FUNDOS INVADIDOS NA CHÁCARA INAI-NHÁ, ONDE FACILMENTE SE VÊ A DESTRUIÇÃO DO TERRENO.
OBSERVA-SE QUE OS TELHADOS ESTÃO ABAIXO DO NIVEL DO BARRANCO, RETIRADO PARA LEVANTAR AS CASAS. EM FRENTE, FORAM CONSTRUÍDAS OUTRAS CASAS, UMA SOBRE A PEDRA E OUTRA RENTE À CACHOEIRA DO TOMBO, COMO É CONHECIDA, EM CONTINUAÇÃO AO PROSTÍBULO DE DONA LICA.
OUTRAS FOTOS, MAIS À FRENTE, NOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS MOSTRARÃO OUTROS ÂNGULOS.
FOTO DA AUTORA
O TOMBO
Cap VI
A VOLTA
Durante alguns meses, alguns raros fins-de-semana eu os passei na casa de minha mãe, no centro da cidade, onde ela me cedeu uma parte antes usada para garagem de meu pai e que eu transformara em loja exclusiva de minha confecção. Nem mesmo tirei a placa da loja que eu denominara Dona Nila, em sua homenagem, e onde expunha roupas femininas, de tricô industrial, fabricadas por mim e minha equipe, em Vitória, com a sugestiva etiqueta Habeas Corpus.
Embora gostasse muito da confecção, confesso que o falecimento de meu pai havia me tirado o ânimo, quando faleceu, em 1987, pouco antes de minha formatura na FACEC.
Meu pai sempre foi meu grande incentivador em todos os momentos.
Perdê-lo me tirou do centro de mim mesma.
Não sei lidar com essas perdas.
Não sei mesmo, até hoje.
Em Outubro de 1997 contratei o empreiteiro Jorge, meu conhecido de Vitória, e combinamos a reforma da casa caiada de branco com janelas azuis.
Fomos para Pancas, onde eles ficariam na própria Chácara, enquanto durasse as obras.
Levei o Jorge até o local para que avaliasse a reforma que eu desejava e fizesse o orçamento. Na verdade o orçamento já estava mais ou menos definido, dentro do que eu lhe dissera querer. Faltavam apenas alguns detalhes que em nada alterariam minha disposição.
Eu estava decidida, porque pensava que ali era meu lugar.
Enquanto escrevo esta parte, vem à memória um belo conto que certa vez meu amigo Antonio Serrano me presenteou, quando lhe falei sobre meu sonho de morar naquele lugar. Trata-se de “Enterrem meu coração na curva do rio” , de Dee Brown , uma trama que envolve nativos do Oeste Americano, e que pode também ser visto em versão cinematográfica estrelada por John Wayne, Jane Fonda e James Stewart.
Por falar nisso, irei à locadora para rever esse belo trabalho e afundarei olhos em minhas antiguidades. Encontrar meu livro e o reler será gratificante.
Bem, sobre a Chácara...
Não sei definir o que senti ao voltar .
Não sei se decepção, ódio, revolta, ou todos esses sentimentos ao mesmo tempo.
Minha casinha branca de janelas e portas azuis estava inusitadamente ocupada por um indivíduo que colocara um “comércio” no fundo do quintal. Lá ele vendia alguns “produtos de fabricação própria”, inclusive fita cassete com cantores de todos os gêneros. A pirataria havia chegado ali.
A casa da Dona Lica aumentara alguns metros e alguns moradores Levantaram paredes para 4 casebres e parte de mais 1, em uma área de mais ou menos 270m² . Até mesmo sobre uma laje de pedra, à beira do Rio, alguém achou de morar.
As casinhas foram erguidas umas de frente para outras, formando um corredor de talvez 2 metros, e coladas nas laterais.
Cavaram o barranco do quintal que ia até o rio e pronto. Ali se estabeleceram.
Eu não podia acreditar no que estava à minha frente.
Não podia mesmo.
Foi horrível ver aquilo.
Fiquei literalmente sem fala.
Como é que aquilo tinha acontecido em tão pouco tempo ?