A SACOLA DE JÓIAS

Vejam bem! O que vou lhes contar é algo verídico, acontecido em Bauru, uma cidadezinha com pouco mais de trezentos mil habitantes no interior de São Paulo, e dela tenho conhecimento, pois lá estava passando férias, e a historia foi veiculada em todos os jornais da região.Dentre muitas outras, essa me chamou a atenção porque se tratava do ser ou não ser honesto, e confesso que aprendi muito com ela.O texto era o seguinte.

A SACOLA DE JÓIAS

Hoje andando pela rua do bairro onde moro, deparei-me com uma sacola, era uma sacola comum igual a tantas outras que já vi, porem, fui levado por uma curiosidade enorme para saber o que havia dentro dela, pois ela apresentava um grande volume. Para minha surpresa! Quando a apanhei e olhei em seu interior vi uma grande quantidade de jóias, naquele momento fiquei um pouco assustado e também eufórico.Olhei para todos os lados, mas ali só estava eu, então fechei a sacola e fui para casa.Lá já mais tranqüilo comecei a conferir o seu conteúdo. Jóias lindas!E que mesmo sem um grande conhecimento técnico avaliei ser muito caras, minha esposa as viu e também ficou maravilhada.Naquele momento começou o grande conflito entre o certo e o errado, entre o que é moral e imoral, entre o devolver ou ficar com elas, o meu senso de honestidade pedia para devolvê-las, mas por outro lado pensava no que poderia comprar, eu tinha uma vida de classe media não me faltava nada, mas um carro melhor ou uma casa nova não seria nada mal, acho ate que poderia me livrar da sogra, mandando ela para o Japão, já que o diabo não vem buscar.Mas brincadeiras à parte, o impasse continuava, foi ai que me lembrei de uma certa vez na escola quando um amigo achou um relógio e não queria devolvê-lo, o professor foi chamado a intervir. Seu nome era Sr. Cifras, ele era conhecido por sua grande honestidade já que uma vez achou uma maleta cheia de dinheiro e a devolveu para o dono, alem disso também era uma pessoa muito religiosa, todos gostávamos dele.Ele mandou que o garoto devolvesse o relógio. Porem vou contar-lhes uma historia ele disse:

_ Uma certa vez um homem caminha pelas ruas da cidade onde morava, de cabeça baixa e muito triste, ele tinha saído do hospital a onde seu filho estava internado.Sua tristeza era imensa, e não para menos, os médicos haviam lhe dito que seu filho tinha uma doença muito grave e precisaria ser operado ou morreria, e que o sistema publico de saúde não ia cobrir essas despesas por falta de verbas que não foram repassadas. O pobre homem tentou de tudo, foi a vários lugares, mas não conseguia ajuda, era sempre a mesma conversa de que não se podia fazer nada. Ele chegou a ir a um hospital particular para pedir aos médicos que operassem seu filho e que depois daria um jeito de pagar, mas foi inútil.Todos diziam que se ele não arrumasse o dinheiro não tinha como operar, ele chegou a implorar de joelhos e nada, então quando ficou furioso e questionou os médicos sobre o que era mais importante, se uma vida humana ou dinheiro, foi colocado para fora a supetões pelos seguranças. Não tinha o que fazer ele pensava, a onde arrumaria tanto dinheiro, não poderia roubar porque era contra seus princípios, pois lembrava que apesar de pobres seus pais sempre buscaram lhe dar a melhor educação e sempre diziam que a honestidade era o maior bem que um homem poderia ter. Mas ele era um homem de grande fé, então pedia a deus que lhe mostrasse uma solução. Nesse momento tropeçou em uma maleta, ela era preta e grande, ele a recolheu do chão, e olhou para todos os lados na esperança de ver o dono e devolvê-la, mas não viu ninguém, então seguiu para sua casa ainda muito triste e pensando no seu filho que estava no hospital a beira da morte.Quando chegou, se juntou a sua esposa que o aguardava e começaram a chorar e orar pedindo a Deus pelo seu filho.Nisso seu outro filho menor viu a maleta e começou a brincar, ela caiu no chão e se abriu, quando eles olharam viram vários maços de dinheiro, maços de cem e de cinqüenta reais.Ficaram alguns minutos parados se olhando, então ele foi ate a maleta e viu que realmente era dinheiro de verdade, ficou bobo, sua esposa também não acreditava naquilo, só pode ser um milagre ela dizia, final aquele dinheiro seria a salvação do seu filho. Porem, depois de alguns minutos pensando, ele disse que não podia ficar com aquele dinheiro e que buscaria o dono para devolvê-lo, sua esposa no inicio ficou muito brava eles até discutiram, mas como também era uma pessoa muito honesta e temente a Deus logo ficou convencida de que aquilo era o certo a fazer.Lógico que sempre vinha uma duvida quanto a devolver ou não, afinal seu filho estava morrendo, mas o seu sentido de honestidade falava mais forte.Ele começou a procurar pelo dono da maleta de maneira discreta,ou apareceriam milhares de donos reclamando o direito, mas por incrível que pareça não ouviu nenhum comentário por menor que fosse sobre alguém que a tivesse perdido, o que era um pouco estranho dado a grande quantidade de dinheiro.

Mas ele não desistiu, ate que conseguiu encontrar o dono, tratava-se de um político importante da cidade, ele foi ate sua casa para devolver o dinheiro e no caminho a velha duvidada apertava seu coração, mas ele sempre pensava que aquilo era o correto.Quando chegou lá, viu que era na verdade uma grande mansão, tocou o interfone e disse que queria falar com o dono da casa, não obteve grande sucesso então insistiu varias vezes, ate que o homem saiu acompanhado de um enorme segurança perguntando do que se tratava, o curioso é que já foi logo dizendo que não daria nenhuma esmola para ninguém.Nosso querido amigo honesto sorriu e falou não queria nenhuma esmola e sim devolver algo, o homem quando viu a maleta ficou pálido quase sem palavras, o honesto lhe entregou o achado esperando que ele lhe disse-se pelo menos obrigado, mas ele se virou e foi saindo.Então o honesto ficou com muita raiva tomou-lhe a frente e perguntou porque nem lhe agradecera, o infeliz respondeu que ele não fizera mais que a obrigação de devolver o que tinha achado já que aquilo não era seu.

Bem para resumir a historia, seu filho realmente acabou morrendo, e ele ficou como muito remorso, não porque havia devolvido o dinheiro achado já que não era seu, mais sim porque meses depois ele viu no noticiário que o dono do dinheiro que como já disse antes era um importante político, tinha desviado milhões dos recursos destinados a saúde publica e que certamente seu filho foi um dos prejudicados por isso.E doía ainda mais seu coração quando pensava não ter interpretado direito o sinal, pois quando tropeçou na maleta pedia a Deus que o ajudasse e ele o ajudou, mas ele preso as suas segas convicções a desprezou.Nesse momento um aluno o interrompeu e perguntou se então não deveria ser honesto.Ele o olhou firme nos olhos e disse:

_ Sim, todos temos a obrigação de ser honesto, mas na vida, tudo é uma forma de interpretação.Os alunos não entenderam muito bem, então ele seguiu explicando.

_Vamos dizer honesto no sentido de legalidade, e desonesto no sentido de ilegalidade, já que vivemos em convenções coletivas, algumas vezes o que é legal, é imoral e o que é moral, é ilegal. Vejam! Se o homem honesto tivesse ficado com o dinheiro não seria algo legal, pois não se pode ficar com aquilo que não lhe pertence, da mesma forma quando um pai de família rouba uma galinha para alimentar seus filhos,vai para a cadeia, porque nos dois casos a lei estaria sendo infringida, mas seria moralmente compreensivo pois é uma questão de sobrevivência.Já no outro caso, apesar de o dinheiro ter sido desviado pelo político safado que deveria ir para a cadeia, e ao meu ver responder por assassinato, pois quando existe um ladrão nessa classe os prejudicados são muitos, normalmente eles são beneficiados por leis que eles mesmos criam e não lhes acontece nada, é assim também quando votam seus aumentos de salário acima de qualquer media dos miseráveis, não cometem nada fora da lei porem acho totalmente imoral, visto que muitas pessoas morrem nas filas dos hospitais ou de fome por não terem nenhum recurso financeiro.Portanto o sr Honesto deveria primeiro ter investigado de quem era aquele dinheiro e se a falta dele prejudicaria essa pessoa, e só nesse caso devolvê-la, pois alguém que perde uma maleta cheia de dinheiro não deve estar precisando tanto dela.Ele finalizou.

Bem! Estou contando essa historia no caminho de volta para casa, investiguei e descobri que as jóias perdidas são de uma joalheria famosa aqui da cidade, e que um de seus funcionários a perdeu no transporte da fabrica para a loja. Ah! Você deve estar se perguntando se devolvi! Bom, deixo isso no ar, e pergunto:

_ O que você faria? Devolveria ou não?

Autor desconhecido

Bauru, 12 de Outubro de 2009.