O Casarão
Era um adolescente. Não, era já um homem. Tinha lá seus vinte anos e morava com o pai naquele casarão da rua de trás. Fazia já um ano que eles mudaram para lá e, apesar das reformas realizadas, a casa mantinha a estranha aparência de mal-assombrada, para a alegria das crianças, que gostavam de provar sua coragem invadindo o jardim e indo cinco passos além do grande portão enferrujado.
Ele sempre foi muito reservado, muito calado. Não gostava muito de falar com os outros, principalmente quando lhe perguntavam sobre a mãe. E acerca do fato de ele nunca falar da mãe, criaram-se muitos boatos. Em pouco tempo todo o bairro falava que aquele casarão pertencia, na verdade, à mãe dele e que os dois, pai e filho, a mantinham em cativeiro no porão. Houve até quem dissesse que a ouvia gritando por socorro quando passava por perto do casarão.
Diante de tantos boatos, o rapaz decidiu dizer a verdade a todos. A verdade, segundo ele, era que a mãe havia morrido quando ele ainda era menino. Nunca se pronunciou sobre o casarão, se era realmente dele ou dela, e quando lhe perguntavam como a mãe morrera, ele respondia num tom agressivo:
-Pra quê quer saber? A mãe nem era sua!
Em seguida dava meia-volta e ia para casa ofendido. Como ele não falava nada sobre a morte da mãe, perguntaram então ao pai, mas este também não falava nada.
Do pai, quem achava que o conhecia o suficiente, o que sabiam era que ele era separado da mulher desde antes da morte dela e também que não sentira muito com o seu falecimento. Parece que nunca se importara muito com ela, afinal.
E nunca ninguém descobriu como ela morreu – ou se realmente morreu. E assim o tempo foi passando, e o assunto foi se perdendo no esquecimento. Mas ainda há quem jure, ao passar pelo casarão, escutar os gritos de socorro da mulher abafados pelas janelas, sempre fechadas, da casa.