"CAVALO MANCO" Conto de Flávio Cavalcante

CAVALO MANCO

Conto de:

Flávio Cavalcante

Hoje eu vou contar a história de Zé de Noca. História de um sertanejo rústico, heói como todo brasileiro que leva vida lutando pela sobrevivência. Se trata de um homem que vive dando trabalho á sua mulher, dona Noca. Eles vivem num lugarejo esquecido do mundo dentro do sertão brabo e sobrevivem da agricultura que eles mesmos produzem e da caça que o Zé de Noca trás quando tem sorte de capturar.

Ontem mesmo o almoço foram alguns dos últimos peixes que ele conseguiu pescar em águas rasas da barragem. Aliás, não sei como ainda existe peixe nesse lugar; pois já faz muito tempo que não chove naquelas bandas. Os peixes são sujos de barro. Pois a água é oriunda de uma barragem que enche quando os céus ajudam a cair algumas gostas de chuva, coisa que há muito tempo não ver por lá, por isso que o resto de água é bem avermelhado.

A vida os castigam naquele lugar. A única forma de arranjar um dinheiro seria com um cavalo que Zé de Noca tem em seu quintal. Mas é bem difícil vender um animal com um defeito notório. O cavalo manca de uma perna. Já mandaram até sacrificar o bicho, pois segundo alguns amigos, aliviaria duas dores; a de Zé de Noca e obviamente do animal. Mas Zé de Noca tem um coração que não cabe no peito e sempre partiu da idéia que se ele vive e é feliz com a vida que Deus lhe deu, ele diz não ter o direito de tirar a vida de ninguém. Se o cavalo é manco é porque Deus quis que fosse.

Ele adquiriu este animal, fruto de um vigarista que o enganou dizendo que o cavalo era bom e ele era manco daquele jeito pelo fato de ter se machucado, mas logo, logo ele iria fica curado. Zé de Noca vendo vantagem no valor do animal, pensou estar fazendo uma boa negociação. Foi aí onde quebrou a cara. Com o passar do tempo veio a descobrir que o cavalo manco tinha uma das patas dianteira menor que a outra. Assim teve que conviver com o problema. Uma cruz que ele teve que carregar por muito tempo.

A situação foi apertando de um jeito que não tinha como ficar com aquele animal com um defeito tão visível. É de dar pena ao ver os sertanejos com relação ás agruras causadas pelo tempo é muitas vezes de fazer doer na alma. A luta pela sobrevivência de um povo tipo Zé de Noca é uma loteria a cada dia que passa. Eles dependem de São Pedro estar de bem humor e mandar a chuva pra eles poderem plantar a própria subsistência.

O tempo é não favorável. Por causa de seu enorme coração, ainda alimenta a chance de que uma hora para outra apareça um filho de Deus para comprar o animal e daí matar dois coelhos numa cajadada só.

Dona Noca, não agüentando mais o sofrimento pediu pelo amor de Deus ao seu marido que desse um destino ao animal defeituoso, pois só assim aliviaria dois sofrimentos. O do animal e o deles.

Chegou o sábado e Zé de Noca ouvindo os conselhos da mulher, passou o dia pensando no que ia fazer, até porquê sabia que a sua mulher carregava toda razão.

Chegou até pensar em sacrificar o magricela do cavalo, mas ia ficar com uma dor na consciência que certamente iria levar para a sua cova. Se fosse vender ninguém compraria pelo defeito que o animal carregava.

As cobranças eram muitas vindas de dona Noca, sua mulher. A despesa era muito grande e eles não estavam conseguindo nem sustentar a casa, quanto mais o animal praticamente inutilizado.

Um belo dia Zé de Noca teve que mudar seus pensamentos quando se trata de honestidade, até porquê a necessidade tava obrigando a vender aquele animal.

Chegou o dia da feira e lá se vendia animais de todo tipo. Foi lá onde de Zé de Noca comprou o dito cavalo. Antes de sair pra vender o dito, ele passou a observar atentamente o defeito do animal, mas olhou minuciosamente cada detalhe e daí veio a idéia de fixar um pequeno prego embaixo do casco do cavalo manco e saiu pra feira com o dito cujo.

Chegando no local o cavalo estava mancando o tempo todo. Apareceu um cidadão dono de uma fazenda bem distante dali. Ficou olhando de longe o cavalo dá umas mancadas e foi até Zé de Noca perguntar o que estava acontecendo com o animal.

É um defeito que ele tem. Estou querendo vende-lo. O defeito dele ta aí, muito claro. (Disse Zé de Noca e o fazendeiro olhou, olhou e tornou a olhar. Alisou o cavalo todo. Quando levantou a pata do animal, viu o prego preso embaixo do casco do bicho. O fazendeiro atribuiu o defeito do mancar do cavalo ao prego que ele havia visto)

Eu quero comprar este cavalo... (Disse o fazendeiro para o Zé de Noca).

- O cavalo é manco... Tem um problema... (Falou honestamente para o dito cujo, que estava certo que ia fazer um belo negócio e retrucou de imediato).

Eu quero levá-lo assim mesmo... E pagou até bem mais alto do valor que Zé de Noca havia comprado anteriormente. E Zé de Noca falou novamente

Esse Cavalo tem um defeito. O senhor ta vendo o defeito dele. (E sem querer saber, acabou finalmente comprando o cavalo. Zé de Noca pegou o dinheiro e se mandou do local, dizendo que não tinha como desfazer a troca).

Chegou em casa e contou toda a história pra sua mulher e os dois deram boas gargalhadas e chegaram a conclusão que eles agiram de boa fé com o fazendo.

Passaram-se alguns meses e o fazendeiro descobriu a casa de Zé de Noca. Tentou devolver o animal dizendo que o cavalo era aleijado. E Zé de Noca bem sério falou pra ele.

- Não aceitamos devolução. Eu falei pro senhor que o cavalo era defeituoso. Fui honesto, mas o senhor insistiu em levá-lo assim mesmo. Agora dê o seu jeito.

O fazendeiro saiu com muita raiva da casa de Zé de Noca e certamente o dito enrolado também deve ter arrumado um jeito pra passar pra frente o tal cavalo.

Moral da história

“NEM TUDO QUE SE VÊ DE BELO É DE BOM AGRADO”

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 31/08/2009
Código do texto: T1784195
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