Ritual da Fênix
Minha plumagem irradia as cores do fogo. Sou ave divina, de plumagem alvirrubra que irradia meu fogo interno.
Sobrevoou majestosamente sobre a vida. Arranho céus, dou rasantes em mares. Voou sempre para frente, recolhendo informações, observando corações, desmistificando desejos, admirando naturezas. Minhas aparições, de tão aguardadas, são festejadas e nunca esquecidas.
Tenho o porte altivo, por vezes arrogante. Sou única. Rara. Tenho o atributo que todos procuram. Por isso me dou ao luxo de viver o presente de maneira intensa, e me empenho para o futuro não demorar, apesar de saber que meu fim será a fogueira que eu mesma atearei fogo.
Derramo minhas lágrimas, mas elas são insuficientes para turvarem minha visão. Carrego minhas cargas, mas sem deixar que o peso delas dificulte meu voou por este mundo.
Espero o defunto, para o julgamento de sua alma, fazer sua confissão. E depois dele ter cumprido o rito, verifico que esta minha existência secular está por acabar.
Ritual cumprido formo meu ninho com vergônteas perfumadas, incenso, amomo, e nele aguardo a chegada do fim, que vem com o clarão dos primeiros raios solares. Tenho consciência que o fim sempre chega. Espero em meu ninho, calmamente a chegada do Sol, e na sua exposição, já cansada deste viver, entrar em combustão. Viro cinzas e delas, renasço. Outra, ainda mais bela, ainda mais rara, ainda mais mistificada e milagrosa. Minha nova vida será alimentada por pérolas de incensos, esperando pelo próximo defunto e seu rito de cortejo para cumprir meu novo ciclo de vida e morte. Pois sei que renasço. Todos os dias.