Esperança

Ela estava só.

Segurava nas mãos toda a sua vida.

Engraçado como uma vida cabia dentro de uma pequena mala.

Engraçado como ela havia chegado aonde chegou.

Já havia tido tudo. Roupas de marca, maquiagens caras, sapatos feitos sobre medida, jóias raras.

Já havia conhecido o luxo, o requinte, a sofisticação.

Agora, apenas uma perdida, com sua vida que cabia na mão.

Nunca esforçou se muito para ter o que precisava. Sequer sabia trabalhar.

Labuta era palavra que ela desconhecia.

Agora tinha as mãos calejadas, roupas furadas e sapatos comprados em bazar.

A voz do pai ainda lhe doía nos ouvidos, quando ele a procurou lhe trazendo a mala. Trazendo-lhe uma esmola de esperança.

No bolso, os trocados dados por uma alma piedosa que a viu mendigar.

O estômago doía, a fraqueza aumentava, mas ela, não podia parar.

Caminhava numa estrada longa, decidida apesar do cansaço. Nos pés já formavam as bolhas,

E o sol já secara até o seu suor.

Pensava na boa vida, nas festas, nos amigos, na família. Em tudo que ela deixou.

Havia feito uma escolha, e se arrependera.

Agora estava ali. Nada mais fazia presença em sua vida. Só uma decisão: A de mudar. De reconstruir-se. Voltar a viver. Um dia quem sabe seus pais a perdoariam, a aceitariam de volta. Mas antes, antes ela precisava mudar...

Caminhou... Um caminho árduo, traumatizante. Mas isso era seu Calvário. O preço a pagar.

A esperança havia entrado em seu coração e ela a agarrou com força.

Enquanto via sua vida em retrospectiva passando pelas suas lembranças, caminhava e caminhava...

O sol já se escondia nas montanhas quando ela chegou ao seu destino. Na entrada da fazenda lia-se na placa: “Casa Mãe da Vida”, e logo abaixo: “Seja bem-vindo à sua nova vida.”

Mais uns passos a levaram ao casarão, parecia que entrara no céu.

Uma mulher já a esperava com um largo sorriso no rosto a recebeu com um abraço caloroso e disse: Que bom que chegou! A esperávamos com muita alegria!

Carla erguer os olhos depois de muitos anos olhando para o chão, respondeu:

__Então é aqui? Vocês podem mesmo me ajudar? Podem mesmo fazer com que nunca mais eu me drogue novamente?

A mulher que a recebia respondeu com voz suave e firme:

__Se você deseja isso com força de vontade. Sim. Iremos ajudá-la.

Carla então torceu levemente o rosto numa tentativa de sorriso (havia muito tempo que ela não ria): “Eu quero”.

Abraçada com seu anjo da guarda, Carla entrou naquele recinto cheio de amor e espiritualidade, com uma grande certeza, não poderia jamais tentar preencher o vazio que as drogas deixaram no seu passado, mas poderia colorir o restante de seus dias, dia após dia, com a luta e a vontade de viver. Seria mãe! E tinha a convicção de que também pintaria com muitas cores, a sua nova vida com seu bebê...