FUMAÇA TOXICA
isidoro machado
Deitado, a primeira coisa que fazia era deixar o braço cair pra fora da cama, pegava um maço de cigarros, do qual sacava um, punha na boca, colocava o maço de volta, já vindo com o isqueiro, acendia, tragava, tudo de olhos fechados.
Depois de algumas tragadas, levantava e ia ao banheiro. Urinava, lavava as mãos enquanto o cigarro repousava no cinzeiro, aliás, era o que não faltava, havia dúzias deles espalhados pela casa toda, lavava o rosto, enxugava, colocava de novo o cigarro na boca e ia à cozinha.
Tomava um simples cafezinho, retornava ao banheiro, deixava o cigarro no cinzeiro, banhava-se e fazia a barba. Voltava ao quarto vestia-se, acendia outro cigarro e saia para buscar o carro e trabalhar. Ligava o carro, o rádio, dava as últimas tragadas no cigarro, apagava no cinzeiro do carro, ia embora.
No primeiro semáforo vermelho, abria o porta-luvas, pegava um maço novo, tirava, acendia , no exato instante em que o semáforo abria, voltava a dirigir. Dali até o local de trabalho, mais três cigarros seriam consumidos.
Ao chegar, outros colegas de trabalho, conversavam do lado de fora, cada um com um cigarro na boca, ele acende o seu. Todos comentam que com a proibição do fumo em locais públicos e privados, estão fumando menos, já que agora só podem fumar fora da empresa, em horários pré determinados, um cigarro a cada hora, a não ser na hora do almoço e durante os quinze minutos do café da manhã e da tarde, ou seja, dá pra fumar uns quinze cigarros, durante o expediente.
Até a hora de sair é claro, por que ninguém é de ferro, aí se fuma a vontade.