"O FAREJADOR" Conto de: Flávio Cavalcante

O FAREJADOR

Conto de:

Flávio Cavalcante

Numa avenida movimentada de uma cidade metropolitana, sempre existe de tudo que há de moderno. Inclusive um baita restaurante conhecido pelos clientes como o ambiente amigo. Por ser um local central, sempre é freqüentado por visitantes de vários lugares diferentes. De modo inclusivo freqüentado por pessoas de escala importante, tipo governadores e há quem diga que até o presidente da república já havia dado o seu parecer no local. O dono, um português conhecido por seu Patrício, tinha os clientes como pessoas da família e exigia um atendimento vip dos seus funcionários para qualquer um que chegasse ao local, mesmo que comprasse uma simples bala.

A hora de maior movimento daquele recinto era por volta de meio dia, por causa das guloseimas oferecidas no restaurante e era famoso pelas suas delícias e atendimento especial.

A noite era um ambiente agradável de música suave e romântica. O restaurante virava palco um encontro com a pessoa amada.

Dentre os freqüentadores do local, existia um que chamava a tenção de todos no restaurante. Todos o chamavam de farejador, pelo fato dele gostar cheirar tudo via dentro do restaurante. Os garçons até brincavam uns com os outros, dizendo chegou o cachorro. Era motivo de gargalhadas na cozinha e dona Zefinha era a cozinheira mais requisitada, pois as guloseimas eram provindas de suas mãos abençoadas. O movimento todo do estabelecimento se devia a arte desta cozinheira que entendia tudo de cozinha.

O impressionante era que o farejador chagava sério, se acomodava em uma das mesas do restaurante e antes de pedir qualquer prato ou bebida, cheirava tudo na mesa e em sua volta, por fim, pegava um talher e cheirava e dizia...

TEM PEIXE AO MOLHO?

O garçon dizia. “Não. Peixe ao molho foi ontem...”

- Como o senhor sabe que ontem foi peixe ao molho? (Pergunta o garçom espantado).

* É que eu senti o cheiro, ora...

O cliente de faro apurado dizia. “Pois é. Eu sei. Senti o cheiro no talher. E gostaria de saborear o prato hoje...

Seu patrício ficava furioso com seus empregados atribuindo de não estarem lavando os pratos e talheres como deveriam. Reclamava, fazia reunião, ameaçava mandar todos empregados embora. E o cuidado aumentava cada vezes mais. Três ou quatro dias depois, a cena voltava a se repetir e o cliente mais uma vez com seu faro apurado sentia o cheiro da comida do dia anterior.

Depois de acontecer o fato umas quinze vezes, o Patrício fez mais uma reunião e pediu pra Zefinha para passar três dias sem tomar banho; pois, ele queria tirar a prova dos nove em cima daquele cheirador que estava comendo o seu juízo. E assim foi feito, exatamente no dia que o dito farejador vinha dar o ar da graça no restaurante.

Seu Patrício chamou a dona Zefinha e mandou que esfregasse os talheres da mesa do cidadão nas partes íntimas. A dona Zefinha não entendeu o motivo, mas obediente ao seu patrão fez a tal façanha. Quando ela voltou, o português fez questão de pôr a mesma mesa exclusiva e ele mesmo ia verificar de perto o que o farejador ia falar.

Seu patrício preparou a mesa como se estivesse esperando uma autoridade. E quando o cidadão chegou foi logo recebido pelo dono do estabelecimento, levou-o para a mesa e deixou-o bem á vontade.

Eu posso começar a minha cheiradinha de praxe? (Seu patrício não fez objeção nenhuma e pediu que ele ficasse á vontade).

O cidadão cheirou tudo que viu na sua mesa, quando pegou o talher, cheirou, cheirou e cheirou... Começou a ficar tonto. Fez menção que ia desmaiar e a pressão subiu. Seu patrício teve que chamar um médico com muita urgência.

O que foi? (Perguntou o Patrício).O que o senhor estar a sentir?

(Retruca o homem com faro apurado). Nada... Eu sabia que eu conhecia esse cheiro de algum lugar... Só não sabia que a Zefinha era a sua cozinheira... (Aí desmaiou e foi levado ás pressas pra o pronto socorro e depois dessa façanha, o farejador nunca mais apareceu no estabelecimento. Há quem diga que ele foi embora da cidade e jurou nunca mais voltar).

- FIM -

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 21/10/2009
Código do texto: T1878346
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