ATRAVESSANDO O PORTAL

ATRAVESSANDO O PORTAL

Inúmeras são as histórias. Cada um de nós já ouviu diversas . Muitos já tiveram essa imaginação.

Atravessar o portal é a sensação da chegada e da partida. É o tentar entender o preenchimento do nascimento e o vazio que a morte deixa nesse espaço que essa vida ocupa.

Eu, particularmente, vejo o portal como um desenho de nuvens, muro de nuvens e um enorme e sempre aberto portão, sem portas, com dois pilares de madeiras.Em cima uma travessa, também, de madeira com adornos entalhados. Os adornos não estão bem definidos, mas lembram os que usualmente são usados nesses relógios, antigos, de parede.

O portal tem um lado de nuvens com tonalidades claras e outro com elas um pouco, só um pouco, mais escuras.

O lado claro é mais alto, com ondulações.

O lado um pouco mais escuro, mais baixo e plano. Não chega a haver degrau no encontro dos dois lados, bem no meio dos dois pilares e da travessa, com entalhes parecidos com os dos relógios antigos.

Vejo o lado mais baixo, mais escuro e mais plano como o lado em que estou agora.E, vejo o outro como o lado em que já estive imaginariamente, em sonhos, contos, leituras e que já foi, também, atravessado por visitas que tive a sensação de ter recebido.

O lado desconhecido do Portal é silencioso, mas, me parece mais móvel, onde as coisas se movem com uma velocidade espantosa.

O espaço é infinitamente maior que o do lado conhecido.

O lado desconhecido não tem teto. Ao contrário desse nosso lado, que tem.O teto vai até a altura da travessa dos pilares. A parte de cima do teto é ocupada pelo lado desconhecido. Isso me leva a conclusão de que o lado que conheço tem limites. O outro não.

Quem atravessa o Portal para o lado mais escuro, mais baixo, mais plano, faz uma viagem curta, breve, para um local pequeno, agradável, mas com poucas alternativas, Se apega a muitas coisas e pode levar algumas lembranças dessa viagem.

Quem atravessa o portal para o lado mais claro, mais alto e com muitas ondulações faz uma viagem para a Luz. E o encontro dessa Luz me parece à eternidade. È uma viagem em que a claridade vai aumentando no espaço percorrido.

Atravessando o portal, o lado claro não muda, é sempre igual, imenso, não dá para saber a sua extensão.

Quanto tempo ficarmos, quantas vezes voltar mos, o lado será sempre desconhecido.

O lado de cá é o lado em mutação.Será sempre diferente, com exceção da claridade, espaço, altura, ondulação.

Na travessia para o lado mais escuro, plano, pegamos a bagagem, nem sempre a mesma. Voltamos para o lado em mutação com bagagens diferentes.

Todos nós já passamos pelo Portal. Quantas vezes não sei. Eu mesmo tenho a sensação que já passei por diversas vezes. Tenho a lembrança de alguns lugares do lado mais escuro, de épocas distantes. E tenho com mais clareza algumas, dos lugares do mais claro. Estou começando, agora a pensar que o lado mais claro, assim o é pelo fato de não ter teto. Daí toda essa Luz. O lado mais escuro é uma caixinha, dentro do lado mais claro. Existem muitas dessas caixinhas nesse lado extraordinário.Todas com uma abertura que serve como entrada e saída: O Portal.

Tenho, também, agora, a nítida impressão que já passeis por diversas dessas caixinhas.

Agora vou contar a história que me contou, dia desses, um viajante morador do lado claro do portal.

Pois bem, esse visitante que veio da Luz, me disse o seguinte:

“Essa é a primeira vez que passo por esse lugar. O seu pensamento sobre o portal, os lados, as caixinhas, tamanho, estão quase exatos, com pequenas diferenças, sobre detalhes, tamanho e encartes dos pilares. A luz existe. É clara, suave, transmite a serenidade que só se encontra lá. Chega somente até o portal e só o atravessa com a devida permissão”.

Todos os que atravessam o Portal tem uma ligação profunda com essa Luz. Os que estão a procura dela, são os que já a tinham recebido, vieram para o lado mais escuro e a distribuíram a sua maneira.Estão voltando para recarregar a sua bateria.

Alguns a distribuíram bem, levaram-na a lugares mais escuros e profundezas inimagináveis.Outros a distribuíram mal. Preocuparam-se em usá-la, somente, consigo mesmo.

Os que a usam bem, recebem-na de novamente e voltam para as suas caixinhas, cada vez mais iluminados.

Os que a usam mal, não a recebem novamente e voltam para as suas caixinhas cada vez menos iluminados.

A Luz do Portal é inesgotável. Alguns voltam com mais Luz do que tinham. Outros com menos. Outros sem nenhuma.

Mas, ao atravessar o Portal, cada um recebe a Luz que merece.

Como eu, disse, pausadamente, o viajante, existem diversos controladores dessa Luz.

Ao vermos atos de desperdícios e que são muitos, anotamos.

Agora mesmo, estou vendo vários: roubos, assassinatos, fraudes, mentiras, ganâncias desmedidas, ultrajes...

Vou recolhendo a Luz que perdem pelo caminho, para distribuí-la a aqueles que vão gastando bem.

Essa é a Luz do Portal. Todos vocês vão buscá-la algum dia.

Meu amigo continuou o viajante, dessa vez vim aproveitar a viagem, apenas para conversar.Estou coletando Luz para quem está precisando dela.

Para muitos vou conseguir resolver o problema aqui mesmo.

Para muitos outros, o problema vai ter que ser resolvido, somente, atravessando o Portal”.

E o viajante, após uma pequena pausa, continuou:

“Devo fazer contas e contas para essa coleta e distribuição da Luz.

Nesse instante, tenho um trabalho enorme. Preciso de um tempo e como você é a pessoa que está me ouvindo, com atenção, vou contar-lhe mais a respeito, dando alguns exemplos:

Estou com um estoque delas provenientes de uma guerra em um país distante.Penso em mandá-las para o terremoto de um outro. Um presidente está ficando praticamente sem nenhuma. Caso que não posso resolver só. Está me parecendo assunto para o Portal.

Pessoas reclamam Luz, hospitais, uma parte imensa de crianças no Brasil.

A Luz está sendo transferida rapidamente ao Portal pela maioria dos dirigentes e políticos do mundo.

A maioria dos necessitados não é, ainda, merecedoras da transferência. Existe um preparo único para recebê-la. É necessário querer, acima de tudo.

Não se pode dar algo dessa preciosidade, para que seja mal usada. Quem não estiver apto deverá fazer um curso no Portal.

Há um sofrimento atroz em possuí-la e simplesmente não dá-la. É como um transplante. Poderá haver rejeição.

Veja, meu caro ouvinte, não é necessário ser apenas pedinte. É essencial ser receptor.

A maioria desses problemas todos, infelizmente devo levar para o chefe e seus auxiliares mais próximos. Como se eles, já não os tivessem de sobra.

E, veja, toda essa situação poderia ser facilmente resolvida.

Todos deveriam, usar com amor essa Luz.

Luz que recebem quando saem do Portal.

Assim, ela seria suficiente para que não houvesse esse trabalho todo”

E o viajante despediu-se.

Quando saiu, olhei ao redor e não deu para perceber se o ambiente que estávamos ficou mais ou menos claro do que quando chegou.

Só ai atinei que não havia perguntado a ele se eu próprio estava desperdiçando a minha Luz.

Pergunta desnecessária. Se não estivesse, não teria recebido a visita.

A questão é, fui digno de receber mais Luz no encontro? Ou o meu caso é um daqueles que só se resolverá atravessando o Portal?

Ah! Caso o recebam, não esqueçam, perguntem, ou reparem se o ambiente ficará mais claro ou escuro.

A visita, disse-me ele, é sempre inesperada. O viajante nem sempre é o mesmo. Pode ser uma criança, um jovem, velho, homem, mulher.

Pode ser um animal que você se afeiçoe.

Mas, de uma coisa esteja certo: Seja da forma que for, você notará a Luz!