RECADO
Nesta madrugada, desejei ler os grandes poetas. Alguns habitam ao redor da escrivaninha, outros descansam na desordem da cama de achados e perdidos. Não, nenhum desses que estão à mão. Fui à estante, busquei entre os bem guardados, os que restaram, não foram doados; nem emprestados.
No meio do livro de Bandeira, Estrela da Vida Inteira, ao lado de um poema curto, encontrei um recado:
“Querida:
É o que gostaria de te dar.”
Assinado, datado.
O poema anterior é Vou-me embora pra Pasárgada. O que vem depois: Poema de Finados.
No meio, O impossível Carinho, com anotações. Gosto de ver antigas anotações das minhas leituras. Mas a letra não era minha. A surpresa tomou-me de sobressalto, grafada a lápis, inconfundível, ao lado deste poema de Bandeira:
“Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor –
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!”
Ele era assim. Hoje já está com Bandeira em Pasárgada.Tinha uma capacidade enorme de criar e surpreender. Às vezes também me escrevia poemas. Poesia e poetas servem para isso: desconcertar e surpreender a realidade.
22.10.09