A escritora
Quando recebeu o primeiro prêmio em um concurso literário de âmbito nacional, encheram-na de perguntas. Diante da primeira que lhe enviou um conhecido jornal, garatujou a seguinte resposta:
"Eu estava apaixonada por um homem. Estava apaixonada e não sabia. Desde menina havia me acostumado a vê-lo junto com meus primos. Éramos amigos – o nosso sorriso, um para o outro, dizia tudo. Por longo tempo nos afastamos – ele foi estudar fora, voltou casado. Eu já estava casada nessa época. Pouco nos víamos então, mas o carinho persistia nas raras vezes em que nos encontrávamos. De parte a parte.
Quando a esposa dele morreu, em um acidente de ônibus, fiquei chocada. Prestei solidariedade à família. Depois, fui eu que atravessei tempos difíceis, meu marido terminou indo embora. Aguentei firme. Encontrava-o de vez em quando na rua, no restaurante, e o seu apoio me proporcionava um novo ânimo. Um dia convidou-me para jantar: dispensou-me, na ocasião, um tratamento muito carinhoso. No final, propôs que ficássemos juntos aquela noite. Eu não estava preparada. Prometi refletir a respeito.
Demorei a decidir-me. Quanto mais eu pensava, mais chegava à conclusão de que ele era mais do que um amigo. Esperei o dia em que nos reencontrássemos para dar-lhe a bendita resposta. Mas, ele estava fora, simplesmente havia desaparecido do meu mundo. Quando nos avistamos novamente, pressenti-o mudado. O longo conhecimento que tínhamos um do outro me permitiu notar que havia algo diferente. Um leve tom mais distante, uns beijinhos na face menos convictos, qualquer coisa me disse que eu havia perdido o trem. Algum tempo depois, vi-o acompanhado.
Minha tristeza foi profunda. Jamais havia imaginado que pudesse sentir tanto a falta de alguém. E tratava-se de um amor que nem havia desabrochado! Foi nessa brecha que comecei. Ou seja, que recomecei. Já era uma prática que vinha desde a minha meninice. Sempre queria ler, e daí a rabiscar ideias, era apenas um pulo. Ao ser tocada pela dor, uma dor que se espalhava por corpo e alma, pensei em várias alternativas. Eu precisava dedicar-me a alguma paixão. A literatura foi a escolhida.
Respondi à pergunta que me foi formulada?"