"O MUDO FALANTE" Conto de: Flávio Cavalcante

O MUDO FALANTE

Conto de:

Flávio Cavalcante

É estupefata a perfeição da natureza. De forma que a gente aprende a cada dia que passa. Este fato eu presenciei e caio na real quando aquele ditado popular diz que “Deus não dá asa á cobras” ou mesmo “Deus dá o frio conforme o cobertor”. Vejo nestes ditos, que todos eles têm uma razão de existir.

Eu já vi muitas coisas na vida, mas um mudo fofoqueiro! Juro que foi a maior surpresa que já tive em toda a minha vida. É de se perguntar se isto realmente é verdade. Também perguntaria se eu próprio não tivesse presenciado.

Antes de chegar ao trabalho, fui passando numa loja de iguarias e fiz um lanche matinal. O bochicho já tinha chegado lá. Eu ouvi alguém falar “Eita mudinho fofoqueiro” Fiquei logo antenado para saber do que se tratava. Quando descobri que o tal mudo era o mesmo que trabalhava comigo, saí correndo para a empresa para ver o que estava acontecendo. Realmente tava uma imensa confusão lá dentro. Alguns colegas da repartição da empresa estavam querendo pegar o mudinho, mas com esperteza de um gato, toda vez ele se escondia para não apanhar.

O mudinho era um funcionário antigo na empresa e todos o apontavam como X9. Qualquer coisa que visse de errado, ele fazia o maior esforço, ia buscar força até do além para balbuciar o nome do acusado. Ele ia direto a mesa do diretor e só saía da sala do empresário quando conseguisse entregar o empregado que ele estava acusando.

A empresa já estava em pé de guerra e os funcionários não agüentando mais resolveram fazer uma reunião com o dono da empresa afim de dar um jeito naquela situação que já estava demais.

O tempo se passava e nada se resolvia com relação ao mudo falante. Estava um clima nada agradável naquela empresa; mas nem todo dia é o dia da caça. Um dia pode ser o dia do caçador e aí a água muda pro vinho do dia pra noite.

Assim aconteceu. Era um fim de semana, final do expediente. Todos esperavam o horário para ir embora. A recepção da empresa já estava lotada com alguns funcionários que só aguardavam a hora para bater o cartão.

Deu a hora de começar a carimbar o cartão na máquina elétrica e todos fizeram uma fila rotineira. Naquela noite o mar não estava pra peixe para o mudinho. Repentinamente entra pelos corredores da empresa a filha do empresário e o mudinho querendo ser educado e aproveitar para dar uma puxadinha de saco, perguntou a coroa solteirona desprovida de beleza e corpo imperfeito se ela estava grávida. É HOMEM OU MULHER? Perguntou o mudinho meio sorridente e a moça encarou aquele ar de riso como um deboche vindo do mudo mal educado.

Todos pararam para ver a cena, aproveitando para dar um atiço; pois era o momento que todos estavam esperando há bastante tempo. Começaram a rir propositadamente e ela não se conteve voltou e sacou-lhe a bolsa nos peitos do mudinho, pulou no pescoço dele e bateu muito na cara. O mudo falante teve que sair da empresa ajudando pelos colegas de trabalho direto pro hospital. Moral da história é que o mudinho mexeu na ferida da filha do empresário. O mudinho foi socorrido ás pressas para o hospital e ficou internado por três dias com arranhões e hematomas gravíssimos. Quando saiu do hospital recebeu sua carta demissão para alívio dos funcionários da empresa. A vergonha foi tanta que o mudinho nunca apareceu pelos corredores da empresa, mas virou referência entre os colegas quando queriam fazer uma brincadeira entre eles, acusando alguém de ser X9, diziam logo. Não vai dar uma de mudinho aqui não, hein? Todos caíam na gargalhada num ambiente tranqüilo e de muita paz.

- FIM -

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 05/10/2009
Código do texto: T1849735
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.