O ilhado
O ilhado
A lua era cheia mas as nuvens a cobriam e passeavam pelo céu noturno como fantasmas negros e esfumaçados.
O mar dançava ao ritmo do vento forte.
A luz amarela do velho farol iluminava os rochedos e uma sombra, pertencente à um velho de barba e cabelos brancos, face sulcada e marcada pela exposição ao sol e ao vento. Era como uma rocha alterada e maltratada pelas intempéries, e estava sentado na borda do penhasco onde o farol se encontrava. Como as montanhas resistem aos séculos, ele resistira aos anos de trabalho pesado no mar, com suas outrora impecáveis roupas de capitão e seu quepe, que ainda se encontrava em sua cabeça.
Agora ele estava velho. Tinha sido deixado para trás, operando o farol.
A função monótona lhe tirava o ânimo e fazia-o sentir-se inútil, vendo navios chegarem e partir enquanto continuava ali parado, observando apenas.
Seu coração estava no mar, batia no mesmo compasso em que as ondas rebentavam na costa.
Navegar era ter liberdade como as gaivotas, acordar cada dia num novo porto e descobrir que o horizonte nunca tinha fim.
O velho suspirou e puxou com força o ar repleto de maresia.
Talvez, logo ele voltasse a viajar; dessa vez por portos ainda não visitados, por rotas desconhecidas, jamais desbravadas, de onde ninguém retornava.