dezembro ano de 1982, momento em que a senhora Neif, ouviu um barulho na cama, retorcendo e mudando de posições, instante em que acordou, indagando ao esposo.
-Miguel você está com insônia? Queres que eu vá fazer um chá?
Respondeu agradecendo, e passando a mão na cabeça, disse.
-Não será preciso Neif, obrigado.
Insatisfeita, a esposa averigua novamente.
-Em que você está pensando? Sinto você se remexendo de um lado para o outro.
Indagou conversando na cama, ocasião em que Miguel tenta se explicar.
-Não. Eu não tenho nada. Fique despreocupada. Sabe Neif, às vezes fico meditando nas coisas, nos negócios e no futuro de nossos filhos menores. Não há nada de outra coisa do que estas que já falei.
Insistiu a esposa, convidando-o.
-Dorme homem de Deus! Isso é pra pensar depois e só se resolve com calma. Agora vamos dormir. Deus estará sempre conosco e na proteção de nossos filhos. Durma que já é quase de manhã.
E com o silencio reinando na madrugada, Miguel agradece rogando proteção e logo asseverou.
-Sim. Beijos meu amor. E durma com Deus e peço a Santo Antonio que nos proteja.
Disse ela retribuindo a benção.
-Amém, e que sempre seja assim.
Numa tarde daquele mesmo ano, passados alguns dias, o casal sentado numa varanda da casa conversa sobre o futuro que ainda iria despontar entre as colinas verdes e cadeias de montanhas de Cajati. Sem arreios, as reflexões mapeiam como cortinas os momentos intranqüilos, revelando no cotidiano, as pequenas e singelas paisagens da existência. E nesta ocasião, Neilf olha com um ar de curiosidade passando os olhos no marido, imediato investiga.
-Em que você está pensando tanto?
Frisando a testa com a mão direita, Miguel responde.
-É somente nos negócios. Sinto-me muito apertado vendo essas crianças crescerem, e de repente sem nada poder fazer. Eu vou fazer todos os esforços para mudar este quadro, pois nossos filhos merecem uma educação melhor.
Conclui a esposa.
-Sabe Miguel, eu fico às vezes pensando muito no destino de um futuro melhor para os nossos filhos. Vejas a Carminha e o Joaquim já estão bem encaminhados em Curitiba. E na verdade, é preciso que façamos um esforço em conjunto para os filhos menores.
-Neif, às vezes, você se preocupa por eu está pensativo, mais é dessa maneira que permaneço, refletindo, refletindo as nossas esperanças. Essas crianças, a qualquer hora irão precisar de mais incentivos escolares, bons empregos e as oportunidades que a vida oferece.
Analisando os conceitos do esposo, Neif convida o marido.
-Eu vejo tudo isto querido. Que tal se fôssemos morar em Curitiba. E lá, podemos contar com a ajuda de meus irmãos.
-É um caso a pensar. Já que a Carminha e o Joaquim já estudam na capital paranaense, tudo se torna mais próximo.
-Pois saiba Miguel, o que você resolver conte comigo. Afinal de contas, eu nasci para ti, assim como tu nascestes para mim.
-Oh que romantismo que em embrulha no frio desse teu amor, Neif.
-Não acredito Miguel, que você já começou com as suas metáforas.
-É.... E então. Se uma gota descesse do alto da cachoeira, ainda que a lua faiscasse com seus brilhos, eu te amaria cada vez mais pela vida inteira.
-Ó que lindo meu amor. Que versos lindos! Cadê o meu acróstico que ias fazer com o meu nome.
-Você quer ouvir agora?
-Mais é claro.
Então, aí vai. Neif o seu acróstico.
Não existe mulher mais famosa,
Espelhando durante a minha vida,
Italiana e às vezes alemã no meu riso,
Felicitando o nosso amor com acolhida.
Alegre e muito satisfeita, Neif abraça Miguel com um beijo, e diz:
-Escreva pra mim para que o tempo não apague essas belas palavras.
-Neif, o tempo não apagará jamais as minhas palavras, assim como o vento que sopra não apagará as chamas que enaltece o nosso amor.
EMBARQUE PARA CURITIBA
Era o primeiro mês de janeiro do ano de 1983, a folhinha marcava o primeiro mês do ano no calendário Juliano e Gregoriano na sua composição de 31 dias depois, conversando com a esposa, Miguel afirma que já se encontra pronto para embarcar para Curitiba, assegurando, diz:
-Minha querida Neif! Que Santo Antonio nos proteja, mais já estou decidido. Nós viajaremos amanhã para Curitiba. Ainda pouco falei com meus irmãos, Helena, Celso, Madalena e Marta, e eles me deram maior apoio. Lá, eu posso começar a vida com o mesmo ramo que venho praticando aqui com a climatização de banana. Não é mesmo?
-Sim. E tudo poderá se arranjar com a graça de Deus. Meus irmãos também podem nos ajudar. Sei-o que é bom demais Miguel. Somente assim iremos para uma cidade onde podemos ofertar aos nossos filhos uma melhor qualidade de vida. Você nem imagina como os meninos ficarão felizes em pisar na “Cidade Sorriso”. Sinto-me orgulhosa de você.
-E tem mais, é ponto mais comercial dessa região, onde se pode investir no trabalho com fé. E tenho certeza que levo junto o nosso glorioso Santo Antonio. Mais confesso, enquanto eu existir, eu virei todos os anos cumprir as minhas promessas. Afinal de contas Neif é a cidade de Curitiba, o modelo do Brasil para quem desejar mudar e transformar o seu padrão de sonhos e realidades.
-É verdade. Principalmente que lá é a capital Ecológica do Brasil, e sabe, também é conhecida como “Capital das Araucárias”. A Carminha sempre fala de Curitiba como se tivesse nascido por lá. O que mais me chama atenção é o Parque Barigui com seus arranha-céus e o rio que mapeia a cidade com o verde. É lindo!
-Na verdade, Neif, Curitiba é referencial do Brasil por todos os seus ângulos. Uma nova vida eu vou lhe dá, uma nova transformação eu vou poder entregar aos seus olhos o quanto eu te amo, dando aos nossos filhos o melhor desse fruto amoroso.
-Eu rogo a Santo Antonio para que tudo possa transcorrer bem.
Presentemente, uns dois dias antes da viagem, Miguel Seabra procurou o padre Macário da Igreja de Antonio de Cajati, adiantando as conversas anteriores, e a preparação de uma trajetória que pudesse levar a um destino melhor. E ainda receoso, porém, com pensamento positivo, Miguel informou ao pároco que não possuía nenhum contato encravado na cidade de Curitiba, não sabendo este lidar com a situação. Prontamente, o vigário conhecidíssimo por toda a região do Vale da Ribeira, e se alegrando com as notícias de uma boa nova, fizera uma carta de apresentação, atribuindo que lhes seria muito útil enquanto estivessem em Curitiba.
Não demorou muito, a bagagem estava pronta, a família reunida e já se despediam dos amigos, parentes e vizinhos, e todos aclamavam com aceno de paz, alegria e felicidades. Porém, Camilo, ainda adentrou na casa, olhando os detalhes e a saudade que ficava nos olhos como que ali deixasse um adeus prolongado. E diante da sua demora, as pessoas o chamavam para que não perdesse o ônibus. Os irmãos menores bem vestidos, logo, podiam se ver que o pequeno Romeu, segurava um brinquedo, olhando com o ar de tristeza a distância que o afastava. Os irmãos de Miguel Seabra também compartilhavam dos minutos finais, abraçando os sobrinhos, cunhada e irmãos, rogando benção para que tudo desse certo.
Era uma viagem de suma importância para a família, inclusive, o irmão de Neif, que atende pelo nome de Nilton ao lado de sua esposa Mariinha com os três filhos compartilhava as mesmas aspirações que galopavam nos olhos esperançosos de cada. No entanto, naquele mês de janeiro, era um primórdio para recomeçarem novíssimos planejamentos com as atividades que bem conheciam e somadas as experiências no ramo do comercio, buscavam engajar entre si, uma sociedade nas terras paranaenses com atividades de climatização de bananas. Embora, com o conhecimento e aperfeiçoamento das técnicas eram detentores no mercado da região de Cajati.
No transcurso da viajem, o vento rebatia nas faces dos cajatienses, e para trás ficava quieta e mansa a pequena cidade de Cajati com as lembranças e toques de um adeus nas folhagens verdes e compridas. Podia se ver na imagem dos céus de Cajati, uma nuvem escura outrora branca, reluzindo na direção daquela família. Não tenho a certeza, mas, posso deferir que era a imagem de Santo Antonio que lhes cobriam de alegrias, sonhos e tanta fé. E logo, a esperança rebatia com firmeza em conhecer a nova terra, a nova morada, os novos sonhos e os frutos de uma imaginação que passava todos os dias. E por todos aqueles instantes, uma personagem importante não poderia ficar fora do cenário artístico, era Elmo que um pouco nervoso com os solavancos da viagem, nada entendia, pois, o cão apenas acompanhava com o olfato.
E sendo assim, com a chegada da família cajatiense em 1983, na cidade das Araucárias, era de se esperar a nova convivência mergulhada nos princípios da fé e amor que banha as auréolas de um caminho. De imediato, logo, Miguel e o irmão de Neif chamado Nilton, pleitearam uma sociedade. Advindo que as experiências adquiridas em Cajati eram suficientes para montarem um grande negócio numa área fértil com o cultivo de bananas em estufas. Foi ali mesmo em Curitiba, no bairro Parque São Lourenço em frente ao colégio Marista em que efetivaram com o suor derramado nas faces, a implantação da climatização de bananas. E neste local apreciado pela população e visitantes, era o lugar ideal para eles comercializarem, reunindo a compreensão e os esforços conjuntos em busca do sucesso.
NO PARQUE SÃO LOURENÇO - CURITUBA
Diante daquele bairro espetacular, se destaca atualmente a casa do artista Erbo Stenzel com a exposição de seus trabalhos. Sem se falar do Centro de Criatividade de Curitiba, onde reúne uma mega de informações com uma biblioteca, auditório e outros detalhes, vez que a antiga fábrica de cola, ainda mantém viva no local as máquinas e caldeiras como esculturas que abrem o tempo nas velhas lembranças. De tudo pode se ver no Parque São Lourenço com as criatividades e a benevolência do povo curitibano. Há também como palco asseverativo da cultura como a implantação do Liceu de Artes, visando estruturar, treinar e normatizar no mercado de trabalho jovens aprendizes.
Eis aí o Parque São Lourenço com as suas histórias infindáveis, que no ano de 1970, fora tragado por uma grande enchente e que fizera o rio Belém transbordar, provocando tremendas inundações com o rompimento da represa São Lourenço. Haja vista, que o rompimento da represa e as cheias foram capazes de paralisar o curtume e a fabrica de cola da época localizado às suas margens, daí nasceu a utilidade de suas instalações nos moldes da cultura paranaense que hoje se apresenta. E com este parque verde, sinalizando a velha fábrica com a chaminé que invade as alturas e levemente visionada à distância pelos tijolos encravados. Entretanto, é ali mesmo no bairro São Lourenço, com endereço certo e imperdível na Rua Mateus Leme e esquina com a Rua Nilo Brandão, o parque verde da cidade, traçando a cultura, o esporte, as exposições, além da linda floresta de araucárias por todo o seu formidável recanto. Destacando-se a flora, a fauna e diversos equipamentos a disposições dos interessados.
Continua na parte 02
Ao amigo Joaquim e família
É nos porões da majestade em que a luz do empíreo se fez relampejar. E bem acolá, germinou naquele município sulista do Estado de São Paulo, a fiel Cajati, repleta de regozijos nos braços de sua afabilidade, onde o índio Botujuru e o português Matias de Pontes, naufragaram nos moldes de uma conquista no auriverde dos olhos da menina da região do Vale do Ribeira. Vêem-se montanhas e carretéis de morros e montes na circunferência de um elo basilar rodeado de terras férteis. É neste elenco que o português Matias de Pontes cruzou com o indígena forte laços de amizade na procura do ouro, abrindo na vegetação fechada, as fendas de uma futurista organização territorial, bravura que se estendia sem limites, perdidos nos matagais, abriam picadas intermináveis no silencio dos seus sonhos, desdobrando novos horizontes entre os vales da certeza de um novo amanhecer. Com o companheirismo guiado nas proporções do coração, eles foram os primeiros e únicos homens a atravessarem o Vale da Ribeira entre vales e serras, desfrutando dos mais longínquos conhecimentos naquela aventurada atração. Assim, desciam e subiam rios ao norte e sul e sudoeste como o rio Japupiranguinha, rio Guaraú, rio Faxinal, rio Turvo entre outros.
Não havia obstáculos ou chuvas de empecilhos capazes de brecarem as ambições que se erigiam nas amêndoas dos olhos destes nobres guerreiros quando o significado presente é, talvez, uma onda marítima, renovando nas pálpebras os anseios de uma descoberta. Nem mesmo as frustrações ocasionadas pelo tempo, seriam capazes de se tornarem nebulosas nas aspirações de seus destinos. Nem mesmo os estreitos rios com suas águas nas imensidões da obscuridade, eram capazes de amedrontar o ímpeto de suas coragens. Nada, nada impedia os passos arrojados na abertura dos vínculos para uma próspera geração. Entre noites, às vezes iluminada pela solitária lua, os olhares inclinados na direção de grandes árvores, alicerçavam as imaginações dos procedimentos como enfrentar a travessia dos rios, e no dia seguinte, cortaram-na e lavraram a madeira na construção de uma canoa que proporcionou a chaminé de uma longa e duradoura viagem com sucessos.
Eram dois homens, dois pensamentos, dois brasões e duas uniões que firmaram um oceano de alegrias e tristezas nas latitudes e longitudes de uma construção e conquista de seus sonhos, edificando pelos traços geográficos a bela cidade de Cajati. Porém, certo dia, e naquela oportunidade crespa de matas fechadas, concorrendo com os ferozes animais, um minúsculo inseto picou o índio Botujuru, tendo adquirido paludismo, propriamente dita malária, causada pelo mosquito Anopheles. Não passou muito tempo, Botujuru, reclamava ao companheiro de dores de cabeça, febre, náuseas e muita fadiga. Sem compreender, Matias de Pontes, medicava-o com erva medicinal, porém, à noite, o calafrio e o delírio tornavam-se medonho pelo corpo de Botujuru, que gemia e se contorcia enrolado numa capa ao lado de um pé de Canela Batalha de aproximadamente uns vinte metros de altura (Cajati). Matias, armando uma tenda debaixo daquele sombreamento refletido pelos feixes de luzes lunares, observava sem entender as causas que martirizava o amigo e companheiro. Após deitar o amigo e companheiro Botujuru numa cama improvisada, este, repassava um pano molhado de água quente em sua face que derramava suor frio.
Instantes, com a voz ainda tremula, Botujuru dizia para o companheiro seguir a estrada do sol nascente entre os vales e serras das árvores de folhas compridas. E que somente assim poderia ofertar com os seus frutos a todos os animais o alimento na qual os deuses havia lhe reservado. E naquele momento, Matias abraçou o índio tentando afagar as dores, suplicando para que o mesmo não o deixasse desamparado. Ainda, com poucas palavras, o índio gemeu por alguns instantes, e dissera a Matias para seguir o desfiladeiro sem medo e que a coragem que bate nos olhos de um homem, serão sempre as luzes de sua própria verdade. Soluçando entre as palavras, Botujuru pediu ao amigo para que enfeitasse o seu corpo com os estandartes de um guerreiro da paz e que não se esquecesse de adornar com o colar das penas do jacu-vermelho o pescoço, além do arco e flechas. Matias saltou os olhos no índio aventureiro, alegando para o mesmo não partir, porém, as pálpebras já haviam se deslizado sobre as pupilas, e o corpo já não se movia com o calafrio. Muito nervoso e sem saber o que fazer, enquanto a noite já se escondia sem o clarão da lua no meio do matagal, Matias chorava sem consolo, e suas lágrimas respingavam pelo solo como pingos de chuvas em forma de ouro.
Era um verdadeiro tormento e sem condições de encontrar o consolo do amigo já sem forças que partia levemente. Logo, uma brisa suave assoprava naquela ocasião. Matias gritava mato adentro sem ser ouvido nas lamentações, agoniava-se com o amigo nos braços, e ali mesmo, atendeu ao pedido do índio Botujuru, entregando a preciosidade abstrata da alma do homem indígena aos deuses que já aguardavam com um aguerrido batalhão de sentinelas nas copas das árvores de folhas compridas (Canela Batalha).
Cumprindo, sozinho a missão, Matias desceu na canoa com o silencio travado nos panoramas através dos ribeirinhos com a única lembrança guardada nos vastos lençóis da mente e dos olhos, os ensinamentos da liberdade e captações sem qualquer pedaço de ouro. Entretanto, levava consigo o maior medalhão de todas as minas ouríferas do mundo, o amor e a amizade que entrelaçavam o índio tupi Botujuru e o jovem português Matias de Pontes.
Passou-se muito tempo, e Matias de Pontes continuou suas lutas e aventuras. Com a alma latejante do índio Botujuru que em sonhos conduzia as grandes descobertas e nomes dos lugares avistados com seus homens e desbravadores, nascendo entre todas as matas do Vale da Ribeira, o nome Cachoeira, e mais tarde, atual Cajati, que assentou numa árvore no solo, a árvores de folhas largas – Cajati, nascendo daí o seu nome, a menina dos olhos do Vale da Ribeira. Desenhando o perfil desta homenageada cidade, está localizada a 230 quilômetros de São Paulo, bem como suas atividades em que permeiam os agronegócios, auspiciando em sua trajetória de desenvolvimento socioeconômico o pódio como a terceira maior produtora de banana nanica da região, sem falar do extrativismo mineral que se alarga no maiúsculo Parque industrial do Parque da Ribeira. É neste ponto produtivo em que germina as maiores jazidas de minérios, produção de cimento, argamassa, ácido sulfúrico e fosfórico.
Assim é Cajati erguida nas árvores de folhas largas no relevo de montanhas, vales e rios com locais belos e ainda bem preservados, despontando em cada clarão os pontos turísticos da cidade com suas belezas naturais. É ali que realça com a magia histórica da Trilha da Serra do Azeite derramando o fulgor inesgotável da cachoeira de águas límpidas que escorrem no destino e sangue de cada cajatiense. E nesta exuberância, que se desdobram por todos os cantos da cidade os novíssimos talentos da música aos sopros melódicos da Banda Municipal de Cajati com digníssimas apresentações nas festividades, tendo como relevância a festividade do padroeiro da cidade – Santo Antonio que ocorre durante vários anos.
A cultura sempre esteve presente nos corações dos seus habitantes e visitantes que por aí, aspiram a tranqüilidade e o banho do prazeroso da paz. Com o som executado de uma seleção variada de músicas, a bandinha cajatiense está sempre presente nos coretos da cidade com os aplausos harmônicos de um povo de conquistas.
Nos trilhos construídos pelos ingleses na rota dos minérios, deixaram marcada a nova Estação da linha que sempre empolgou o progresso através da Fepasa, cujo local, Cajati mostrou que suas grandes industrias de fertilizantes, que são também as pérolas que fazem a riqueza se ostentar nos padrões, apesar de pequenina a estação, era o ponto primordial das manobras dos velhos cargueiros com ponto final na fábrica serrana, mesmo estabelecida nos arredores da cidade, ainda relampeja o seu enfraquecimento com as dores de que o progresso as esqueceu. É como tudo que é doce, alguém sempre abusa por outros métodos mais rentáveis o que lhes trouxera mais lucros, as linhas paralelas que adormecem nas veias de quem assistiu e acompanhou as janelas arregaçadas do desenvolvimento naquele Parque Industrial instalado em vários complexos de puríssimo extrativismo. De fato, geraram riquezas, divisas e amizades, e que não se podem olvidar, além dos empregos diretos e indiretos. Tal avença alimentou o Brasil por vários anos na corrida de instalação de várias indústrias na exploração das riquezas.
Neste desenho cultural, Cajati esta repleta de comemorações que marcam os ensaios das alegrias e festividades, aflorando no mês de março, o encontro de Corais de Cajati e demais Corais do Vale da Ribeira. É sem quaisquer sombras de dúvidas, que vislumbra nas comemorações de Páscoa, o portal de cultura nas apresentações de um povo unido, ladeado pelo charmoso Concerto da Banda Municipal de Cajati invadindo com emoções tocando as músicas: chuva de prata, samba do avião e clássicos como as músicas de Ray Conniff, grupo de danças, o magnífico Coral Municipal de Cajati, além das paixões dos Cameratas de Violões. Tal cultura onde músicos se encontram e batizam no elo melódico os deleites de tocarem, divulgando novos intelectuais, artistas, compositores na universidade da arte e cultura cajatiense em que várias acepções de festas modernizam e congratulam durante o ano todo. Enfatiza que no mês de setembro, além das comemorações cívicas, ocorre também o festival de derivados de banana de Cajati e toda a região.
Desse modo, veste-se ainda a bela cidade no mês de maio com a festa de Peão de Boiadeiro, traduzindo nas festividades populares, onde a arena proporciona aos artistas de montaria e a população, efervescente rios de risos e cachoeiras de aplausos. Porém, é, no mês de junho em que a cidade mergulha na religiosidade plena, oportunidade em que as comemorações da cidade ficam repletas de fieis, convidados, amigos, turistas e o povo em geral, com tanto entusiasmo ao padroeiro da Cajati, Santo Antonio.
É neste município onde gira o seu gigantesco galardão de belezas numa das mais panorâmicas instâncias do Vale da Ribeira, imergindo nas primícias de sua vastíssima matas, trilhando pelos férteis caminhos tem-se a Barra do Azeite e o Salto do Guaraú. Germinando por todos os lados elevações. As cavernas, a cachoeira que se estende pelo bairro Capelinha e do Rio Bananal. Sem desfazer que neste reduto, Lamarca, o nosso guerrilheiro brasileiro, marcado pelas mãos do governo, subia com uma bandeira verde e amarela. Ali, ventilava o sangue vivo do nosso Brasil, os sonhos de um dia poder entregar aos brasileiros a libertação, afogando no fundo das depressões, a opressão e sujeira que sempre lastreou a dignidade humana. Em Cajati, o capitão Lamarca demarcou o seu território como base militar no bairro da Capelinha, tentando acender as luzes para uma nova América do Sul onde se ergue o Brasil.
Todavia, não há outra lanterna da natureza tão eficaz, onde se pode observar a abóbada celestial da Torre do Guaraú que ventila a maior abertura de toda a cidade. Era ali na Avenida Fernando Costa que nascia e crescia o seu primeiro cartório de Cajati, tendo o seu primeiro cartório, renomado na figura de Joaquim Seabra de Oliveira. Um dos elementares e mais arrojado da cidade naquela época em levar o desenvolvimento. Com seus préstimos e bondade, foi o primeiro homem a construir e fundar a Igrejinha de Santo Antonio na cidade, sem se falar que os seus esforços se perpetuaram por toda a cidade. Assim, o seu labor se perpetuou por toda a cidade de Cajati, levando em sua homenagem a Rua Joaquim Seabra de Oliveira cujo modernismo apagou dando lugar a outros estabelecimentos.
É ainda nesta abençoada rua em que os familiares da família Miguel Seabra vislumbrou por muitos anos as doçuras e alegrias. Cuja rua que leva o nome de Joaquim Seabra de Oliveira, é nesta rua onde se estabelece a Casa São José (Pastoral da Criança) no centro com o nº 508, sob os cuidados da irmã Maria Akino, a Floricultura Agrolita, a Auto Escola Nina, além de outros organismos que fazem a lembrança viva do primeiro notarial da cidade como o ginásio de Esportes e a Sociedade Amigos de Cajati que por Decreto nº 1791, assinado no Palácio dos Bandeirantes em 1981, pelo governador Paulo Salim Maluf na qual recebeu em comodato o prédio da Sociedade dos Amigos de Cajati para abrigar naquele local o Subdestacamento da Policia Militar do Estado de São Paulo naquele distrito. Como também permanece ainda em alguns pontos da cidade, vestígios do século XIX, em que vários colonizadores de várias nacionalidades depositaram o manto sagrado da fé, do trabalho derramado em gotas de suor e da prosperidade como: portugueses, italianos e alemães.
Num certo dia, na década de 70, um jovem descendente de português, chamado Miguel Seabra de Oliveira Neto, jovem cidadão eldoradense da cidade de Eldorado, também conhecida como Xiririca (água correntes em Tupi guarani) deixava nos abraços da grande cidade de São Paulo, o conceituado cargo de militar de cavalaria montada, assim como já havia exercido também a profissão de guarda florestal. E, partiu, levando consigo as reservas acumuladas durante anos de prestação de serviços à pátria. No simbolismo de tantas esperanças, o juvenil Miguel com tenacidade e bravura, rasgou o Vale da Ribeira arrastando de dentro do coração as mais céleres paixões e expectativas em alcançar as chamas de uma conquista numa terra nova. Nestes encalços em que a magia do pensamento se reflete nos algarismos dos tempos com a perseverança, a coragem e o amor, recobriam o jovem que mantinha como meta, construir nos pilares da imaginação, a realização do descobrimento, ampliando na visão com projetos de se instalar na cidade de Cajati.
O jovem Miguel Seabra era persistente, mantendo-se no limiar, à espera em que os minutos atravessavam as horas, demarcando a rotação global, este, não se limitava em prestar ajuda aos amigos e desconhecidos que o procuravam.
Sem dobrar as pernas, Miguel conseguiu patentear naquela época, e atualmente um grande círculo de amizade e consideração, até que chegou a ocasião em que conheceu a jovem Maria Neif Carravierie de Oliveira, natural de Jacupiranga, residindo na Fazenda Santa Adélia com elegância e tantos encantos principiaram o festejado namoro entre os dois. Ressalta-se que Miguel ainda militar, ao visitar a namorada na fazenda, este escondia a farda por trás da palmeira que ficava logo ao se aproximar da residência, trocando em seguida por outra roupa, cujo fato fora por várias vezes noticiadas pelos vizinhos.
E foi na cidade de árvore de folhas compridas - Cajati, em que o homem, de cor branca, de sorriso fácil, temperamento extraordinário, apresentando nos lábios o retrato da felicidade, nos olhos a prática da fé, nas palavras e frases o sulco do amor. Era ali mesmo, o desenho geográfico das aspirações do ex militar na terra do Bojuturu e Matias Lopes, entre as corredeiras à vista, e a suntuosa cachoeira.
E não houve tempo, não restou nenhum momento para que o sol se escondesse por trás da Serra do Guaraú, alicerçando entre os dois o grande enlace afetivo de amor. Entretanto, abriu-se assim, a união que se estendeu por toda a margem do rio Jacupiranguinha, redesenhando os impulsos longos do afeto nas raízes da majestosa harmonia entre Miguel e Neif.
Ladeando esta adesão, Miguel Seabra e Neif Carravierie juntaram-se no esforço da vida natural e mergulhado nas asas do sentimento amorável do casamento, surgiu quadro eletivo e efetivo de manter nesse espectro, a realização dos sonhos do casal, advindo da união os seguintes filhos: Maria do Carmo de Oliveira, também chamada por Carminha, Joaquim de Oliveira Neto, Maria Alice Camila de Oliveira (in memorian); Camilo de Lelis de Oliveira; Romeu Carravierie de Oliveira. Foi assim, que o poeta e versador Miguel Seabra construiu um poema num quinteto de filhos. Abrindo sempre um sorriso, Miguel não se distanciava de fazer acrósticos com os nomes das pessoas, além de pronunciar em suas construções literárias o emprego de metáforas e sempre dizendo parábolas assertivas da vida, pois, estava sempre de bom humor. Com o seu jeito elegante, educado e gentilmente alegre, costumava falar sempre às pessoas com quem diálogo expressão: “Com muita Fé, Esperança e Amor”. Em tudo se resumia num lema que se irradia nas questões do cotidiano.
Passados alguns anos, em 1978, o casal presta relevantes serviços à comunidade local. Chegara a hora de ajudar a construir a nova Igreja de Santo Antonio, empreendendo toda a família na elaboração com os amigos, parentes e vizinhos, efervescente empreitada na consolidação da igreja da matriz, sobressaindo a campanha do tijolo e quermesse, onde se podia avistar as barracas com comidas típicas como: milho verde cozido, salsicha, espetinhos assados, pamonha, bolinhos caipira dentre outros. A alegria invadia as noites, crianças e jovens degustando os pasteis , cachorro quente, pipoca, quentão, outros nos bingos, rapazes e moças que desciam e subiam repassando por várias vezes no mesmo local, apreciando as verduras da noite ao lado da igreja
Podia-se observar os gritos do senhor Miguel realizando o leilão com a mesa ao lado repleta de assados e bolos e outros pratos da gastronomia cajatiense feito pela dona Neif esposa do leiloeiro Miguel que ajudava na cozinha, enquanto que este lançava os gritos a voz perante a multidão, dizendo:
-E então, minha gente. Vai começar o leilão. Senhoras e senhores! Queiram por gentileza se aproximarem da mesa. Vejam que nesta noite há variados pratos com delícia. E digo mais no capricho. Alguém vai levar este saboroso capão assado. Está cheirando. Humm! Vamos gente! E já me dá fome olhando pra este capão. Alguém se atreve a dá mais que dois cruzeiros.
Uma voz entre a multidão falou:
-Dou cinco cruzeiros.
O senhor Miguel passou os olhos, e disse:
-Eu não acredito que este senhor vai levar por cinco cruzeiros este delicioso capão. Vejam. Ele disse cinco cruzeiros. Cinco cruzeiros. Quem dá mais? Quem dá mais?
Naquele instante, Sr. Miguel dava uma pausa, enquanto os ouvintes cochichavam uns com os outros. Aí, ele gritava:
-Tem um cidadão de camisa de seda azul. Eu não acredito que ele vai deixar sair o capão por cinco reais. É o nosso vereador da cidade de Cajati. Momento em que todos olharam para a o vereador, e este falou.
-E dou vinte cruzeiros.
Novamente, Sr. Miguel agitava, falando:
-Vinte cruzeiros é o preço que o vereador ofereceu pelo capão assado. E aí amigo cidadão, agora é a sua vez. Você vai deixar o vereador levar pra casa este capão assado por vinte cruzeiros? Vou chamar novamente. Quem dá mais que vinte cruzeiros? É vinte cruzeiros. Vinte cruzeiros pelo capão assado. Esperei... Não acredito que não vai aparecer alguém mais forte que o vereador. Vinte cruzeiros. É só vinte cruzeiros, vinte cruzeiros. Dou-lhe uma! E dou-lhe duas, dou-lhe....
Uma voz feminina balbuciou lá por trás, gritando.
-Hei! Eu dou vinte e cinco cruzeiros.
-Olha aí vereador. A senhora vai levar o seu capão assado por vinte e cinco cruzeiros, vinte e cinco cruzeiros. Ela está lhe enfrentando, quero ver como vai ficar. Vinte e cinco cruzeiros. Quem dá mais. É um bonito capão assado. Uma delícia de sabor. Vou vender por vinte e cinco cruzeiros. Quem da mais? Posso vender para a senhora de Jacupiranga? Olha! Eu tenho aqui vinte e cinco cruzeiros. Dou-lhe uma! Dou lhe...
O vereador percebendo o lance ofereceu por mais valor, ofertando.
-Dou quarenta cruzeiros.
Olha aí pessoal. Essa é boa demais. O nobre vereador vai mesmo levar o capão por apenas quarenta cruzeiros. Então... Dou-lhe uma! E dou-lhe duas! E dou-lhe..
Não terminou de falar quando outra voz de um senhor gritou.
-Eu dou quarenta e cinco cruzeiros no capão.
-E aí vereador. Este senhor veio de Cananéia pra arrematar o capão. Quarenta e cinco cruzeiros. Quarenta e cinco cruzeiros. Vamos lá vereador, não vais comer este capão assado? E então. Ninguém vai dá mais nenhum lance. Quarenta e cinco cruzeiros pelo capão. Alguém tem mais algum lance a fazer. Vou bater o martelo. Dou-lhe uma! E dou-lhe duas! E dou-lhe...
De tal modo que o vereador questionado entre os presentes, e a platéia que aplaudia, e se vendo sufocado, dera um lance final de noventa cruzeiros, o que contribuiu por excelência para a construção da Igrejinha de Santo Antonio, além dos outros pratos que foram durante à noite leiloados. E desta forma, as quermesses eram motivos de descontração, amizades e alegrias a todos os cajatienses como parte de uma cultura.
Passados os anos que sempre mostram as alterações, não tardou os esforços da família para que a filha do casal Maria do Carmo (a Carminha) fosse estudar em Curitiba no ano de 1980, com aproveitamento irradiou e engrandeceu a família cursando Assistente Social na PUC, e atualmente desempenhando brilhante trabalho como assistente social da Prefeitura de Curitiba.
Na mesma esteira, olhando as trilhas da irmã Carminha, o irmão mais velho não demorou a percorrer o mesmo trajeto, deixando a cidade de Cajati no ano de 1982. Com os olhos na saudade de parti, Joaquim já estava preparado para um novo destino ao perceber que seus pais se reportavam ao sucesso e crescimento educacional. Era preciso sacrificar os sentimentos familiares, era necessário deixar as lembranças ao lado dos irmãos menores em busca de uma luz que pudesse fazer o aumentativo com novas raízes do progresso. Se não bastasse, o coração do jovem rebatia apressadamente com os impulsos de gerar novas mudanças e transformações. Instantes em que sua mãe se aproximou, e disse-lhe:
-Joaquim, não demore. Apresse-se que o ônibus já vai sair.
Com tanto nervosismo, e um sorriso pequeno nos lábios, Joaquim abraçou os seus pais, irmãos e amigos. Momento em que dona Neif lhe disse com um olhar triste de despedida, porém, com o coração alegre.
-Meu filho, entregue este bilhete para a Carminha.
-Sim, mãe. Eu vou torcer por vocês e minha luta será incansável.
Do outro lado, o seu pai, senhor Miguel, relembrava ao jovem, dizendo.
-Cuidado meu filho e preste atenção nas coisas. Leve estes santinhos de Santo Antonio para lhe proteger. Ele será o seu maior guardião em todas as horas e em todos os momentos.
E no bilhete a ser entregue a irmã Carminha, guardado no bolso do juvenil Joaquim, estava escrito:
“De: Neif”
“Para: Carminha”
“Olha Carminha, não deu para mandar muita coisa, pois o Joaquim está indo carregado de coisas. Vê se arruma um lugar para ele ficar aí, que na próxima semana nós vamos visitar vocês.”
Se não bastassem as fortes lembranças da cidade, o festejo de Santo Antonio, padroeiro da bela cidade de Cajati, Joaquim olhava fervorosamente para os irmãos menores, com o pensamento forte de poder realizar algo de melhor nas mesmas circunstâncias em que seus pais sempre meditaram. E assim, Joaquim levou dentro do coração os prantos de uma despedida para Curitiba. Na capital curitibana, iniciou o curso de técnico em eletrotécnica no Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná - CEFET –PR, hoje, Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, sendo a primeira especializada do Brasil.
FINAL DO ANO DE 1982
Era madrugada do mês de dezembro ano de 1982, momento em que a senhora Neif, ouviu um barulho na cama, retorcendo e mudando de posições, instante em que acordou, indagando ao esposo.
-Miguel você está com insônia? Queres que eu vá fazer um chá?
Respondeu agradecendo, e passando a mão na cabeça, disse.
-Não será preciso Neif, obrigado.
Insatisfeita, a esposa averigua novamente.
-Em que você está pensando? Sinto você se remexendo de um lado para o outro.
Indagou conversando na cama, ocasião em que Miguel tenta se explicar.
-Não. Eu não tenho nada. Fique despreocupada. Sabe Neif, às vezes fico meditando nas coisas, nos negócios e no futuro de nossos filhos menores. Não há nada de outra coisa do que estas que já falei.
Insistiu a esposa, convidando-o.
-Dorme homem de Deus! Isso é pra pensar depois e só se resolve com calma. Agora vamos dormir. Deus estará sempre conosco e na proteção de nossos filhos. Durma que já é quase de manhã.
E com o silencio reinando na madrugada, Miguel agradece rogando proteção e logo asseverou.
-Sim. Beijos meu amor. E durma com Deus e peço a Santo Antonio que nos proteja.
Disse ela retribuindo a benção.
-Amém, e que sempre seja assim.
Numa tarde daquele mesmo ano, passados alguns dias, o casal sentado numa varanda da casa conversa sobre o futuro que ainda iria despontar entre as colinas verdes e cadeias de montanhas de Cajati. Sem arreios, as reflexões mapeiam como cortinas os momentos intranqüilos, revelando no cotidiano, as pequenas e singelas paisagens da existência. E nesta ocasião, Neilf olha com um ar de curiosidade passando os olhos no marido, imediato investiga.
-Em que você está pensando tanto?
Frisando a testa com a mão direita, Miguel responde.
-É somente nos negócios. Sinto-me muito apertado vendo essas crianças crescerem, e de repente sem nada poder fazer. Eu vou fazer todos os esforços para mudar este quadro, pois nossos filhos merecem uma educação melhor.
Conclui a esposa.
-Sabe Miguel, eu fico às vezes pensando muito no destino de um futuro melhor para os nossos filhos. Vejas a Carminha e o Joaquim já estão bem encaminhados em Curitiba. E na verdade, é preciso que façamos um esforço em conjunto para os filhos menores.
-Neif, às vezes, você se preocupa por eu está pensativo, mais é dessa maneira que permaneço, refletindo, refletindo as nossas esperanças. Essas crianças, a qualquer hora irão precisar de mais incentivos escolares, bons empregos e as oportunidades que a vida oferece.
Analisando os conceitos do esposo, Neif convida o marido.
-Eu vejo tudo isto querido. Que tal se fôssemos morar em Curitiba. E lá, podemos contar com a ajuda de meus irmãos.
-É um caso a pensar. Já que a Carminha e o Joaquim já estudam na capital paranaense, tudo se torna mais próximo.
-Pois saiba Miguel, o que você resolver conte comigo. Afinal de contas, eu nasci para ti, assim como tu nascestes para mim.
-Oh que romantismo que em embrulha no frio desse teu amor, Neif.
-Não acredito Miguel, que você já começou com as suas metáforas.
-É.... E então. Se uma gota descesse do alto da cachoeira, ainda que a lua faiscasse com seus brilhos, eu te amaria cada vez mais pela vida inteira.
-Ó que lindo meu amor. Que versos lindos! Cadê o meu acróstico que ias fazer com o meu nome.
-Você quer ouvir agora?
-Mais é claro.
Então, aí vai. Neif o seu acróstico.
Não existe mulher mais famosa,
Espelhando durante a minha vida,
Italiana e às vezes alemã no meu riso,
Felicitando o nosso amor com acolhida.
Alegre e muito satisfeita, Neif abraça Miguel com um beijo, e diz:
-Escreva pra mim para que o tempo não apague essas belas palavras.
-Neif, o tempo não apagará jamais as minhas palavras, assim como o vento que sopra não apagará as chamas que enaltece o nosso amor.
EMBARQUE PARA CURITIBA
Era o primeiro mês de janeiro do ano de 1983, a folhinha marcava o primeiro mês do ano no calendário Juliano e Gregoriano na sua composição de 31 dias depois, conversando com a esposa, Miguel afirma que já se encontra pronto para embarcar para Curitiba, assegurando, diz:
-Minha querida Neif! Que Santo Antonio nos proteja, mais já estou decidido. Nós viajaremos amanhã para Curitiba. Ainda pouco falei com meus irmãos, Helena, Celso, Madalena e Marta, e eles me deram maior apoio. Lá, eu posso começar a vida com o mesmo ramo que venho praticando aqui com a climatização de banana. Não é mesmo?
-Sim. E tudo poderá se arranjar com a graça de Deus. Meus irmãos também podem nos ajudar. Sei-o que é bom demais Miguel. Somente assim iremos para uma cidade onde podemos ofertar aos nossos filhos uma melhor qualidade de vida. Você nem imagina como os meninos ficarão felizes em pisar na “Cidade Sorriso”. Sinto-me orgulhosa de você.
-E tem mais, é ponto mais comercial dessa região, onde se pode investir no trabalho com fé. E tenho certeza que levo junto o nosso glorioso Santo Antonio. Mais confesso, enquanto eu existir, eu virei todos os anos cumprir as minhas promessas. Afinal de contas Neif é a cidade de Curitiba, o modelo do Brasil para quem desejar mudar e transformar o seu padrão de sonhos e realidades.
-É verdade. Principalmente que lá é a capital Ecológica do Brasil, e sabe, também é conhecida como “Capital das Araucárias”. A Carminha sempre fala de Curitiba como se tivesse nascido por lá. O que mais me chama atenção é o Parque Barigui com seus arranha-céus e o rio que mapeia a cidade com o verde. É lindo!
-Na verdade, Neif, Curitiba é referencial do Brasil por todos os seus ângulos. Uma nova vida eu vou lhe dá, uma nova transformação eu vou poder entregar aos seus olhos o quanto eu te amo, dando aos nossos filhos o melhor desse fruto amoroso.
-Eu rogo a Santo Antonio para que tudo possa transcorrer bem.
Presentemente, uns dois dias antes da viagem, Miguel Seabra procurou o padre Macário da Igreja de Antonio de Cajati, adiantando as conversas anteriores, e a preparação de uma trajetória que pudesse levar a um destino melhor. E ainda receoso, porém, com pensamento positivo, Miguel informou ao pároco que não possuía nenhum contato encravado na cidade de Curitiba, não sabendo este lidar com a situação. Prontamente, o vigário conhecidíssimo por toda a região do Vale da Ribeira, e se alegrando com as notícias de uma boa nova, fizera uma carta de apresentação, atribuindo que lhes seria muito útil enquanto estivessem em Curitiba.
Não demorou muito, a bagagem estava pronta, a família reunida e já se despediam dos amigos, parentes e vizinhos, e todos aclamavam com aceno de paz, alegria e felicidades. Porém, Camilo, ainda adentrou na casa, olhando os detalhes e a saudade que ficava nos olhos como que ali deixasse um adeus prolongado. E diante da sua demora, as pessoas o chamavam para que não perdesse o ônibus. Os irmãos menores bem vestidos, logo, podiam se ver que o pequeno Romeu, segurava um brinquedo, olhando com o ar de tristeza a distância que o afastava. Os irmãos de Miguel Seabra também compartilhavam dos minutos finais, abraçando os sobrinhos, cunhada e irmãos, rogando benção para que tudo desse certo.
Era uma viagem de suma importância para a família, inclusive, o irmão de Neif, que atende pelo nome de Nilton ao lado de sua esposa Mariinha com os três filhos compartilhava as mesmas aspirações que galopavam nos olhos esperançosos de cada. No entanto, naquele mês de janeiro, era um primórdio para recomeçarem novíssimos planejamentos com as atividades que bem conheciam e somadas as experiências no ramo do comercio, buscavam engajar entre si, uma sociedade nas terras paranaenses com atividades de climatização de bananas. Embora, com o conhecimento e aperfeiçoamento das técnicas eram detentores no mercado da região de Cajati.
No transcurso da viajem, o vento rebatia nas faces dos cajatienses, e para trás ficava quieta e mansa a pequena cidade de Cajati com as lembranças e toques de um adeus nas folhagens verdes e compridas. Podia se ver na imagem dos céus de Cajati, uma nuvem escura outrora branca, reluzindo na direção daquela família. Não tenho a certeza, mas, posso deferir que era a imagem de Santo Antonio que lhes cobriam de alegrias, sonhos e tanta fé. E logo, a esperança rebatia com firmeza em conhecer a nova terra, a nova morada, os novos sonhos e os frutos de uma imaginação que passava todos os dias. E por todos aqueles instantes, uma personagem importante não poderia ficar fora do cenário artístico, era Elmo que um pouco nervoso com os solavancos da viagem, nada entendia, pois, o cão apenas acompanhava com o olfato.
E sendo assim, com a chegada da família cajatiense em 1983, na cidade das Araucárias, era de se esperar a nova convivência mergulhada nos princípios da fé e amor que banha as auréolas de um caminho. De imediato, logo, Miguel e o irmão de Neif chamado Nilton, pleitearam uma sociedade. Advindo que as experiências adquiridas em Cajati eram suficientes para montarem um grande negócio numa área fértil com o cultivo de bananas em estufas. Foi ali mesmo em Curitiba, no bairro Parque São Lourenço em frente ao colégio Marista em que efetivaram com o suor derramado nas faces, a implantação da climatização de bananas. E neste local apreciado pela população e visitantes, era o lugar ideal para eles comercializarem, reunindo a compreensão e os esforços conjuntos em busca do sucesso.
NO PARQUE SÃO LOURENÇO - CURITUBA
Diante daquele bairro espetacular, se destaca atualmente a casa do artista Erbo Stenzel com a exposição de seus trabalhos. Sem se falar do Centro de Criatividade de Curitiba, onde reúne uma mega de informações com uma biblioteca, auditório e outros detalhes, vez que a antiga fábrica de cola, ainda mantém viva no local as máquinas e caldeiras como esculturas que abrem o tempo nas velhas lembranças. De tudo pode se ver no Parque São Lourenço com as criatividades e a benevolência do povo curitibano. Há também como palco asseverativo da cultura como a implantação do Liceu de Artes, visando estruturar, treinar e normatizar no mercado de trabalho jovens aprendizes.
Eis aí o Parque São Lourenço com as suas histórias infindáveis, que no ano de 1970, fora tragado por uma grande enchente e que fizera o rio Belém transbordar, provocando tremendas inundações com o rompimento da represa São Lourenço. Haja vista, que o rompimento da represa e as cheias foram capazes de paralisar o curtume e a fabrica de cola da época localizado às suas margens, daí nasceu a utilidade de suas instalações nos moldes da cultura paranaense que hoje se apresenta. E com este parque verde, sinalizando a velha fábrica com a chaminé que invade as alturas e levemente visionada à distância pelos tijolos encravados. Entretanto, é ali mesmo no bairro São Lourenço, com endereço certo e imperdível na Rua Mateus Leme e esquina com a Rua Nilo Brandão, o parque verde da cidade, traçando a cultura, o esporte, as exposições, além da linda floresta de araucárias por todo o seu formidável recanto. Destacando-se a flora, a fauna e diversos equipamentos a disposições dos interessados.
Continua na parte 02