Rastro prateado

Pela manhã,

O orvalho

Faz brilhar o rastro

Que a lesma deixou no jardim

Em sua caminhada noturna.

O Caracol

Segue aquela fina gosma prateada

Na esperança de encontrar

A andarilha desabrigada.

Quando ele chegou ao fim do rastro

Em um tronco em decomposição

Não encontrou a sua amada.

Os farelos de tronco podre

Misturados com o terreno

Indicavam que aquele local

Havia sido ciscado:

A galinha

Chegou primeiro ao fim da gosma.

E o caracol

Recolheu-se em sua casa

E prometeu

Nunca mais sair de lá.

Estava completamente abalado,

Só de pensar

Que jamais encontrará

A Dona daquele rastro prateado.

Mas ao escurecer,

Naquela noite de primavera,

Alguém bateu à porta do caracol:

Era a lesma,

Depois de emergir

Daquela mistura de graveto e terra.

Ela se camuflou no meio

Da madeira podre

E salvou-se da galinha.

Só que naquela noite,

A andarilha

Não se arriscou

Em sua caminhada solitária.

Entrou na casa do caracol

E passaram a madrugada

No maior alvoroço,

No meio da gosma,

Deslizando um no outro,

Como o favo da jaca

E o caroço.