GIROU, GIROU E DANÇOU

GIROU, GIROU E DANÇOU

O atendimento em bancos no passado era feito por funcionários muito bem educados, que atendiam os clientes com toda atenção, serviam água e cafezinho e pareciam nunca ter pressa; cada cliente se sentia o primeiro e único, devido ao atendimento preferencial que recebiam e era assim que Seu Zezeca se sentia.

Ele era fazendeiro e passava a maior parte do tempo cuidando de suas lavouras de café e por isso só vinha a cidade uma vez em cada mês para assistir a missa e depois visitar o Banco da Lavoura onde cuidava de seus negócios; era recebido com a usual gentileza do gerente, tomava um café e saia feliz.

Os anos passaram e Seu Zezeca envelheceu, mas continuava cuidando da lavoura e de seus negócios pessoalmente; as mudanças no atendimento bancário eram visíveis, mas não para ele que era sempre bem recebido como sempre, devido a sua conta ser muito antiga e seu dinheiro ser em grande quantidade.

Os filhos do velho pediam: papai deixa os negócios conosco, o senhor precisa descansar e ele respondia: o olho do dono é que engorda o boi, enquanto eu viver cuido de tudo e cuidava com mão de ferro; detestava novidades e suas coisas tinham que durar para sempre, seu carro por exemplo, era um velho chevrolet ano 38.

Quando os bancos se tornaram informatizados ele estava doente e passou vários meses na fazenda se recuperando e durante o repouso forçado ele resolveu trocar o velho carro por um mais moderno; assim que ficou forte foi ao banco acompanhado de um filho, para financiar o carro novo.

Seu Zezeca parou na rua para falar com um amigo e o filho entrou no banco sem esperar por ele; quando terminou o assunto, ele se encaminhou para a porta do banco e viu pela primeira vez na vida uma porta giratória, sem entender direito que coisa era aquela, o velho esticou os braços e entrou empurrando a porta.

Com o impulso forte, a porta girou rapidamente e Seu Zezeca saiu por onde tinha entrado, caindo tonto estatelado no passeio, foi um susto e seu filho veio correndo para

socorre-lo; ele se levantou injuriado e se recusou a entrar novamente no banco, voltou zangado para a fazenda, com dor na perna.

No dia seguinte uma filha disse: papai, eu vou com o senhor ao banco terminar a compra do carro novo e ele respondeu: nunca mais entro naquele banco, aquela porta louca me girou, girou e eu dancei estatelado no passeio; você e seus irmãos cuidam dos negócios daqui para a frente, estou velho demais para enfrentar coisas modernas e tenho o dito.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 13/10/2009
Código do texto: T1863931
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