PORCELANA. - ou Versos De Uma Prostituta
As tardes caiam num suspiro. Numa mistura de sons e tons, que enamoravam as mulheres que se debruçavam nas janelas. Apaixonadas.
Eram moças que sonhavam com um simples gesto de amor. – ou mesmo paixão. E não pediam muito. Queriam apenas ser amadas.
Eram como rosas, que ao abrir suas pétalas, confessavam-se criminosas pelo simples fato de existir. E pecassem por ter sua beleza. Como se o amor fosse um pecado inafiançável de se ter. Ou viver.
As vezes, lançavam-se. Laçavam-se apaixonadas entre abraços e nós. Como Julietas incompreendidas numa calça jeans. – e versos. Apaixonadas. Nuas. Cruas e amarrotadas. Como as canções de amor.
Embriagavam-se com poesia. E não temiam a palavra romântico. Talvez até amassem mais a palavra do que o homem. Afinal, os homens vestiam-se imundos com as suas roupas, e iam embora. As palavras não. As palavras jamais as abandonariam. Pois não lhes tocavam a carne. Mas a alma.
Quantos homens passaram pela noite? Elas não lembram. Quantos homens passaram pelas suas pernas? Elas querem esquecer. Já basta o primeiro. Que com um ar galante, lhes levou o que mais tinham de valor. A inocência.
Elas eram amadas. Eram degustadas. Eram odiadas por todos. Um cuspe. Um vômito. Um aborto. Por onde quer que passassem. Mas eram apenas bonecas de porcelana. Que amavam. Que sonhavam. Que riam e que choravam. Mulheres, que amavam poesia.
(...)
As tardes caiam num suspiro. Num vai-e-vem de cores pinceladas por batom. Num misto de tons e suspiros. Que não negavam a vaidade. – ou a idade. E as moças? Viviam debruçadas. Cada uma em sua janela. Enamorada. Apaixonada.
Eram prostitutas? Sim! E mais do que tudo, eram mulheres!
(Ismael Alves)