O Anjo da Guarda do Cachorro
 
Thor era um doce animal, não de guloseima, era um cão carinhoso, educado, ficava no portão olhando o movimento das pessoas. Sua intuição era o faro, ele via a alma de cada um que passava, às vezes assustava os transeuntes, com a carga e voracidade rosnava, grrr! 
Chegou a sua casa um menino distraído e deixou o portão aberto. Thor, um grande pit bul saiu portão a fora ganhando a liberdade. Registrou seu caminho nas grandes e velhas arvores, onde os outros cachorros também já haviam passado. De repente, um minúsculo olhar vira-se para ele, como das outras vezes, ele nunca deu bola, só olhava como de costume.
Pelo seu porte físico e cara de mau, todos os cachorros da rua corriam dele tremendo medo, neste dia ele havia se divertido bastante exclamou, Ah! Como é boa a liberdade. Acho que preciso fazer estas caminhadas diariamente, pois logo estarei velho e necessitarei de vigor muscular para suportar minha idade.
Ao voltar para casa, de repente um susto! Passara um homem na calçada, respirou aliviado, deu meia volta e abanando o rabo descontraído retornou para seu doce e confortável cantinho. Hé! Parece que este dia estava tão bom que algo estava por acontecer e mandar tudo pro beleléu.
Não falei! Apareceu uma senhora, não sei de onde com uma barra de ferro na mão lhe levantou a suspeita anterior, que algo estranho estava por acontecer. Thor aproximou-se da velhinha, e como todo cachorro faz para identificar o sexo oposto, ou reconhecer seu dono, cheirou curiosamente as pernas da senhora. Que não esperou nem a segunda cheirada descambaram-lhe a barra de ferro no seu lombo.
Não deu nem negar, com aquela dor aguda nas costelas, como um trovão, Thor investiu para cima da senhora e agarrou a barra de ferro com seus dentes potentes. Foi a maior gritaria, era o cachorro tentando tirar a barra de ferro da mão da mulher e, a mulher tentando tirar a barra de ferro para defender-se. Nisso apareceu os pedreiros que estavam na construção ao lado da residência, armados de pedaços de paus, pás, rastelo, e por incrível que pareça uma marreta. Será que Thor merecia tanto.
Naquele fuzuê todo, percebia-se que Thor não abandonara a idéia de soltar a barra de ferro. Mas, como a turma do deixa disso vieram armados até os dentes e, no afã de retirar a todo custo o cachorro da velhinha, um dos pedreiros que estava com a marreta desferiu um golpe quase que certeiro no cachorro, porém, acertou a cabeça da coitada da velha.
Pronto, surgiu a primeira gota de sangue na parada, o pedreiro acabara de desmaiar a pobre coitada.
Thor vendo que o caldo poderia engrossar soltou tudo e sentou na caçada, a senhora gritava desesperadamente, não se sabia se era por causa da mordida ou da marretada. Eis que surge Maria, a empregada da família que veio para botar ordem na bagunça, obrigando Thor a entrar pra sua residência.
Parecia que estava tudo resolvido né! Mentira, quando o povo viu que Thor já não demonstrava perigo, recomeçou a gritaria. O povo queria matar o pobre animal. Mas como isto não iria acabar por aqui mesmo, surge a Polícia para investigar o caso e o Corpo de Bombeiros para prestar socorro à vítima.
No dia seguinte, estava estampado nos jornais: “pit bul ataca senhora e quase arranca o braço dela”. Thor não saiu ferido desta briga, porém sua moral foi duramente abalada. Ficou semanas preso no Centro de Zoonozes em observação por um crime que não cometera. Agora entra em cena o Anjo da Guarda que, após ser liberto do cativeiro, sua dona resolveu levá-lo para uma fazenda.
Foi a melhor coisa que aconteceu para o cachorro, Thor saiu da cidade barulhenta, tendo que cumprir com obrigações que não deveriam ser designadas para cachorro nenhum, como cuidar da casa e foi viver em liberdade. Hoje ele brinca até com Tatu, corre atrás das borboletas, toma banho no rio e escuta o cantar diário dos passarinhos. Saiu daquela alimentação a base de ração para poder comer de tudo, sua vida realmente se tornou uma liberdade total.

Fato real

Anna Lucia Tavares
Enviado por Anna Lucia Tavares em 23/10/2009
Reeditado em 22/12/2011
Código do texto: T1882786
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