A menina que abriu a janela

O sol brilhava mais que qualquer dia, o vento estava inquieto e as árvores bailavam. Um ganho insistia em bater em minha janela e acabou me acordando.

Abri a janela e o dia parecia querer me dizer alguma coisa. O céu desenhava formas e as nuvens o ajudavam. Não era um dia qualquer, era o dia em que eu resolvi sair do meu casulo e me abrir para o mundo. Comecei por abrir a janela, esta, que a tempos permaneceu fechada envolvida por uma cortina preta.

Há vários anos, fiquei dentro daquele casulo e ali fiz morada. Não sabia o que eram pessoas, cores, sons e muito menos a vida.

Por causa de uma fraqueza e por não acreditar que eu era capaz de seguir em frente, resolvi fazer o mais fácil – abandonar tudo e todos.

Nesses sete anos só sabia ficar deitada e embrulhada pelo meu edredom vermelho, a cama eu nunca arrumei. Minhas vestimentas eram sempre as mesmas, o pijama branco de bolinha azul e o “vestidinho de chita” que ganhei quando fiz meus quinze anos.

Não tinha ninguém, minha família me deixou quando eu tinha somente dezesseis anos, primeiro minha mãe e, depois meu grande herói, papai. Desde então, significado de família, somente conhecia no dicionário.

Amigos nunca tive e, senti falta disso. Hoje, talvez não mais, pois, aprendi a viver sozinha – eu e somente eu.

O mais engraçado é que minha casa está do jeito que meus pais deixaram, só que hoje, empoeirada e com alguns insetos que me fazem companhia. Às vezes quero mudar tudo, jogar coisas foras e começar tudo de novo, mas, nunca consegui passar do meu quarto, ele é o único que muda por aqui. Às vezes coloco fronhas coloridas, outras vezes prefiro o escuro e silencio que o preto me proporciona.

Meus dias sempre foram iguais, eu acordava, comia o que tinha e voltava a deitar e ali permanecia olhando para o teto até o sono chegar. Tinha dia que comia uma única vez.

Eu, não sei o que acontece, mas, hoje aquele ganho não bateu em minha janela por pura coincidência, mas, por que talvez fosse à hora de me libertar.

Quantas vezes quis fazer isso, mas, minhas mãos sempre trêmulas nunca alcançavam à janela.

Hoje, vi o sol, vi o dia e talvez vi a minha própria vida. Quantos anos se passaram, mas, será que se passaram anos suficientes para que eu não pudesse mais viver? Eu, acho que não.