Todo castigo... é pouco

Ela era dada a um trottoir. Saía pelas altas madrugadas dando carona para a garotada imberbe e deslumbrada da provinciana cidade sem novidade. Era esperta, sabia fazer charme e deixar de quatro os frangotes que babavam ao ver aquela coroa gostosa dando mole na noite e tão generosa, levando de um por um em casa...

O que era difícil de entender é o motivo que leva uma mulher a ter esse tipo de atitude. Não a de autofirmação, arrumando moleques para provar ao velho marido que ela ainda é desejada, apesar das celulites, a lei da gravidade atuando por todos os lados, excesso de peso e cabelos constantemente pintados. Isso é até compreensível. A vaidade sempre fez e sempre fará suas vítimas. O que mais pesava era o fato dela sacanear dois caras quase simultaneamente. Um, que trabalhava para sustentá-la. O outro, suposto amante amado, que ficava horas e horas no telefone, enquanto ela não se ocupava com sua função "fatal" de seduzir a molecada local.

Certa noite, o amante ligou para o celular dela. A pobrezinha havia ligado antes, dizendo que estava sozinha em casa (esse "tipo" se faz sempre de carente e solitária...). Alguém atendeu e esqueceu de desligar. Ele ficou escutando a farra dentro do carro, que estava cheio e o charme que ela jogava para um dos "caroneiros" de suas madrugadas de mãe preocupada. Cansado de ouvir aquilo tudo, ele desligou. Já sabia demais. Numa outra noite, ela deixara escapar que o namorado da amiga da filha estava na casa, isso depois da uma hora da manhã. Dá pra imaginar o quanto ela gostava de se exibir...

Aquilo tudo foi registrado na cabeça do amante enfurecido. Ele se conteve num segundo instante. Isso depois de mandar uma mensagem. O suposto marido, passava mais tempo fora (dizia ela, trabalhando) e assim, sobrava tempo para os coleguinhas...

O amante... o único que sempre se dá mal nesses polígonos amorosos, agiria diferente daquela vez.

Dias se passaram e ele marcou um encontro para se desculpar. Ela vivia acusando o sujeito de dizer ofensas demais e de aborrecê-la com tantas "invenções". Ele foi convincente e ela resolveu ceder. Como de costume, ela apareceu bem depois da meia noite. Ele a esperava na rua, em frente ao apartamento onde se encontravam para os desfrutes carnais que, até descobrir que não era exclusivo, o deixavam bastante feliz.

Ela parou seu carro, ele se aproximou lentamente, enfiou a mão no bolso da jaqueta e a última coisa da qual se lembra foi do sorriso dela... A pobre foi encontrada, no dia seguinte, com três tiros no meio da cara. E assim, lá se foi mais uma mulher carente... coitada...

O amante? Nunca mais se ouviu falar dele. Dizem que arrumou uma dona no sul e vive muito bem. O suposto marido? Esse já estava numa boa com a secretária que sempre admirou o ar sóbrio do patrão...

HERCULANO FRANCISCO QUINTANILHA
Enviado por HERCULANO FRANCISCO QUINTANILHA em 15/11/2009
Reeditado em 11/04/2013
Código do texto: T1924359
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