Lino o Passarinho e a Gaiola.

Um belo dia. Dia belo mesmo, ensolarado e calmo. Uma aragem morna e gostosa soprava leve, constante.

Como era seu costume Lino caminhava pela orla do parque. Tranqüilo admirando as arvores a placidez do lago, os marrecos, gansos e cisnes. Ouvindo o cantar dos pássaros e o trinar das muitas aves habitantes das copas.

Após algumas voltas rotineiramente pega o caminho de volta pra casa, sempre o mesmo trajeto. Ao passar em frente a uma loja de animais, um Pet Shop assim em bom português, algo chamou a sua atenção. Um canto lindo e triste de um passarinho. Parou e posse a ouvir.

Chegou a fechar os olhos com o cantar.

Entrou na loja e foi até o afinado tenor. No canto próximo à janela, dentro de uma gaiola de arame lá estava. Amarelo bem claro, peito e dorso com matizes amarelo-ouro. Ficou encantado.

Chamou o dono da loja perguntando quanto custava o pássaro a gaiola e rações. Negociado o preço, fechado o negócio.

Saiu todo contente com seu tesouro nas mãos. Até o pássaro-tenor parecia cantar mais contente. Pelo menos o Lino achou.

Pelo caminho varias pessoas do passeio costumeiro e rotineiro olhavam o habitante cantante a gaiola e seu garboso dono, que orgulhoso a todos respondia tecendo elogios ao seu pupilo, logo apelidado de dourado.

Assim todo contente e sorridente ia o Lino. Assobiando para acompanhar dourado.

Foi quando avistou sua casa e lembrou-se de outra habitante, sua mulher. Perdeu o sorriso.

Putz! Como fora esquecer. Morando em apartamento, todo santo dia era lembrado do fato de que não havia espaço para mais nada, que ela tinha que fazer tudo, limpar, arejar, por o lixo pra fora, etc., etc. e etc.

Bom, pensou bichinho tão pequenino, tão alegre, não haverá problemas. Precavido comprou flores. Lírios seu preferidos.

Pegou o elevador. Chegou a seu andar, desceu, abriu a porta e entrou. Ela estava na sala lendo um livro, nem levantou o olhar quando entrou.

Deixou a gaiola com dourado na cozinha, que estranho calou como pressentindo alguma coisa. Veio ate a sala, fez um carinho em sua cabeça, deu-lhe um beijinho na testa.

-Pô! Num ta vendo que estou lendo, sabe que tenho um importante caso amanhã no tribunal, tenho que estudar todos os processos.

-Desculpa amor! É que trouxe essas flores para alegrar um pouco seu estafante trabalho.

-Ah! Amor! Adoro lírios. Disse sorrindo, deixando o livro sobre a mezinha de centro e levantando para pegar as flores. Já ia lhe dar um beijo quando dourado resolveu cantar.

-O que é isso? Disse caminhando em direção a cozinha.

-Amor é a outra surpresa para você. Gostou?

Quando ela virou para ele, percebeu que não tinha gostado.

-Quem vai limpar a merda desse passarinho? Quem vai dar comida e água pra ele? Quem vai por ele no sol? Quem vai ensinar ele a não cantar quando estiver trabalhando?

Tinha tentado falar varias vezes sem conseguir interromper.

Quando ela parou. Ele só disse:"- Eu!"

Ela olhou pra ele, não precisou dizer nada.

Lino pegou o dourado, a gaiola e foi pro elevador pensando no que falar para o dono da Pet Shop, quando fosse devolver.

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 25/11/2009
Reeditado em 19/08/2010
Código do texto: T1942801
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