Gente que Surpreende
No nebuloso mundo em que vivemos, envoltos em todo
tipo de poluição, principalmente a das mentes obscuras
que de olhos vendados dirigem o destino do mundo,
é necessário que se traga à luz algo que possa representar
um fio de esperança para não cairmos no desânimo,
na apatia ou na depressão que, segundo pesquisas, será
o grande mal deste século!
Para clarear um pouco toda essa opacidade que nos cerca,
quero narrar o exemplo de um homem que se dignou
deixar brilhar sua luz interior apesar de sua origem humilde
e de todas as vicissitudes que atravessou com sua família.
Local do ocorrido: Campo Formoso, Bahia, ano 1956.
Sendo a citada cidade centro de convergência de muitos
estudantes por ser na época o único local que possuía
um Ginásio, (escola de segundo grau), o "Augusto Galvão"
servia a uma área cuja extensão ia da vizinha cidade de
Pindobaçu até o longínquo sertão de Irecê.
Para lá emigrou o meu pai para dar prosseguimento ao
estudo dos seus cinco filhos , dos quais, sou a filha
mais velha.
Quando ali chegamos, conhecemos o drama de uma família
que comovia a todos:
Era o de uma mulher carente, abandonada pelo marido
com sete filhos pequenos, pelos quais lutava com
garra e determinação para sustentá-los e educá-los.
Para qualquer necessidade doméstica, mandavam chamar
"Mariquinha" que a nada se negava.
Por conta de tanto esforço, "a leoa" adoeceu. Diagnóstico: "tuberculose"!
Todos se comoveram com a sua enfermidade e procuravam
ajudá-la.
Durante o dia, pessoas se revezavam no cuidado com
a enferma e suas crianças.
No entanto, precisavam urgentemente de uma pessoa
que ficasse com ela no período noturno.
Devido à situação em que se encontrava, a única pessoa a se prontificar para tal fim, foi "O coveiro", que "bêbado e mal
sabendo ler", lá pelas tantas da matina, na hora de dar
o medicamento correto, ele o confundiu com um desinfetante chamado "lisoforme", dando-lhe uma boa dose do
"inusitado remédio", que de acordo com o que se comentava,
foi o que salvou a vida de Dona Mariquinha.
Verdade ou mentira, o que se constatou foi que ela se curou.
Precisava dar conta do seu difícil recado!
Havia na cidade, um comerciante por sobrenome Reis,
que se comovendo com o drama daquela família,
convidou o filho mais velho para trabalhar no seu
Estabelecimento Comercial.
Foi aí que começou a se revelar o nosso herói:
inteligente, estudioso, movido pela necessidade,
deu conta brilhantemente do recado.
Terminado o curso ginasial, resolveu ir tentar a sorte
em Salvador.
Lá chegando, fez concurso para a Petrobrás, e aprovado,
logo se revelou na Empresa como ótimo funcionário!
Bom em Matemática decidiu-se por estudar
Economia e Estatística.
Saindo-se bem no seu curso, fez então: pós,
mestrado e doutorado!
Pediu demissão da Estatal, passando a lecionar
nas melhores Universidade da Capital.
Sua primeira providência quando deixou a Empresa,
foi levara família para Salvador.
Consciente do seu papel de provedor e educador,
procurou encaminhar da melhor maneira todos os irmãos,
os quais estudaram, tornando-se bons cidadãos e bons
profissionais.
Depois, ocupou por competência um alto cargo na política,
podendo assim ajudar a muitas pessoas.
A seguir, ocupou o cargo de Magnífico Reito
de uma das Universidades em que lecionava,
conservando sempre "o sorriso e a humildade"
que lhe eram peculiares!
D. Maria, a "Mariquinha", conheceu então tempos de glória:
comprava roupas, jóias, e estava sempre presente
nas homenagens prestadas ao filho ilustre!
Viajava, e "o seu cartão de apresentação","o seu passaporte"
para qualquer eventualidade era "o nome do filho".
O cidadão em questão não se casou oficialmente, mas assumiu
sua companheira que era desquitada e tinha filhos.
Com ela teve mais um filho e os criou como se todos os
filhos dele fossem.
Deu-lhes educação e se empenhou na formação profissional
de todos.
Esteve sempre presente em todos os acontecimentos
de suas vidas!
Hoje os filhos de seus filhos o chamam carinhosamente
"Vovô Gervásio".
Quem dera tivéssemos a felicidade de encontrar dirigentes,
pais de família, demais cidadãos, com o brilho esplendoroso
do nosso "VOVÔ!