PAREM ESSE TREM!...
Acordei cedinho, como faço todas as manhãs.
E ali estou eu em frente ao espelho do quarto, para me aperaltar para mais um dia de jornada.
Eis quando alguém, do outro lado, me aterroriza querendo a todo o custo que eu entre.
Balanço e torno a balançar, tentando livrar-me, mas não consigo e acabo finalmente por acompanhar esse ser horrendo para o interior do espelho.
Pergunto-lhe:
_Porque me fizeste isso?
Ele respondeu que apenas me queria mostrar algo de muito importante.
Convidou-me para conduzir com ele o trem da discórdia.
E eu questionei-me num ápice o porquê desse nome, ao que ele me disse apenas que com o decorrer da viagem iria descobrir.
Assim fiz.
Entrei na primeira carruagem e , acomodei-me.
Foi-me servido um delicioso banquete para que tudo se tornasse mais agradável.
Fui saboreando uma boa tosta e um sumo de laranja natural.
Mas a certo instante chegou-me uma náusea tão forte, que não aguentei.
_O que se passa?_Perguntou o companheiro de viagem.
Eu muito aborrecido disse-lhe:
_Com que então o que se passa?Ainda fazes cara de tonto.Era a porcaria deste sumo, parecia que estava envenenado.
_Não te admires.Isso ainda não é nada._Respondeu ele._É só apenas o começo. É para veres o que o Homeme anda a fazer lá na terra, sim, lá no outro mundo de onde vieste.
Porque vocês vivem lá, mas acomodam-se, assim como fizeste aqui logo que entraste e estão-se borrifando para tudo o resto.
Então comecei a pensar seriamente no motivo porque me tinha ele capturado.
Mas continuámos...
A paisagem era encantadora, mas de repente parecia estar a ficar um calor insuportável ali dentro.
Abri as janelas e qual não foi o meu espanto quando me deparei com a floresta a arder em chamas devoradoras.
_Estás a ver?_Questionou-se o companheiro._ Depois não quereis que o ar puro vá desaparecendo pouco a pouco. Não se evitam, nem tomam cuidado com as beatas dos cigarros, ou então simplesmente incendeiam a mata sem qualquer escrúpulo.
Assim não se vai muito longe de certeza.
Afinal ele tinha toda a razão. É que o Homem, a cada dia que passa, destrói o que existe de melhor, e auto-destrói-se a ele próprio.
Só se pensam nas novas tecnologias e os valores morais e éticos vão ficando para trás.
Vêem-se crianças mal tratadas, abandonadas, a morrerem de fome, espalhadas no chão por esses cinco continentes.
Vêem-se mendigos sem terem onde dormir e ninguém lhes estende as mãos.
E para além de tudo isto, vê-se que o mundo está um caos autêntico.
A Natureza está mudada, mas para pior, bem pior.
Agora entendo bem, porque me quiseste trazer aqui.
Queres que seja a partir de agora o mensageiro para um vida melhor, para um mundo mais aberto e para uma Natureza Viva e sem Maldade, não é isso?
Ele respondeu, que faria muita questão de que assim fosse.
Então eu percebi que ele, afinal não era tão horrendo assim, como o tinha descrito.
Horrendo era eu.
E a pessoa que tentava puxar-me no espelho nem sequer existia.
Era a minha própria imagem, mas denegrida por um golpe da gilete de barbear.
E porque acontecera?
Porque parece que dormia ainda em pé em frente ao espelho, e que de repente me deixei incubar num sonho profundo e acordei dele sobressaltado, gritando em alta voz:
Por favor parem esse trem, parem o Universo...Quero apear-me!