Samara de Assombração a Obsessão - Lia Lúcia de Sá Leitão – 4/09/009.

Meus sais! Quem diria que um dia houvesse esse envolvimento entre autor e uma alma penada de adolescente no Oeste do Paraná, precisamente em Cascavel.

Tudo por causa daquele bendito e-mail que achei de comentar aqui no Recanto das Letras. A minha amiga dos colóquios literários disse-me sem pretensão esse dias: Samara está virando obsessão, porque você não faz uma pesquisa sobre a alma penada da adolescente e escreve tudo que deseja de vez? Achei interessante a proposta, mas por outro lado, evitaria os encontros inusitados com o acaso, o divertido, o assombroso, o medo, e as observações que a gente faz naturalmente quando algo nos chama a atenção.

Pois bem, no dia do e-mail, aquele velho blá blá blá, envie para dez pessoas ou a menina vai aparecer; envie para dez pessoas ou você nem imagina o que vai acontecer, envie para dez pessoas ou ...ou. Enviei a mensagem até para mais de dez pessoas, assim me livraria de vez das ameaças. Acontece que meu medo foi tamanho ao ler que queria mesmo era me livrar da assombração. Livrar como? Desde aquele momento que não parei de pensar na menina, já divulguei a história com tamanha veemência que até eu estou acreditando que a pobre penada do outro mundo existe, cogitei em celebrar uma Missa para o seu descanso eterno.

Mas vamos ao que interessa.

Estou implantando um curso de Produção de texto e Gramática aqui na Cidade, para isso precisei da famosa divulgação. Corre daqui, corre ali, vê arte, paga isso, tira dinheiro em banco paga aquilo outro. Para economizar fui até um amigo, ele se prontificou a ajudar, amei! O rapaz fez o trabalho mais delicado e objetivo que vocês possam imaginar, acredito que vou ganhar tanto dinheiro que vou pagar a arte que ele fez com juros, uma boa cerveja e um churrasco aos moldes do sul.

Ontem, voltei a falar com o rapaz para umas pequenas modificações no panfleto,ele como sempre uma delicadeza, nos atendeu como princesas, mas o rapaz tinha algo a dizer e só eu imaginava o que era. O e-mail sobre Samara.

Adentrei no escritório bem arrumado, ouvi uma boa música, ele iniciou os ajustes e consertos na arte, e entre um intervalo e outro uma conversa divertida, uma risada, um café chegou quentinho, aromático, desses que puxam da alma aquele hum! Que delícia. Depois uma pausa para degustar uns biscoitinhos de mel e um papinho corriqueiro e divertido.

Amigos! Que vergonha inenarrável. O rapaz olhou bem sério pra minha amiga e disse minha gente num envia mais daquelas correntes de e-mail pra mim, tenho pavor! Corri em socorro da amiga, mas a culpa não foi dela foi minha, eu que quis dividir a cena com as pessoas que mais quero bem. Ele fez aquele risinho de cantinho de boca e continuou: acreditem. Acordei molhado de suor como se tivesse tido um pesadelo, dei um pulo da cama e corri aqui no computador, nunca faço isso de imediato, mas abri os e-mails e o único era aquele, olhei e me deu um arrepio que gelou minha alma, mas abri, li e deletei, não passei para ninguém, vocês acreditam que esse computador começou a dar pane, a internet não entrava, eu fiquei meio desnorteado, com uma sensação terrível de medo como se tivesse alguém ao meu lado que não podia ver, quando olhei no relógio era a hora exata que o e-mail informava que Samara aparecia para asssutar e cobrar as suas dívidas para as pessoas.

Palidamente sorri e quase queimo a boca com uma golada mais forte de café pelando de quente. A minha amiga abriu os olhos arregalados, como se diz no nordeste; o medo faz a gente arregalar os butecos dos olhos e o arrepio gelado sobe da bunda para o micoco da cabeça!

Ela não se conteve e exclamou olhando fixamente para mim: eu te disse que com essas coisas não se brinca!

Na hora, prometi não mais escrever, nem brincar, nem tratar de forma indevida a alminha penada do outro mundo, mas, não saberia cumprir um respeito ao disparate contido no e-mail.

Continuei dizendo, gente! Eu não fiz nada! Sabe aquela fala que temos quando as pessoas estão a um fio do convencimento de que existe uma culpa? Já me sentia ré e prometi que escreveria apenas o inusitado, quando os dedinhos não resistissem a cena e ao fato.

Os dois olharam em minha direção, se entreolharam como quem dizia, ela está mentindo descaradamente, vai continuar escrevendo e vai pesquisar toda a história da alma penada.

Amigos! Eu estava mesmo disposta a parar de tecer qualquer comentário sobre o assunto mas, se eu contar o que me aconteceu horas depois vocês me darão razão e me farão seguir em pesquisa pelo arquivo dos defuntos na sala dos vivos lá no Campo Santo.

Terminamos de rever o panfleto, tudo lindo! Dirigi até a Escola onde vou trabalhar para apresentar o novo formato a Professora que é a Dona do estabelecimento.

Depois de aprovado, decidi no caminho passar no outro Colégio em que trabalho com o intuito de pedir demissão; o que não aconteceu.

Sai satisfeita da instituição com o papo com a patroa e convidei a amiga para um happy hour, tomar um chopinho e comentar os fatos.

Adentramos no bar, e a amiga aponta um cartaz preso com fitas adesivas na porta de vidro: ALUGA-SE APARTAMENTO, DOIS QUARTOS, COZINHA, VARANDA, ÁREA DE SERVIÇO, GARAGEM, EXELENTE LOCALIZAÇÃO E ÚNICO DONO. TRATAR COM SAMARA E LÁ ESTAVA O CELLULAR em arial.

Lia Lúcia de Sá Leitão
Enviado por Lia Lúcia de Sá Leitão em 04/09/2009
Reeditado em 06/09/2009
Código do texto: T1792273
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