CONCORDANDO

CONCORDANDO

No geral, as pessoas idosas são depressivas e lamurientas, se queixam com razão e também sem razão alguma; na juventude o tempo é escasso para o muito que se tem para fazer, os dias deviam ter o dobro de horas e ainda seria pouco, mas na velhice os dias ficam enormes, as horas parecem valer em dobro e os idosos se aborrecem.

Enquanto os jovens trabalham, estudam e se divertem, os velhos nada tem para fazer e se sentem abandonados pela família e pelos amigos, é ai que a tristeza aparece trazendo como subproduto as queixas, as implicâncias e o eterno mau humor; a maioria dos idosos se julga incompreendidos e mal amados.

As exceções existem, porque pessoas que em certa altura da vida encontram um jeito de preencher suas carências e solidão, não encontram tempo e nem motivos para gemer e chorar e conseguem conviver pacificamente com o resto da humanidade, sem se aborrecer e principalmente sem aborrecer os outros.

Para alegria e sossego de seus parentes e amigos, Lucia fazia parte dessa minoria que se esforça para preencher seus longos dias, com alguma coisa aprazível e de alguma utilidade, para seu tempo não sobrar para atazanar a vida das pessoas com queixas e lagrimas fora de hora; para felicidade de todos ela gostava de viver.

Gostando muito de ler, ela passou a escrever também, assistia bons filmes e ouvia boas musicas e conseguia assim preencher suas horas; juntando a esses hábitos sua boa saúde, Lucia quase nunca se queixava, mas era idosa e as vezes não resistia a vontade que os velhos tem de chamar a atenção e se fazer de coitados.

Sua família era bastante grande, com filhos netos, bisnetos, genros e noras; se davam bem e sempre que possível se reuniam para alegres refeições, onde conversavam sobre suas coisas e se divertiam muito juntos, Lucia acompanhava tudo com a alegria de ver sua grande família unida e sem grandes atritos.

Nessas ocasiões ela se policiava para não se queixar e não aborrecer ninguém, mas vez por outra ela se descuidava e reclamava por qualquer coisinha, só para receber uma dose maior de atenção, mas sua família era escolada e sabia que ela estava sempre bem, fingiam não ouvir, mudando o rumo do assunto.

Em um de seus muitos aniversários, ela estava reunida com toda a família a volta da mesa e achou que era uma boa hora de dar uma de coitadinha e disse: sabe gente, estou muito velha e as vezes fico com muita vontade de morrer, ela esperava protestos e aflição de todos, mas se deu mal com a reação deles.

Um de seus filhos, retrucou: ô mãe, não passa vontade não uai, foi a deixa para o resto da família começar a rir as gargalhadas e virou uma bagunça, porque eles riam e gritavam: passa vontade não mãe e o jeito foi ela se juntar as brincadeiras e rir também; depois disso Lucia encerrou o quesito queixas, porque com sua alegre família, isso não cola.

Maria Aparecida Felicori { Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 08/11/2009
Código do texto: T1912187
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