SÓ NESTE PAÍS – I
Zé Nervoso leva seu fusquinha a um lava-rápido, na periferia da grande cidade.
Lá chegando, desce do carro, deixando a chave no contato e se dirige ao atendente. Mas logo percebeu que este escrevia o número da placa do carro, em um bloco. Não vacilou:
- Por quê está anotando o número da placa?
O recepcionista responde:
- Para nossa e sua segurança...
Zé Nervoso retruca: Mas dizem que nem no Palácio do Planalto se adota esse comportamento, por quê nesta espelunca? Acho que não vou deixar lavarem meu carrinho querido, aqui, me diz como posso telefonar para o vosso chefe.
O empregado:
- Se o senhor quiser falar com nosso chefe pode fazê-lo agora mesmo, ele está ali, naquela salinha, lendo documentos.
O Zé parece se acalmar:
- Então dei sorte...
Mas com a interferência do recepcionista a calma evapora:
- Sorte não, ele está sempre por aqui, dia e noite trabalhando e cuidando de nosso ganha-pão.
Zé Nervoso explode:
- Ei, vocês aí... não tirem os tapetes do carro, vou embora, isso aqui está muito esquisito, pois lá no Palácio, encontrar o chefe...só por sorte...está sempre viajando. E você pensa que vou acreditar que ele está “lendo”.
Ao dirigir-se para o carro, ainda grita:
- E vou passar na delegacia pra denunciar.
Neste momento, uma velhinha que passava pelo local, ouviu os brados do Zé Nervoso e lhe aconselhou:
- Meu senhor, não perca seu tempo. Esta semana já conversei com três pessoas que desejavam fazer um BO e não conseguiram. Uma porque o sistema caiu, outra porque o escrevente tinha ido almoçar, o que leva, em média três horas, outra porque faltava papel, até no banheiro, e o delegado...faz quatro dias que não vejo nem o carro dele.
Zé Nervoso solta um palavrão e vai embora, cantando pneus.
SP – 24/08/09
Agradeço a bela reiteração do grande
poeta: Heliodoro Morais
Coitado do Zé Nervoso
Que não suportou a falha
Isso é muito perigoso
Melhor sair dessa malha
Antes que alguém passe a perna
Pois no país da baderna
Não confie em quem trabalha.
Heliodoro Morais