Enigma

Fim de tarde de quarta-feira, um vento frio e intenso revoltava as ondas que batiam violentas nas pedras banhando-as com uma espuma densa e chistosa. Aquele bailar a entorpecia, identificava-se com ele. Era exatamente assim que se sentia. Batendo em rocha insistentemente sem resultado. Precisava resolver aquilo. Com certeza não agira corretamente jogando tudo ao mar, mas não vira outra saída, pensou ser aquela a atitude mais prudente para o momento. O vento aumentara e embaraçava agora os seus cabelos. Emaranhados também estavam seus pensamentos, confusos, perdidos. Acabara de lançar fora seus mais preciosos escritos, aqueles em que ainda não havia publicado em lugar algum, mas que, ao mesmo tempo comprometiam extremamente todos os personagens, pessoas reais, estórias verídicas e sem pseudônimos.

Olhou nos olhos dele e com lágrimas contidas falou:

-Está feito, Alberto. Ninguém jamais irá ler o que estava lá.

- Você tem certeza de que não tem cópias?

-Você mesmo deletou tudo, como pode haver?

Existia uma cópia. Ela já havia encaminhado por e-mail a Antônio, um amigo que lhe corrigia os textos. Ele nem imaginava o que tinha nas mãos, e Alberto nem supunha que ele existisse.

Alberto não questionou. Ele mesmo já tinha vasculhado todo o computador de Ana Paula, não encontrara cópia alguma. Sem despedir-se dela saiu, satisfeito, certo de que aquelas loucuras que sua esposa havia escrito jamais seriam publicadas.

Ana Paula esperou que o carro dele tomasse distância, desceu das pedras, foi até o bar mais próximo e pediu para que lhe deixassem usar o telefone.

-Antônio, sou eu! E então, você recebeu a cópia do Enigma?

-Olá, querida! Tudo bem? O que há? Pra que a pressa? Recebi ontem e você já a quer hoje? Aninha, vá descansar!

-Antônio, por favor, preste atenção! Esta cópia que você tem é a única que eu tenho também. Salve-a em dois disquetes diferentes, amanhã pela manhã eu vou aí, e conversamos melhor. Enquanto isso, ninguém, nem sua mãe, nem a minha, absolutamente ninguém poderá saber que ela existe.

Desligou o telefone, agradeceu e pediu um café com leite bem quente, precisava pensar.

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Continua...

Catia Schneider
Enviado por Catia Schneider em 04/07/2006
Reeditado em 05/07/2006
Código do texto: T187383