Situação Complicada

Aconteceu. Não foi planejado.

Trabalhavam juntos na mesma empresa a mais de seis anos, de oito a dez horas por dia. Passavam mais tempo juntos, do que em casa com a família. Conversavam mais entre si do que com seus respectivos companheiros, esposa e marido.

Quem os visse rindo, sorrindo, jurava que ser um casal apaixonado, pois, só conversavam olhando nos olhos um do outro, mas não, eram só amigos, colegas de trabalho.

Em casa, tiveram problemas com essa amizade, só perceberam quando os cônjuges passaram a perguntar quem era beltrano, quem era sicrano de que tanto falavam.

Chegaram a comentar entre si, que seus pares ficaram com ciúmes de suas conversas, que bobagem, imaginem, eram apenas bons amigos, colegas de trabalho.

Um dia um anunciou que sairia de férias.

-Que bom é merecido. Vai viajar?

-Sim, por uns quinze dias. Vou para o litoral.

E assim foi.

O que ficou não conversava com mais ninguém.

Isolada, até no horário das refeições. Era difícil manter um diálogo com qualquer um, as horas no trabalho pareciam alongadas, demoradas.

O que viajou, antes e durante a viagem não conseguia relaxar tudo o irritava, o carro, o tempo, o sol, a areia, a água, só falava em voltar. Agüentou cinco dias.

No sexto deixou a família, dizendo que tinha uns negócios a resolver, subiria e logo estaria de volta.

Foi direto à empresa onde trabalhava em sua secção. Quando a viu foi um alivio tão grande, o sentimento era de não a ver há meses.

Ela o vira assim que entrou. Ficara estática, confusa, sem saber o por que. Seu coração batia descompassado. Ofegava.

Abaixou a cabeça. Sentiu-o chegar perto.

-Oi! Disse, ele.

Demorou a levantar a cabeça, quando o fez, sorriu e disse:- Oi! Tudo bem!

Foram caminhando lado a lado, sem conversar, sem nada falar. De vez em quando olhavam-se e sorriam, pareciam estar sós.

Foi embora. Ela ficou.

Sabiam agora o que sentiam. Nada mais importava.