"AS PASSAGENS SÓ DE IDA" Conto de: Flávio Cavalcante

AS PASSAGENS SÓ DE IDA

(História de Zé viúvo).

Conto de:

Flávio Cavalcante

As histórias impressionantes contadas pelo povo, que ainda marca a história de uma pequena cidade do interior do nordeste.

Era uma manhã fria, o tempo ainda não estava propício para o povo desfrutar a manhã na rua; pois o frio veio mesmo pra arrebentar. O caminhão da Usina chega à cidade, trazendo os trabalhadores da área rural para fazer o exame de Saúde.

Na época não existia hospital e os exames eram feitos em um posto de saúde improvisado pela prefeitura. O motorista do caminhão era conhecido por Zé Viúvo. Assim que terminaram os exames; todos subiram novamente no caminhão para a voltar a Usina e dar continuidade aos afazeres naempresa; não sabiam eles, que para muitas vidas presentes naquele caminhão seria a última viajem.

O caminhão segue na sua lida de volta á empresa normalmente. Ao chegar na travessia da linha férrea, entre a cidade e a Usina, o trem já apitara avisando estar bem próximo de um cruzamento, pedindo para o Zé viúvo parar o veículo, mas, ninguém sabe o que realmente aconteceu; ele era acostumado passar por aquele local todos os dias e sabia do perigo que se encontrava ali.

Numa fatalidade, segundo os contos em fontes fidedignas, o Zé Viúvo não ouviu o apito do trem e daí, houve o desastre. O trem pegou o caminhão pelo meio e matou muita gente. Zé Viúvo ficou preso nas ferragens; o pânico era intenso. Muitos curiosos atrapalhavam os voluntários que estavam ali, tentando socorrer as vítimas. Uns para socorrer os sobreviventes; outros, para separar os cadáveres.

Enquanto estava esta agitação outro grupo tentava tira o Zé viúvo das ferragens, pois, estava acordado segurando fortemente o volante. Ouvia-se os gritos do motorista que pedia socorro aos espectadores que ali estavam e muitos tentaram ajudar, mesmo em condições de difícil acesso. O caminhão se encontrava em chamas.

A temperatura era muito alta e dificultava de alguma forma a aproximação dos voluntários ao caminhão. A chama aumentava cada vez mais e Zé Viúvo aos berros, no interior da cabine destroçada sendo torrado aos poucos como um churrasco na brasa, e o desespero aumentou ainda mais, com aquele espetáculo nada agradável.

Ele foi morrendo aos poucos, a fumaça tomou conta e dentro do carro o Zé viúvo já estava quase invisível; os gritos pareciam se calar diante de tanto pavor, o silêncio da morte marcou nos olhares dos sobreviventes que viam ao vivo aquela cena escabrosa.

Ninguém conseguiu fazer absolutamente nada para salvá-lo. Ao baixar a chama; o que restou do Zé Viúvo, foi uma miniatura de ser humano torrado, segurando firmemente no volante, o único artefato que restou do caminhão; uma coisa terrível; ele parecia um boneco.

O trem virou e também esmagou muita gente, foi realmente um desastre que marcou na história da terra nordestina.

Um fato curioso e inexplicável; é que no meio dos viajantes do caminhão; vieram duas crianças; segundo depoimento de um familiar, um deles teve um sonho misterioso numa noite anterior. Disse uma das crianças, que no sonho, ela e o irmão iam se enterrar no mesmo caixão em um acidente; coisas como estas que ficamos perguntando se é coincidência ou não?

No acidente colheram das crianças só os pedaços de corpos e realmente foram enterrados em um só caixão como uma delas havia premeditado.

O mais impressionante não parou por aí. Contam algumas pessoas com credibilidade fidedigna, que outro motorista de carro de praça, conhecido por Antônio Mateus; amigo de Zé Viúvo, depois de um certo tempo do caso ocorrido, este, ia direto levar e trazer passageiros para a Usina e numa determinada noite, ao passar pelo mesmo local do acidente; tomou o maior susto de sua vida; pois estava bem diante de seus olhos, o próprio amigo que morreu há alguns dias atrás acenando a mão, pedindo uma carona. Desesperado, Mateus sentiu um arrepio como se tivesse vendo um satanás à sua frente; de olhos arregalados ao ver nitidamente aquela assombração, aumentou a velocidade do carro e passou virando o rosto para o lado contrário, acelerando o veículo além do permitido. Coisa em vão. Repentinamente, já suspirando aliviado do susto, mas, o carro ainda em alta velocidade, conta o próprio Mateus, que o Zé Viúvo, mesmo com o carro em movimento, abriu a porta, entrou no carro e ficou sentado no banco traseiro. Estatelado sem ação nenhuma, Mateus não sabe como foi que conseguiu chegar a Usina. O fato voltou a se repetir outras vezes, e para termos como provas da grande verdade deste conto; a dona Zefinha Pinheiro conhecida na cidade de São José da Laje, pegou o carro de Mateus também em direção à Usina e no caminho, aconteceu novamente o fenômeno, agora com a passageira presente; Mateus viu toda a cena, mas, ficou calado. Para a surpresa de Antônio Mateus, a dona Zefinha não viu, mas sentiu uma presença muito forte chegando a se incomodar e o motorista só veio falar o que estava acontecendo depois que chegou a Usina Serra Grande.

- FIM -

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 17/10/2009
Código do texto: T1871781
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