MASCARADAS
MASCARADAS
Dona Santina Moscato era uma imigrante italiana, oriunda de Veneza e seu assunto predileto era o carnaval veneziano, com suas luxuosas fantasias e suas lindas e elaboradas mascaras; para ela o carnaval brasileiro era uma bagunça e ela não se cansava de fazer comparações entre os dois eventos.
Nessas comparações o carnaval brasileiro saia sempre perdendo, porque ela não poupava criticas as fantasias ou a quase total nudez dos participantes e falava por horas sobre as recatadas e lindas vestimentas venezianas; como ela era uma boa pessoa, ninguém se zangava e achavam uma certa graça no assunto.
Até que em um certo carnaval, resolveram propor a dona Santina a idéia de se fazer um carnaval veneziano em Cruz dos Desvalidos, a cidadezinha onde ela vivia; a dona adorou a idéia e chamou a si a chefia dos arranjos necessários, cortou os tecidos e com a ajuda das demais senhoras, costurou as fantasias.
Tiveram dificuldades para preparar as mascaras, mas o Sabino era um velho habilidoso e conseguiu fazer uma quase aceitável imitação das mascaras venezianas; a bem da verdade mais pareciam carantonhas de marungos de folia de reis, mas dona Santinha se deu por satisfeita, e assim ficou tudo pronto.
No sábado de carnaval o Bloco Veneziano saiu desfilando pelas ruas, precedido por mascarados carregando bandeiras e seguido por uma falsa banda medieval, que em falta de outra coisa executava chorosas valsas brasileiras e o desfile estava até bem bonito, mas tinha tudo para dar errado e deu mesmo.
Tião de Leo estava muito ofendido, com aquela historia de carnaval estrangeiro em terra brasileira e resolveu dar o troco na italiana; as escondidas ele preparou um bloco de sujos, com tambores, recorecos, cornetas, e boas vozes e quando os elegantes mascarados apareceram na rua principal, eles entraram.
O som das elegantes valsas desapareceram, abafadas pelo batido de um animado samba, cantado em altas vozes; o tropel ritmado dos pés dos sambistas, não deixavam duvidas de quem era dono da situação, para piorar as coisas o povo que a tudo assistia, se bandeou atrás dos sujos, ajudando na cantoria.
Os mascarados foram literalmente tirados da rua pelo irreverente Bloco de Sujos e a animação aumentou quando uma carroça enfeitada surgiu carregando um barril de cachaça, ai o carnaval esquentou e tome sambas e marchinhas, toda a comunidade entrou na folia animadamente, foi um sucesso.
A pobre dona Santina nunca mais falou em mascaras venezianas e muito menos em carnaval, porque ela nunca pensou que o samba brasileiro derrotasse o luxo e a elegância de um carnaval veneziano; ela continuou amiga de todos e com o passar do tempo desistiu de mascaras e música lenta e saia todos os anos fantasiada de baiana, sambando o nosso samba.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
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