Entrelinhas
Ela sempre fora reticente em seus relacionamentos afetivos.Pouco falava de si, não extravazava o que trazia na alma .Apenas se deixava envolver, se entregava fácil à carícia bem feita, aos olhares enlanguecidos.
Quando sentia-se apaixonada, virava felina, era pura sensualidade.Nas questões do amor, ela era a lascívia, e se lançava inteira ao turbilhão do desejo.A cada novo encantamento, o mesmo frenesi, o mesmo êxtase, a quentura, os dias que se agigantavam nas horas, o tempo que se tornava infinito, causando desassossego no corpo, ávido do anoitecer.Pois era à noite que o apageu da libido acontecia.
E ela era assim: ingênua e sedutoramente pele.Era um paradoxo.Mulher menina e amante.Misto de uma pureza de alma assaltada de repente pelo desejo da luxúria.
Quem a via durante o dia, com seu jeito apagado de ser, na sua rotina de trabalho, não podia imaginar o vulcão em que se transformava ao lançar-se nos braços da paixão do momento.
E era quando a noite chegava que ela vestia todas as fantasias. E para se vestir assim tão felinamente, ela se despia de si, de todas as amarras impostas pela civilidade hipócrita, de todos os conceitos incorporados ao longo da vida ou mais precisamente, de quase quatro décadas de existência.Ainda não disse, mas ela já era uma balzaquiana.
Descobriu-se como mulher aos poucos.Não foi fácil se perceber tão fortemente erotizada.Também estranhou os olhares de volúpia devorando o seu corpo de forma despudorada.Gradativamente foi gostando, aprendendo as artimanhas, foi decifrando o código da sedução e as paixões foram acontecendo.
A entrega a cada uma era completa, o corpo ia inteiro, o desejo era saciado plenamente, mas... Algo depois da explosão dos sentidos, principalmente no outro dia, anuviava o seu olhar.O espelho não mais refletia a alegria, a pele com o brilho próprio da mulher bem amada.
De repente "a ficha caía" e ela se via só.Uma vez mais sentia-se vazia.É como se o homem que tinha momentaneamente ao seu lado não fizesse dela a leitura necessária.Aquela que possibilita o entendimento, que faz a cabeça, que deixa uma frase no pensamento e que possibilita a fruição, mesmo depois do livro fechado.
A sensação era recorrente. A paixão da vez só lia o seu corpo jovem e ardente, a sua lubricidade.E as entrelinhas? Cadê o entendimento? Ah, como ela queria isso! Quantas vezes sonhara em se ver traduzida em sua mais verdadeira versão, no seu ângulo mais bonito, na sua essência de mulher.
Não.Ela ainda não se sentira perscrutada em suas entrelinhas.
Hoje ela entende que talvez a paixão não tenha longo alcance, talvez a paixão seja míope e só possa ver o que toca, o que envolve, o que incendeia.Então ela sonha com um amor mais calmo, ou com uma paixão que use lentes corretivas(é possível?), para que o que ninguém nunca decifrou possa ser entendido e que ela mesma possa finalmente se entender e SER.
Ela sempre fora reticente em seus relacionamentos afetivos.Pouco falava de si, não extravazava o que trazia na alma .Apenas se deixava envolver, se entregava fácil à carícia bem feita, aos olhares enlanguecidos.
Quando sentia-se apaixonada, virava felina, era pura sensualidade.Nas questões do amor, ela era a lascívia, e se lançava inteira ao turbilhão do desejo.A cada novo encantamento, o mesmo frenesi, o mesmo êxtase, a quentura, os dias que se agigantavam nas horas, o tempo que se tornava infinito, causando desassossego no corpo, ávido do anoitecer.Pois era à noite que o apageu da libido acontecia.
E ela era assim: ingênua e sedutoramente pele.Era um paradoxo.Mulher menina e amante.Misto de uma pureza de alma assaltada de repente pelo desejo da luxúria.
Quem a via durante o dia, com seu jeito apagado de ser, na sua rotina de trabalho, não podia imaginar o vulcão em que se transformava ao lançar-se nos braços da paixão do momento.
E era quando a noite chegava que ela vestia todas as fantasias. E para se vestir assim tão felinamente, ela se despia de si, de todas as amarras impostas pela civilidade hipócrita, de todos os conceitos incorporados ao longo da vida ou mais precisamente, de quase quatro décadas de existência.Ainda não disse, mas ela já era uma balzaquiana.
Descobriu-se como mulher aos poucos.Não foi fácil se perceber tão fortemente erotizada.Também estranhou os olhares de volúpia devorando o seu corpo de forma despudorada.Gradativamente foi gostando, aprendendo as artimanhas, foi decifrando o código da sedução e as paixões foram acontecendo.
A entrega a cada uma era completa, o corpo ia inteiro, o desejo era saciado plenamente, mas... Algo depois da explosão dos sentidos, principalmente no outro dia, anuviava o seu olhar.O espelho não mais refletia a alegria, a pele com o brilho próprio da mulher bem amada.
De repente "a ficha caía" e ela se via só.Uma vez mais sentia-se vazia.É como se o homem que tinha momentaneamente ao seu lado não fizesse dela a leitura necessária.Aquela que possibilita o entendimento, que faz a cabeça, que deixa uma frase no pensamento e que possibilita a fruição, mesmo depois do livro fechado.
A sensação era recorrente. A paixão da vez só lia o seu corpo jovem e ardente, a sua lubricidade.E as entrelinhas? Cadê o entendimento? Ah, como ela queria isso! Quantas vezes sonhara em se ver traduzida em sua mais verdadeira versão, no seu ângulo mais bonito, na sua essência de mulher.
Não.Ela ainda não se sentira perscrutada em suas entrelinhas.
Hoje ela entende que talvez a paixão não tenha longo alcance, talvez a paixão seja míope e só possa ver o que toca, o que envolve, o que incendeia.Então ela sonha com um amor mais calmo, ou com uma paixão que use lentes corretivas(é possível?), para que o que ninguém nunca decifrou possa ser entendido e que ela mesma possa finalmente se entender e SER.