DOIDO OU DOUTOR?
DOIDO OU DOUTOR?
Com vocação ou não, os filhos das famílias ricas da pequena cidade de Bibocas, eram enviados para cidades grandes para estudar e se tornarem doutores; quando depois de muitos anos voltavam já formados, eram recebidos com uma festança que se chamava Manifestação; o povo todo participava da festa.
A banda de música saia tocando dobrados e a comunidade em suas melhores roupas seguia atrás soltando foguetes e se dirigia para a casa do novo doutor, onde depois de vários discursos das autoridades e dos agradecimentos do homenageado, era servido um farto e requintado janta, regado com vinho e cerveja.
No dia seguinte o recém formado, começava o atendimento dos possíveis clientes; as vezes tudo corria bem, mas quando o doutorzinho não gostava da profissão escolhida pelo severo pai, o desastre estava garantido, podia ser um erro médico ou um processo perdido por falta de pratica de um advogado.
A mania por filhos doutores chegava as raias do absurdo, porque as famílias ficavam cegas e surdas a realidade e cometiam verdadeiras loucuras para conseguir a realização de seus sonhos e pessoas totalmente despreparadas, eram enviadas para os grandes centros, com os bolsos cheios e cabeças vazias.
Os resultados dessas atitudes eram sempre inesperados e quase sempre decepcionantes; quando Juninho, filho de Jessé Ribeiro um dos fazendeiros mais ricos da região de Bibocas, completou dezoito anos, foi enviado para Belo Horizonte, para se preparar para fazer o curso de Direito, mas ele só queria ser fazendeiro.
O rapaz disse que não queria ser doutor, queria ficar na fazenda em paz, mas suas suplicas deram em nada e foi assim mesmo; durante alguns anos ele ficou por lá, com muito dinheiro para suas despesas ele se divertiu demais e estudou de menos e quando voltava nas férias, ele dizia que estava tudo bem.
Jessé acreditava em tudo que o futuro doutor dizia, mas nunca procurou saber o que acontecia na capital e quando chegou afinal o ano previsto para a formatura de Juninho, ele tratou de se preparar com a família para ir assistir a colação de grau de seu filho doutor e comprou roupas e sapatos novos para todos.
Para esperar a costumeira Manifestação. ele mandou preparar quantidades enormes de comidas, doces e bebidas; a cidade de Bibocas fervilhava com os comentários da esperada festa, mas dois dias antes da formatura, Juninho chegou de repente e foi falar com seu surpreso pai em particular, foi água na fervura.
E o mundo de Jessé caiu, quando o filho confessou que não tinha estudado nada todos aqueles anos, que passara o tempo se divertindo e gastando muito dinheiro em vadiação e que por isso não ia se formar nem em direito e nem em coisa alguma; foi um horror, a família se sentiu envergonhada e triste
A cidade ferveu com os comentários pesarosos dos amigos e maldosos dos desafetos e para fugir de toda aquela confusão, Jessé e toda sua família se retirou para a fazenda, mas ele sabia que tinha que tomar alguma atitude contra Juninho, para evitar que seus outros filhos cometessem o mesmo terrível abuso.
Assim que chegaram a fazenda, Jessé reuniu a família e se dirigiu a Juninho, dizendo: meu filho durante esses anos todos, você agiu como um ladrão, gastando dinheiro a rodo, fingindo estudar e era mentira, por isso vou tratar você como os juizes tratam os bandidos; vou pensar no seu castigo e será duro eu juro.
Pensou um pouco e disse: durante os próximos anos, você vai trabalhar aqui na fazenda sem salário, vai morar na menor casa da colônia e vai usar as mesmas roupas que os colonos usam e comer a mesma comida que eles; enquanto isso vou contabilizar seu salário, até você me pagar o dinheiro que jogou no lixo.
Jessé Disse para os amigos que Juninho estava doente da cabeça, quase doido e por isso precisou largar os estudos já no final, todos fingiam acreditar, mas riam do assunto e passaram a dizer que Juninho não era doutor e nem doido, era apenas irresponsável e pouco inteligente personagem, na comedia da vida.
Maria Aparecida Felicori { Vó Fia}
Texto registrado no EDA