FLASHES DO PASSADO

            Dos recônditos das brumas do esquecimento, surgem esvanecidas pelo tempo e flutuantes quais tênues nuvens, fulgurantes recordações de uma juventude distante e efêmera, firmando-se paulatinamente, á medida em que se organizam os arquivos extraídos dos anais da minha remota memória.
            Recordações daquela criança feliz que sorrindo, nua corria atabalhoadamente e aos tropeções pelas pequenas dunas de areia esburacada da orla marinha que ladeava os coqueiros da praia limítrofe da bela Baía da ilha de Luanda, onde a família reunida acampava se dedicando á pesca, se deliciando com banhos de mar durante o dia e curtindo o anoitecer á volta da fogueira ao som das canções e da viola ou do fado e da guitarra portuguesa dedilhada com esmero por um de meus primos.
            Aprazíveis lembranças dos Natais em que, aguardando as badaladas do relógio da sala sinalizarem a meia-noite, fingia dormir, com ansiedade crescente e com o coração batendo descompassadamente no peito, na perspectiva de conseguir ver, mesmo que de relance, o querido e tão idealizado Papai-Noel (ou Pai Natal, como dizia minha família portuguesa), ou até, quem sabe, seu maravilhoso e rápido trenó espacial, puxado pelas belas renas embaladas ao som etéreo dos sinos e dos guizos. Vã esperança. Por mais rápido que tentasse ser, levantava sempre atrasado, depois que o trenó já havia sumido envolto pela escuridão.
            Na sóbria casa de alvas paredes e de tipo colonial da fazenda, circundada pela iluminada varanda de robustas colunas, que eu passando incontáveis vezes pelo mesmo lugar, percorria correndo até cansar, perseguindo o som dos guizos e dos sinos que de mim se ia distanciando, aos poucos substituído pelo som da musica “AVÉ MARIA”: (Ave, Ave... Ave Maria... Ave, Ave... Ave, Maria... A treze de Maio, na Cova da Iria... Aos três pastorinhos... apareceu Maria...), cuja melodia gradativamente ia chegando aos meus ouvidos, aumentando paulatinamente de intensidade e aos poucos se tornando mais audível. Maria, mãe de Jesus, que minha mãe (religiosa católica fervorosa), escolhera para minha madrinha de batismo, que me protegia sempre por mim velando (como madrinha dedicada) e que todos os Natais, por ocasião das comemorações de aniversário do nascimento de Jesus seu filho, me vinha visitar a mim, seu afilhado.
            Todos os anos o Papai Noel era profícuo em presentes e brinquedos.

                                         I I

            Tia Rosa, minha tia materna, irmã mais velha que por morte de minha avó havia terminado de criar minha mãe, era como uma segunda mãe para mim. A natureza, por motivos desconhecidos a privara de ter filhos e assim, ela e seu marido (que também era seu primo), meu tio Alexandre Figueiredo, se dedicaram a mim desde o meu nascimento, como se filho deles eu fosse.
            O governo, na tentativa de controlar a caça predatória, convidou meu tio, agente governamental, famoso e renomeado caçador, a aceitar um convite visando: regulamentar; estruturar; organizar e chefiar o sistema de fiscalização da caça, na região do enclave de Cabinda. Assim, meus tios preparavam-se para viajar e assumir seu posto. Tia Rosa embora contrariada por ir viver no interior e se separar de mim e de minha mãe, devia acompanhá-lo. Não foi difícil para minha tia, convencer minha mãe a permitir que ela me levasse junto com eles, justificando que comigo junto dela, teria companhia e passaria o tempo mais rapidamente. Ao contrário, meu tio achava que eu devia acompanhá-lo para com ele aprender a ser homem.
            E assim, aos quatro anos e pela primeira vez, conheci a selva, tive contacto com os animais selvagens e com os nativos do interior da áfrica, em regiões inóspitas, até então esquecidas pela civilização e onde a vida ainda era extremamente primitiva. Aprendi a ouvir e interpretar o silêncio, os ruídos e demais sons da selva em todas as suas formas, a pressentir as tempestades e as chuvas e a prever as suas conseqüências, a distinguir os animais pelas marcas de pegadas e pelos sons por eles emitidos, a ler os sinais e rastros na selva. Descobri que o amor e o carinho podem amansar e domesticar o mais feroz e temido dos animais. Que o amor pode existir entre as espécies em que a natureza é soberana.
            Á medida que nos embrenhávamos pela selva, meu tio e seus comandados (soldados e cipaios), iam abrindo picadas e fundando e instalando ás suas margens, (próximo de rios, lagos e sanzalas), acampamentos estratégicos e de passagem (que deixávamos organizados, estruturados, equipados com máquinas e armas e cada um deles sob a chefia de um soba ou capataz).
            Estes acampamentos destinavam-se a facilitar “á posteriori”, o reabastecimento aos postos e acampamentos avançados e a servirem de base a futuras ações e operações. Concluída a distribuição e instalação dos acampamentos em toda a região do enclave, começou a fase em que nos transferíamos periódica e regularmente de acampamento. Em cada um, tínhamos uma casa de passagem reservada para o comandante e sua família.
            Permanecíamos o tempo necessário para que meu tio tomasse as providências cabíveis com vista a solucionar os problemas surgidos na região durante a sua ausência e que não podiam ser resolvidos via rádio.
            Devido á dificuldade de locomoção na selva e á precariedade das vias de acesso e comunicação abertas á época, cada transferência de base era como se hoje nos mudássemos de cidade ou de estado, obrigando a toda uma parafernália de medidas visando o transporte de itens que permitissem um mínimo de comodidade durante o período em que ali ficássemos. Freqüentemente eu acompanhava meu tio nas suas incursões á floresta, durante as quais ele aproveitava para caçar e aprovisionar de carne o acampamento, por forma a deixá-lo abastecido até seu retorno na próxima viagem.
            Certa vez ao chegarmos a um dos acampamentos, encontramos um tremendo sururu, um amontoado de gente em que todos queriam falar ao mesmo tempo, homens seminus empunhando arcos e lanças gesticulando e tentando fazer-se ouvir e mulheres (com crianças ao colo) que gritavam esganiçadas num amálgama de vozes tornando incompreensível o que diziam. Pedindo calma, meu tio chamou o soba do acampamento para que em nome de todos o inteirasse da situação. Segundo a sua explicação, as aldeias e sanzalas vizinhas estavam desesperadas e pediam ajuda, pois um solitário paquiderme gigante estava apavorando as populações e já matara mulheres e crianças, destruindo lavras (lavouras) e cubatas (casas de pau a pique cobertas de sapé) além de destruir sanzalas completas em várias aldeias dos arredores. O animal aparentava estar enraivecido e nada o detinha, arrasando tudo á sua passagem.
            Do relato, meu tio depreendeu que o animal deveria estar ferido, podendo ter sido alvejado por algum caçador fortuito e inexperiente que não soubera atingir um ponto fulminante e ao deixá-lo ferido teria provocado a sua ira e espírito de vingança, sobretudo tratando-se de um animal solitário, pouco comum na região, que é aquele que foi banido da manada pela matriarca ou que perdeu a manada em luta com um rival mais forte e que desmoralizado não mais obteve sucesso junto a outras manadas nem enfrentou novos desafios e lutas pelo seu controle como macho predominante. Quando tal acontece, o animal isola-se e torna-se irascível, ávido de comida e com um apetite descontrolado come em demasia e se desenvolve além do normal chegando a dobrar de tamanho e peso, e perdendo a libido e o instinto pelas fêmeas, não mais lutando por elas nem procurando rivais para disputá-las, mas investindo raivosamente com os olhos raiados de sangue, contra qualquer animal ou obstáculo que lhe barre o caminho, tudo destruindo.
Informado da provável localização em que se encontraria o animal, o comandante chamou um grupo de homens que distribuiu por vários jipes militares e me levando a tiracolo, saímos na cola do perigoso destruidor. Após mais de três horas de percurso em rústicas picadas e em todo o terreno através da selva, circundando as aldeias onde o elefante havia sido avistado e seguindo as informações coletadas nas aldeias e sanzalas encontradas pelo caminho e com o auxílio dos mateiros ou rastreadores, chegamos tão perto de nosso objetivo, a ponto de escutarmos os bramidos e os urros do animal. Abandonamos os jipes a prudente distância e continuamos a aproximação a pé. Os urros tornaram-se mais fortes e assustadores, demonstrando que nos achávamos bem perto do animal. Meu tio pediu a todos que não se assustassem e ordenou que ninguém atirasse ao avistarem o animal, mas que tão logo ele parasse, todos parassem, sem esboçarem qualquer gesto ou fazerem qualquer movimento e, sobretudo, que ficassem em absoluto e completo silêncio. Apenas ele enfrentaria e deveria abater o animal. Disse-me para não me assustar, não gritar nem falar, que me mantivesse sempre atrás dele e que tendo medo, mordesse os lábios. Meu tio era muito alto e minha cabeça quase chegava á cintura dele. Como não queria perder nada do que estava para acontecer, buscava, á sua direita e/ou esquerda, um ângulo mais favorável que permitisse liberar o meu campo de visão.
            Os bramidos e urros tinham cessado repentinamente, fazendo meu tio estacar. Á sua frente qual imensa estátua de pedra, estático, enorme e grandioso, o maior e mais bonito exemplar de paquiderme que já me foi permitido ver. Que imponência. Será que o instinto o advertia ou lhe permitia pressentir sobre o desfecho iminente do destino que lhe fora traçado? Com seus pequenos olhos raiados de sangue, mirava fixamente seu oponente, como se ponderasse as reais possibilidades e perspectivas que tão insignificante adversário poderia ter ao defrontá-lo, qual a estratégia que aquele intruso iria usar, ou quando e de que forma tentaria desferir o ataque final.
            Lentamente, meu tio levantou o rifle e o levou ao rosto. Era uma arma específica para caça ao elefante, uma “trezentos e setenta e cinco” de incrível precisão que recebera do governo como premiação por serviços prestados. Durante intermináveis segundos, debaixo de um silêncio sepulcral, os dois contendores se observaram e estudaram, como se desejassem perpetuar na retina para além da morte, aquela última imagem do seu oponente. Repentinamente o paquiderme balançou a cabeça de um lado para o outro, abanou as enormes orelhas, enquanto soltava um urro assustador, levantou ameaçadoramente a tromba e num rompante avançou acelerando á carga em direção ao seu alvo. Instintivamente agarrei as pernas do meu tio e fiquei quieto e firme. Ele não se mexeu, nem disparou. Fechei os olhos e com o coração apertado pulsando aceleradamente como querendo saltar do peito, tentei contar para controlar o misto de ansiedade e medo que me assolava: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete...pum. um só tiro. Fui sacudido pelo corpo de meu tio que balançou com o coice da arma.
            Uma freada firme, um urro horripilante, um estrondo terrível, o chão tremeu como se fosse um terremoto, a turba gritou em uníssono e eu abri os olhos vendo muito pó em suspensão no ar. Á minha frente, muito próximo mesmo, á distância de pouco mais de uma tromba de elefante, uma cabeça enorme com duas grandes presas apontadas para nós, um imenso vulto cinzento escuro, bem mais alto que meu tio. O solitário jazia morto a menos de cinco metros de nós. O tiro certeiro entrara bem no meio dos olhos, provocando certamente morte instantânea no animal evitando o seu sofrimento. Lembro-me que tiraram uma foto comigo em cima da barriga do elefante e com meu tio apoiado numa das suas presas. O animal foi esquartejado, as presas retiradas e guardadas e a carne dividida entre a população. Foi dia de festa no acampamento. Pela primeira vez comi carne de elefante. Meu tio me ensinou que a tromba era a única parte saborosa da carne do elefante. Uma verdadeira especiaria, a tromba do elefante defumada em fumeiro de tronco de árvore, uma delícia cujo gosto inigualável jamais saboreei em nenhuma outra carne.
            Além do prazer da aventura em si, eram de mais valia os ensinamentos que meu tio pacientemente me transmitia, inerentes á relação do ser humano com a natureza e, sobretudo com os animais selvagens das diferentes espécies, o nosso respeito para com eles e deles para conosco.
            Não era de estranhar, quando, além da carne de caça, o grupo voltava de suas incursões com animais feridos encontrados presos em armadilhas e com um ou outro filhote que achávamos perdido, órfão de mãe abatida por caçadores inescrupulosos, desde bambis a leões e até elefantes.
            Os feridos eram tratados e quando sarados, devolvidos á natureza. Os filhotes eram criados em liberdade em mini reservas anexas aos acampamentos. Destes, alguns acabaram virando meus animaizinhos de estimação.

                                         III

            O tempo foi passando e sendo bom aluno e com excelente aproveitamento nas aulas, voltava para junto de meus tios em Cabinda, a cada novo período de férias, até que chegou a minha fase de aprontar e aí as coisas começaram a se complicar. Vocês sabem com é, toda criança passa por essa fase, tudo querendo conhecer e experimentar, tentando ver se também é capaz, enfim... mas... aí tudo dá errado.
            O tratorista (operador do trator ou máquina Caterpillar de lagartas e pá) de cada acampamento era o responsável pelo abastecimento de água á comunidade. No acampamento principal (onde ficava a residência oficial do comandante, nossa casa), todo o dia ás nove horas da manhã, o tratorista, pai de meu amigo João (uns dois anos mais velho que eu), engatava os dois reboques cisternas ao trator. Eu e   João sentávamo-nos um de cada lado, sobre as laterais que protegiam as lagartas, em cujo rebordo nos agarrávamos e acompanhávamos o pai de João até ao rio mais próximo, onde após descermos, ele manobrava o trator por forma a que os reboques vazios, com as tampas das adutoras superiores abertas, penetrassem de ré dentro do rio, até ficarem completamente submersos. Durante cerca de trinta minutos esperávamos que as cisternas se enchessem, vendo borbulhar o ar que saía pelas adutoras. Quando paravam as borbulhas, era sinal de que os tanques estavam repletos e era hora de puxar de novo os reboques para a margem, onde procedíamos ao fechamento das tampas, após o que iniciávamos o caminho de regresso, chegando ao acampamento entre as onze e onze horas e meia da manhã. Era a nossa aventura matinal.
            Um belo dia, combinamos fazer uma surpresa a seu pai e decidimos que ao raiar do dia seguinte, pegaríamos o trator e iríamos buscar água ao rio. Dito e feito.               O trator ficava num galpão afastado tanto da casa principal como da casa do João. As máquinas dos aterros já se movimentavam e o barulho iria camuflar o ruído do motor do nosso trator. Engatadas as cisternas, que já se encontravam posicionadas, faltando apenas firmar os engates e passar as correntes, assumi o comando e acionamos o motor. Já havia observado centenas de vezes com atenção o pai do João manuseando os manches e alavancas de comando e achava que seria super fácil. Porém, nem tanto assim. Os movimentos iniciais foram imprecisos e atabalhoados e provocaram solavancos no equipamento. Começamos a nos mover lentamente, primeiro em zig-zag e finalmente em linha reta. Que emoção, controlar aquela pesada máquina, apenas com o movimento de manches e manetes. E lá fomos nós, rumo ao rio. Com certa dificuldade, manobrei e consegui de ré submergir as cisternas. E estas se encheram. E os problemas começaram.   Em vão tentava puxar as cisternas da água. A cada tentativa, ao acelerar, a frente do trator empinava, eu ficava quase deitado e o João gritava, eu me assustava, o motor desacelerava e o trator caía de frente. Com o movimento e o peso das cisternas cheias, o trator ia escorregando de ré para dentro do rio. O João queria que eu deixasse o trator e fossemos a pé, mas eu temia a reação do meu tio. Entretanto o tempo foi passando, a hora normal do pai do João sair para o rio estava chegando e nós sem sabermos o que fazer. Decidi soltar o reboque, abrimos a garra do engate e o peso do tanque ajudou a soltar o reboque que sem o peso do trator, deslizou para dentro do rio. Subimos no trator e voltamos para o acampamento.
            Encontramos o tio Alexandre e o pai do João com um grupo de batedores vindo em sentido contrário á nossa procura. Depois das explicações e das broncas, voltamos para tentar recuperar as cisternas. Passamos o dia tentendo, mas sem sucesso. Tinham afundado tanto que era quase impossível a sua recuperação, o que realmente só aconteceu alguns dias depois, com o uso de outros equipamentos mais sofisticados. Reprimenda; castigo; devolução á origem. Essa foi a decisão do comandante. Meu tio ficou bravo e me levou de volta a Luanda antes do fim das férias, apesar dos pedidos e súplicas da minha tia.
Mas as próximas férias chegaram e já esquecido o incidente e o prejuízo causado, de novo fui para Cabinda e podendo assim voltar a acompanhá-lo nas suas saídas.             Participei em certa ocasião de uma hilária operação de caça para abastecimento de carne ao acampamento. Caçávamos a pé, em plena anhara (savana), procurando manadas de golungos, quando de repente, surgindo dentre o capim, vimos uma cabeça (com longos chifres) que para nós olhou e logo de novo se escondeu. Meu tio me mandou ficar quieto e agachado enquanto ele furtivamente tentava aproximar-se do ponto em que vira aparecer a cabeça da palanca. Como num passe de mágica, á sua frente e quase junto dele o animal se ergueu e ambos se assustaram, meu tio por não contar com o animal tão perto. Rapidamente tentou levar a arma á cara enquanto a palanca pulava para se afastar correndo. Quando ia disparar, vi-o levantar do chão como se levitasse e notei que se encontrava entre os chifres de outro animal idêntico ao primeiro e que ao premir o gatilho o projétil saiu para o ar, provocando o levantamento de outros animais da manada de palancas que por certo descansava entre o capim e que assustada, saiu em disparada atrás do primeiro animal. Devido á velocidade imprimida pela montada, meu tio largou a arma e se agarrou como pode aos chifres da palanca. A rápida e estonteante corrida por mais de um quilômetro, terminou abruptamente quando a palanca estacou, baixando a cabeça e os chifres e despejando o meu tio em alta velocidade a distância de cerca de 20 metros.
            O interessante da estória, é que a palanca, em vez de fugir ou de se afastar enquanto meu tio cambaleante tentava levantar-se estonteado, foi lentamente em sua direção sem qualquer assomo de medo ou intuito agressivo e como se quisesse apenas confirmar se tudo estava bem com ele, o friccionou com seu focinho e lhe lambeu o rosto, acompanhando-o de volta até chegar junto de nós, como se quisesse ampará-lo ou receasse que ele caísse. Soltou um som como se estivesse se despedindo e se afastou lentamente.
            Após verificarmos que além do susto e do corpo dolorido, nada mais de preocupante houvera acontecido, cada vez que um se lembrava da cena, caía na risada e contaminava todo o mundo, que não parava de rir. Que eu tenha tido conhecimento, jamais meu tio voltou a caçar uma palanca.
            Terminada a missão, meu tio recebeu ordem de regressar a Luanda, para seguir em missão para o Congo Belga. Fomos para a cidade de Cabinda, onde meu tio se apresentou ao seu amigo Administrador local (prefeito) de quem pretendia se despedir antes de irmos para o aeroporto, donde seguiríamos para Luanda. Parou o jipe (deixando a chave no contacto) em frente ao edifício da Administração, rua em declive acentuado (descida) que terminava na calçada ajardinada sem mureta de proteção, fazendo entroncamento na avenida marginal. Meu tio mandou-me ficar no jipe e assim eu decidi passar para o volante e fingir de motorista. Como não tinha carro nenhum estacionado na minha frente, achei que poderia experimentar o motor que acionei dando a partida. Toquei no freio de mão e o carro pulou em frente começando a aumentar vertiginosamente a velocidade. Pessoas que passavam a pé começaram a gritar e eu me agarrei no volante. Não sei como atravessei a marginal, nem tão pouco a calçada ajardinada.
           Só me lembro de alguém me tirando de dentro da água e meu tio gritando comigo que eu não tinha juízo, só sabia fazer asneira. Até hoje, não sei se recuperaram o jipe e quem o de lá tirou. Só penso no que poderia ter acontecido se eu tivesse atropelado alguém ou batido em algum outro carro que viesse circulando pela marginal. Graças aos Céus, que nada de mais grave aconteceu. Mais uma vez a minha madrinha me protegeu.

FIM
Yur Saiednac

Obrigado por apoiar um novato, dignando-se ler meu pobre trabalho.
Por favor, sem querer abusar de seu tempo, me ajude a melhorar. Comente e critique este trabalho. Me dê o seu parecer.
Muito obrigado.
Que o COSMOS derrame sobre si e sua família as maiores bençãos.
PAZ E AMOR NO UNIVERSO
Yur Saiednac