Instante de solidão

Diante daquele vazio, Anita buscou por ele, mas encontrou apenas lembranças. Uma delas foi quando seu amor foi embora, deixando-a com lágrimas nos olhos, apenas com uma expressão de adeus na face dura. Sem um último beijo, última carícia ou momento consumado, ele simplesmente partiu.

No instante seguinte, Anita sentou-se numa poltrona no escuro da sala, não conseguia entender se quando ele disse que a amava, desejava e gostaria de viver eternamente ao seu lado, poderia ter sido um dia real, porque isso se repetia mutuamente na sua cabeça.

Ela encolheu-se sobre o corpo que se contorcia no assento, esperando que ele a abraçasse em pensamento. Mas isso não aconteceu. Então, ela caminhou pela casa que já não possuía o som estridente da voz dele perguntando o que teria para jantar. Como resposta, o silêncio. Os únicos sons perceptíveis eram as batidas do seu coração saltitante e sua respiração ofegante.

Num minuto, ela parou diante da porta do quarto em que, por tantas vezes, dormiram abraçados e viu a cama vazia e uma certeza: ele se foi. Era difícil ter que se acostumar com a idéia de não mais vê-lo acordar no meio da noite, para conferir se realmente todas as portas estavam devidamente trancadas. Manias a que ela já havia se acostumado.

Anita daria tudo para saber onde ele estava, com quem, como se sentindo e se cuidavam dele como um dia ela cuidou. Porém, ele se foi. Sem dar a ela a chance de esclarecer todo aquele mal-entendido; mas toda e qualquer tentativa foi inútil, ele não quis ouvir. Tudo não passou de um terrível engano, aquilo que ele achou que viu. Algo que Anita jamais teria feito. Que loucura achar que algum dia ela o trocaria por outro. O homem que ele os viu juntos era apenas um amigo de infância, daqueles que mesmo quando crescem continuam achando que, a um pequeno sinal de perigo, correm para segurar a mão do outro.

A inconsolável Anita pegou um velho álbum sob o criado-mudo, ali estavam fotos de tempos alegres, fotos que a fizeram chorar. Doía ver toda aquela injustiça acontecer e não poder fazer nada, apenas chorar.

Diante daquela melancolia, ela fechou os olhos, sentiu seus lábios serem tocados levemente pela brisa fria. Antes que os abrisse, uma lágrima correu pelo rosto. Automaticamente uma das mãos a enxugou. Foi quando seus olhos viram o inacreditável: David estava parado na porta do quarto, vendo-a, de uma forma que fez parecer esquisito, com ele ocupando quase todo o espaço com seu tamanho exagerado.

Ela ficou sem reação. Era ele mesmo? Estava de volta? Sim, ele voltou, ou talvez nunca se foi. Ela correu ao seu encontro. Quanta alegria em saber que David, no fundo, não era tão orgulhoso como ele demonstrava. Aliás, um dia, todos eles haviam sido amigos, mas foi ele quem ela escolheu para ser mais que isso...

Marciela Taylor ( Marciela Rodrigues dos Santos )

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Os textos aqui publicados, salvo indicação outra, são dedicados às amigas Juliana Lopes e Ângela Denise

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Marciela Taylor
Enviado por Marciela Taylor em 04/11/2009
Reeditado em 18/11/2009
Código do texto: T1903824
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