Caminho Por Traçar
Caminho Por Traçar
Gustav nasceu no núcleo de uma família habitante nos subúrbios da cidade de Leiria…. Posso dizer-vos apenas que apesar de ainda muito novo ( 7 anos ) já teve mais que suficientes experiências negativas na sua vida, simplesmente por ser filho de um casal novo com problemas relacionados ao famoso vício, aquele que vocês bem conhecem, sim… a droga!!!
Barbara tem apenas 21 anos e Zachary 22, são os pais de Gustav, uma criança com um caminho por traçar.
Zachary- Barbara, não me sinto bem… pressinto algo cruel prestes a acontecer-nos… estarei a ficar doido?
Barbara- Deve ser isso com toda a certeza, tu deves estar-te a sentir mal por causa daquela porcaria que estás sempre a tomar, devias fazer como eu, desde ontem que não toco nisso, simplesmente deixei, tu também és capaz.
Zachary- Não tens noção do que dizes, eu não consigo largar, sou viciado tal como tu… a diferença é que eu admito os meus erros.
Barbara- Claro, deves lamentar também a miséria de vida que me dás, a mim e ao teu filho que não merece o pai que tem… estamos, novamente a ficar sem comida e sem água, quando é que vais falar lá com o Jonas para ir sacar de alguns bens alheios pah?!
Gustav- Mãe… vocês estão outra vez a discutir? Porquê?? Podes arranjar-me um bocadinho de pão com manteiga, estou com fome.
Barbara- Ouviste o teu filho seu miserável? Vai buscar alguma coisa para comer, aproveita aquela montra exposta no exterior e traz alguma coisa de jeito aqui para a tua esposa… e tu rapaz faz-te homem!!! Por acaso és algum maricas para não aguentar algumas horas sem comer!?
Zachary saiu, mas muito deprimido, ele não conseguia livrar-se daquele maldito vício, e não suportava os ataques de loucura que a sua problemática mulher tinha.
Como bem sabem… as paredes têm ouvidos… e eu creio que tal como quem tem ouvidos, elas podem ter também olhos e uma boca… uma grande boca… que o digam a vizinha deste casal… Laura.
Laura- Para onde vai ele agora? Aposto que roubar… a sua profissão… mas eu desta vez vou-te tramar meu desgraçado, vais para a cadeia que era onde já devias ter nascido!!!
Enquanto Zachary se preparava para roubar umas peças de fruta que o faziam salivar constantemente, já Laura tinha comunicado com o dono do modesto mercado que se preparava para entrar em acção.
E Laura, esperta, preparava a sua máquina fotográfica para poder apresentar provas mais do que concretas.
E aconteceu…
Zachary- Só uma não vai fazer diferença, ninguém vai dar por nada, e ao meu filho vai matar-lhe a fome e vai impedir a Barbara de armar mais um escândalo. Eu vou conseguir…
Dono da loja- Hey!!! Tenciona pagar o que leva??
Zachary- Deixe-me levar estas frutas, o meu filho está a passar fome…
Laura- É melhor estar calado até a policia chegar, tenho aqui as provas…agora é que você vai conhecer a sua futura casa.
Zachary- Porque é que estão a fazer-me isto? Tenham dó… há uma criança a sofrer.
Por muito que lamentasse de nada adiantaria, estava tudo contra si, tudo e todos.
Policia- Vamos ver o estado deste senhor? Não estará sob efeito de drogas?
Zachary- Sim, mas eu quero deixar…
Policia- ( interrompendo ) Poupe a conversa para dizer ao delegado no posto policial.
Laura- Espere lá senhor policia, não se esqueça de passar em casa desse sujeito, ele vive com uma mulher igualmente miserável, dependente de drogas e com uma criança de 7 anos que sofre muito maus tratos desde que nasceu.
Aquela mulher repugnante tinha conseguido destruir a vida àquela família… ou talvez não.
Barbara- O que se passa aqui..?
Policia- Calma minha senhora… queremos ajudar o seu filho… sabemos que não tem condições para o criar e que se relaciona num ambiente pesado demais para envolver crianças.
Barbara- Onde está o meu marido? Não pode ser, deixou-se apanhar.
Policia- Se fosse a si não falava mais, a não ser que queira fazer companhia ao seu marido atrás de ferrinhos duros e gelados. Sabe o que isso é? Bem, boa sorte com a sua vida, a assistente social fica para resolver estes assuntos e levar a criança.
Salma- Acho que já percebeu o que vai acontecer…
Barbara- E o que é que eu vou ganhar com isso?
Salma- Poupa-lhe responsabilidades como mãe…
A conversa foi longa… E o caminho de Gustav começava a ser traçado…
Imaginem a vida de um jovem que viveu os seus primeiros 7 anos num ambiente familiar indescritível e que passou 11 anos num orfanato onde conheceu grandes amigos, mas que não tinha noção do mundo para o qual entraria agora que completava 18 anos.
O mundo era estranho para ele… estava na hora de o conhecer.
Gustav- ( falando só ) Rua da esperança nº 32, 1º direito… é aí que vou viver. Como?
Salma- Calma Gustav, vais avançar na tua vida de adulto calmamente, eu vou estar sempre aqui para te ajudar…
Gustav- Obrigado dona Salma. Vive alguém nesta casa?
Salma- Não, vai ser a tua casa… tens um trabalho à tua espera para amanhã, este mês as despesas vão ser suportadas pelo Estado mas vais ter que segurar o teu novo trabalho com unhas e dentes.
Gustav- Mais uma vez obrigado, mas eu gostava que me dissesse onde vivem os meus pais…
Salma- O teu pai já está em liberdade há um mês… vive longe daqui, em Braga. A tua mãe, nunca se ouviu falar nela… Desculpa não te poder ajudar…
Gustav- Não tem problema…
Mal sabia Gustav a imagem que guardaria daqui para a frente após entrar na sua nova vida.
Uma mês depois:
Gustav- Preciso comprar algumas coisas cá para casa.
Letícia- Sim amor, concordo plenamente… olha podíamos ir a uma grande superfície comercial no centro da cidade, há tanto tempo que não vou lá.
Gustav- E porque não?… Vamos lá então…
Péssima decisão a do gustav… era agora o momento… após chegar à cidade comentou com a namorada.
Gustav- ( ironicamente ) podíamos ir por aquele atalho… é mais perto… ouvi dizer que andam por lá umas miúdas à venda.
Letícia- Não, não… Ainda me trocas por elas, vamos pelo centro…
Gustav- Não sejas ciumenta, vou espreitar… mas não vou tirar um pedaço a ninguém.
Nem que quisesse…
Gustav- Não posso acreditar no que vejo.
Letícia- Vá lá, deixa-te de conversas irracionais.
Gustav- Não é isso… Aquela é a minha mãe, só pode ser… é o rosto dela… eu sei que é a minha mãe… a minha mãe vive da prostituição?…
( Gustav sofre aguentando as lágrimas )
Letícia- Vamos para trás… é melhor que não te veja.
Gustav- Espera, eu quero ver o que ela tem para me dizer.
Foi triste o que se sucedeu, a imagem vulgar de uma mulher da vida no corpo da sua mãe, uns braços rasgados pelo malvado vício… era doloroso, e então o que ela disse foi terrível para os ouvidos de gustav.
Barbara- Olá!!
( Grande pausa )
Gustav- Não me reconhece???
Barbara- ( Pensando ) Desculpa lá rapaz, a minha longa experiência não me permite memorizar os rostos dos clientes. Mas és jovem, deves ser novo por estas vidas, tens mais de 18 anos??? Vê lá… Não quero ir para a cama com um miúdo que podia ser meu filho…
Aquelas palavras foram chocantes…
Será que a vida de Gustav seria normal daqui para a frente?
Eu creio que sim… longe da sua terra natal que lhe trazia más recordações, começou a fazer uma vida normal, calma… e agitada para um adolescente, como tem que ser. Ah, e estar de novo com o seu pai lá em Braga, era mesmo o que precisava, tanto ele como Zachary que já era totalmente independente de drogas.
A vida prega-nos rasteiras
Que devemos ultrapassar
Aprender com as asneiras
É não mais voltar a errar
Experiências vividas
São mensagens de confiança
São tarefas concluídas
São fases decisivas
Que garantem esperança
Seguimos um caminho
Que teremos de traçar
Mas para o conseguir
Temos muito para lutar
O destino é o comando
Que nos dá as direcções
Mas nunca te esqueças, que és tu
Quem toma as decisões!!!!
Fim….