SONHO I - Danação do Desejo.- LIA LÚCIA DE SÁ LEITÃO - 30/07/2007
Reedição 16/09/2009.
A dor dilacera o peito daquele que insiste em não aceitar a alegria, o barulho do mundo e as cores da vida, deixando a angústia investir sem dar tréguas a alma, cansada de pensar as maiores piruetas de como fazer para enfrentar um mundo fanático; e mais fantástico que a realidade, apenas deixando alumiar uma pequena vela indicando as cores da ilusão; o sonho exige uma presença que mais parece com a réstia de esperança que toda canção desesperada de amor anuncia.
Ouvia uma musica distante que falava em volta, amor, paixão, dor, esperança e jurava que queria aquela musica só pra si, e tudo tremia; a alma tremia, as paredes do apartamento tremiam, as pernas tremiam.
Abriu a porta abruptamente mas não quis descer pela caixa de reflexos, a vontade era descer pelos degraus da escadaria do opaco, da emergência, nunca os artigos de luxo transitam ali, é o lixo, o ninguém de uniforme que sobe e desce fiscalizando a estrutura, e todo o ambiente lembra uma sentimento bipolar, de um lado quem manda do outro quem deseja mandar, a descida espiralada favorece a análise de um pensamento depressivo daquele que olha de baixo para cima e de euforia para quem encara a altura de cima para baixo.(?)
O desespero de subida assume a vontade de poder, de rir ou dançar, ser acima de tudo, de comer o que der vontade sempre, ter, ter e ter.
A danação de quem desce as alturas é o anti produto do pensamento, mas o que seria anti produto do pensamento? A danação dos desejos.
Olhar a vida e dizer sou feliz porque leio livros caríssimos de auto estima, diante de tamanhos absurdos sócio-econômicos e financeiros, tenho as posses do que se pode assinalar no banco da moda, conta ascendente, ou mesmo dizer, não adianta querer que assuma a felicidade escondida no olhar para as estrelas quando só eu posso tocá-las, tenho uma parede pintada pelo artista renomado, um céu de Lua e Estrelas luzentes na noite que comprei no cobertura do edifício, mas, nada satisfaz, ainda insiste em doar seus amores e ideais para a primeira brilhosa que aparecer no horizonte, além dos limites da varanda em penumbra.
Não saber o poder do escuro sob a selvageria do efeito espiral nos sentimentos; o vandalismo que existe dentro de cada um e é contido pela sanidade ou medo da responsabilidade; chutes na parede, empurrões, mordidas no casaco de frio arrancando a primeira capa e deixando os arranhões à mostra, quebra-quebra das câmeras focalizando a descida, pulos, marteladas nas lâminas dos vidros azuis espelhados, alinhando arquitetura do concreto e compondo o poema de solidão de alto abaixo, da cobertura a ao subsolo.
Perseguia a musica como a sua alma deitada no divã do psicanalista; ávido descia sem percepções do devaneio. Era aquela música jamais tocada em seu equipamento de som que estaria à iluminura do amor. A música era a danação do sonho sempre partido no meio do sono, acordado no meio da continuação dos dados, sem procedimento de ligação entre o que foi e o agora.
Música vulgar!
Sem os limites da consciência, da vontade, da linguagem, da norma culta, era a música que chamava para a vida.
A vida clamava a aceleração das emoções mais fortes, dos batimentos cardíacos mais fortes, abstrair a seriedade do trabalho sem desligar a loucura vincada de sonhos e sem perder o cheiro do perfume que implica em sedução