SANTA INGENUIDADE

SANTA INGENUIDADE

Os povos mais antigos tinham boas e péssimas qualidades e a pior delas era sem sombra de duvidas, a intolerância; na Vila de São João, as pessoas eram religiosas e caridosas, mas tinham enraizada a falta de compreensão com as minorias, principalmente com as chamadas mulheres da vida alegre.

Essas discriminadas mulheres não tinham direitos, nem andar livremente pelas ruas elas podiam, porque as famílias se sentiam ofendidas e fechavam portas e janelas quando elas passavam, senhoras e jovens de família eram proibidas de falar com elas ou até mesmo olhar para as infelizes elas podiam.

E por todas essas restrições coisas divertidas aconteciam, porque as crianças não tinham a menor idéia do porque daquelas atitudes, já que ignoravam tudo a respeito da realidade da vida e Celinha como todas as crianças era totalmente ingênua e despreparada para lidar com essas diferenças sociais.

Com quase dez anos de idade, Celinha brincava com suas bonecas e nunca saia de casa desacompanhada, mas quando um alegre circo chegou na vila, a menina ficou doida para assistir aos espetáculos; esbarrou na proibição de sua mãe e uma noite saiu escondida de casa e foi ver o circo de perto, ficou encantada .

Quando a banda de música chegou para abrilhantar a função, João um dos músicos que era namorado de uma tia de Celinha, perguntou se ela queria entrar com a banda e ela aceitou o convite; já de dentro a garota subiu na arquibancada e se assentou perto de uma senhora e ficou conversando com ela.

Seu divertimento teve pouca duração, porque foi vista pelo irmão mais velho, que veio correndo e gritou: saia já daí Celinha e vá para casa, hoje você vai levar uma surra; a menina se despediu da senhora e desceu depressa da arquibancada, pensando que ia ser castigada pela ida sem autorização ao circo.

Ao chegar muito assustada em casa, teve a maior surpresa quando sua mãe disse: você está louca Celinha, porque estava conversando com aquela mulher? ela se explicou dizendo que aquela senhora era muito boazinha e educada, mas sua mãe se zangou mais ainda e disse: aquela mulher não é uma senhora, não fale com ela nunca mais, ela é ma mulher da vida.

Nesse ponto Celinha não entendeu mais nada, porque ao que ela sabia e entendia toda pessoa é da vida, mas calou-se com suas duvidas e nada mais lhe foi explicado; só depois de muitos anos aquela ingênua menina, descobriu o que significava ser uma mulher da vida e achou que aquilo não era nada alegre.

Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 18/10/2009
Código do texto: T1873877
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