O PREÇO QUE AQUELE AMOR COBRAVA
No quintal da casa a menina chorava.
Seu rosto banhado em lágrimas, sua garganta inchada de tanto soluçar.
Estava tão desconsolada que dividia sua dor com as cobras que se escondiam debaixo das pedras em meio aquele cerrado.
Mesmo sabendo do risco que corria, algo dizia que nenhum mal a ela aconteceria.
Somente ela sabia porque aquilo que tanto a feria a deixava tão triste e com o coração apertado.
Ouviu, então, os gritos de seu pai:
- Vamos menina! Você tem que ficar aqui e olhar seus irmãos. Já estamos de saída.
Ela já sabia. Aquilo sempre aconteceria.
Agora a menina tinha mais irmãos e amava cuidar deles. Crescia dentro do seu peito um sentimento de gratidão por fazer parte de tão linda família.
Nas raras oportunidades que os pais tinham para sair à cidade e conhecer pessoas diferentes, sempre encarregava aquela tão disposta menina para tomar conta dos filhos menores.
Em contrapartida, os irmãos mais velhos acompanhavam seus pais para nessas raras saídas.
Sempre que chegavam, a menina corria para saber se traziam algo diferente.
As faces cheias de largos sorrisos e gargalhadas. Sequer se tocavam da presença da menina.
Nenhum agradecimento, nada de argumentos.
Ela não estava fazendo mais que sua obrigação.
Sua irmã mais velha entrava no quarto feliz da vida, contava um monte de maravilhas e até inventava coisas que não aconteceram.
Era o preço que aquela menina pagaria por amar tanto seus irmãozinhos.
Ela gostava muito de protegê-los mas sentia que algo estava perdendo de seus desejos ainda infantis e começava a carregar uma responsabilidade.
O tempo denunciaria a grande injustiça.
Um sentimento que ela guardava pois sabia que não existia alguém para desabafar. Certamente ninguém a entenderia.