O Casarão

Era um adolescente. Não, era já um homem. Tinha lá seus vinte anos e morava com o pai naquele casarão da rua de trás. Fazia já um ano que eles mudaram para lá e, apesar das reformas realizadas, a casa mantinha a estranha aparência de mal-assombrada, para a alegria das crianças, que gostavam de provar sua coragem invadindo o jardim e indo cinco passos além do grande portão enferrujado.

Ele sempre foi muito reservado, muito calado. Não gostava muito de falar com os outros, principalmente quando lhe perguntavam sobre a mãe. E acerca do fato de ele nunca falar da mãe, criaram-se muitos boatos. Em pouco tempo todo o bairro falava que aquele casarão pertencia, na verdade, à mãe dele e que os dois, pai e filho, a mantinham em cativeiro no porão. Houve até quem dissesse que a ouvia gritando por socorro quando passava por perto do casarão.

Diante de tantos boatos, o rapaz decidiu dizer a verdade a todos. A verdade, segundo ele, era que a mãe havia morrido quando ele ainda era menino. Nunca se pronunciou sobre o casarão, se era realmente dele ou dela, e quando lhe perguntavam como a mãe morrera, ele respondia num tom agressivo:

-Pra quê quer saber? A mãe nem era sua!

Em seguida dava meia-volta e ia para casa ofendido. Como ele não falava nada sobre a morte da mãe, perguntaram então ao pai, mas este também não falava nada.

Do pai, quem achava que o conhecia o suficiente, o que sabiam era que ele era separado da mulher desde antes da morte dela e também que não sentira muito com o seu falecimento. Parece que nunca se importara muito com ela, afinal.

E nunca ninguém descobriu como ela morreu – ou se realmente morreu. E assim o tempo foi passando, e o assunto foi se perdendo no esquecimento. Mas ainda há quem jure, ao passar pelo casarão, escutar os gritos de socorro da mulher abafados pelas janelas, sempre fechadas, da casa.

Luana Frota
Enviado por Luana Frota em 04/09/2009
Código do texto: T1792173
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.