Um cara legal
Isidoro Machado
Ele andava pelo bairro com se fosse o quintal de casa. Cumprimentava a todos como se estivessem na sua sala. Conhecia todo mundo. Parava num comércio, como o açougue, já levantando a mão e dizendo: Bom dia! - Antonio como está Luiza e as crianças? No mercado: - Como vai Tieko, tudo bem! E seu menino? Na padaria: Como vai seu Manoel? Dona Maria e os netos como estão?
Nos bares, eram comuns os convites para a cerveja. Sinuca, jogava muito bem. Gostava de todo mundo e todos pareciam gostar dele. O bairro era seu mundo. Ajudava a todos, nem precisavam pedir, pois estava sempre disposto. Um cara legal.
Andava por caminhos inviariavelmente iguais. Era a sua rotina, passando nos mesmos buracos, nas mesmas pedras, acariciando os mesmos cachorros, aspirando o mesmo perfume, admirando as mesmas flores.
Até os ladrões eram os mesmos. Também por eles era respeitado e os respeitava. Menos um. Esse ele não conhecia. Esse era covarde, se é que algum não seja. Assaltava Dona Maria, a manicura, a avozinha da Aninha, e outros indefesos. Como suportar isso? Atracou-se com o facínora...
Quando levou o tiro fatal, olhou para aquele menino, e como que para ajudá-lo, sorriu, perdoando-o.