Estória contada por uma alma que foi em vida um cidadão brasileiro de classe média alta

Meu nome era Alfredo. Faleci de morte rápida (infarto), no dia 12 de julho de 2009. Soprava uma brisa matinal de ensolarado domingo. Após tomar o café da manhã, senti fortes dores no peito e vim a falecer. Passado um tempo em que não me recordo, estava eu a aguardar o cerimonial do enterro, que consistiu na preparação do cadáver, choradeiras, rezas, caras boas e ruins, pensamentos de amor, ódio, revoltas e, finalmente, a descida do corpo à cova. Em seguida fui convidado por um anjo a subir ao céu. Graças a Deus (pensei), estou salvo! Sorri satisfeito e numa viagem veloz e segura, logo chegamos ao céu. Bati forte a porta e aguardei ansioso. Qual não foi a minha surpresa, quando ao invés de São Pedro, me apareceu um cara vestido de terno preto e gravata branca com um baita sorriso de orelha a orelha e um crachá onde se lia: Alberto (Receita Federal). Perguntei-lhe:

---Cadê São Pedro?

---Está lá dentro descansando na velha cadeira de balanço.

---E por que não veio atender-me, há algum problema comigo?

---Não Alfredo, está tudo bem. Acontece que a Receita Federal fez um

acordo com São Pedro com a conivência de alguns políticos , que já

pagaram os seus pecados e agora estão por aqui.

---Não acredito! Até São Pedro vocês conseguiram levar no bico?

---Não foi só no bico não! Foi necessário emitir um CPF para ele.

---Como assim? CPF para São Pedro? Será que ouvi direito?

---Ouviu sim! CPF significa, "COMISSÃO POR FORA".

---Explique-me então, que raio de acordo é esse?!

---Psiu... fale baixo, nem Deus sabe dele. O problema é que o céu está

com super lotação, então propusemos a São Pedro, taxar em 50% a

permanência de brasileiros, que porventura venham para cá. Ou se-

ja, só poderão desfrutar da metade do tempo em que teriam o direi-

to de permanecer aqui no céu.

---Mas, afinal para que isso? Eu já estou morto, não é mesmo?

---Sim, mas dessa forma, vamos obrigá-lo a retornar mais cedo para a

Terra e, terá que pagar novamente, o imposto sobre a renda, à Re-

ceita Federal.

---Responda-me por favor, aqui tem elevador que me leve lá p'ra bai-

xo?

---Lá p'ra baixo você quer dizer o inferno?

---Sim, isso mesmo, para o inferno!

---Tem sim, por quê? Será que você...

---Qual daqueles botões eu aperto para chamá-lo?

---O vermelho, mas...

---Mas, o escambal, daqui a pouco, até São Pedro e Deus terão que

pagar impostos.

---Olha, pelo amor de Deus, pense bem antes de...

---Eu já pensei, Alberto. Com os políticos brasileiros e vocês da Re-

ceita Federal dando ordens por aqui, eu prefiro ir para o inferno!

Tchau! O meu elevador acabou de chegar, graças a Deus!

Jaime Rezende Mariquito
Enviado por Jaime Rezende Mariquito em 23/11/2009
Reeditado em 24/11/2009
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