Fusquinha Amarelo

Em um fusca

Cor de angu

Seguia aquele homem

Com destino

Além de Itaocara,

Além de Padre Miguel,

Além de Bangu.

Levava no banco dianteiro

O pouco que restava

Do seu mundo juvenil

E no banco traseiro

Uma mala de roupas,

Uma máquina fotográfica,

Fotos de sua filha,

Algumas lembranças

E alguns discos de vinil.

BR 040.

50.

60.

80 km por hora.

Era o limite de velocidade

Permitido na época

E o máximo

Que o motor do fusquinha resistia.

O velho companheiro de estrada

Já não era mais o mesmo de outrora.

Sete horas de viagem

E do alto do monte,

Por trás das lentes dos óculos,

Seus olhos míopes

Avistaram o Belo Horizonte.

Longe de casa

Longe do ninho

Aquele lugar

Era o fim do caminho

E o começo de uma nova vida.

A partir daí

Durante algum tempo

Aquela foi a parada daquele homem

E a estrada,

A ligação com o seu mundo.

As longas distâncias

Que passou a percorrer

Obrigaram o homem

A trocar o velho fusquinha

Por um carro mais novo.

E hoje,

No bagageiro,

Uma mala de roupas,

Uma máquina fotográfica,

Fotos de sua filha,

Discos de vinil,

CDs

E muitas lembranças,

Inclusive,

Do fusca cor de angu.