O dia do Adeus
Mais uma vez os versos não lhe saíam. Por mais que tentasse eram em vão suas tentativas. A menina rabiscava algo na folha do caderno, pressionava seu lápis com força como que para espremer uma ideia marcando as outras folhas, porém nada saía. Queria fazer um poema bonito para o seu namorado, um como o que a professora recitara em aula, mas sem sucesso.
Chegando em casa, a primeira coisa que fez, depois de largar suas coisas da escola, é claro, foi passar um batom, na verdade era um brilho labial hidratante e depois sair correndo para a frente de sua casa para esperar por ele. Ansiosa, olhava por entre as grades do portão, passou um carro, depois um ônibus, uma carroça com o velho que voltava do trabalho depois de vender suas frutas e verduras, outro ônibus, até um caminhão de lixo e ele não chegava nunca! Deve ter se passado muito tempo, em torno de três ou sete, por que a demora? Ah, eram minutos, mas que pareciam horas.
De repente, dobrando a esquina apareceu seu cavalo branco! Está certo que tinha quatro rodas, mas ainda assim era branco como o dos príncipes. Ele podia ter estacionado na garagem da sua casa que ficava grudadinha com a dela, só que não, estacionou na frente, na beira da calçada, também devia estar com muita saudade. Foi até sua princesa, que era como ele a chamava, deu-lhe um abraço daqueles com giros, rodopios e risadas. E também um beijo estalado. Depois a colocou em cima do muro e ficaram ali conversando sobre trivialidades, como era de costume. Como era carinhoso! E bonito também. Sérgio era alto, magro, lindo. Quando tinha tempo, a levava para dar um volta no seu cavalo nem que fosse em torno da rua, contornando a quadra. Era emocionante, e ela se sentia importante.
Até que um dia o príncipe anunciava o seu adeus. Ele partiu o seu coração. Não podia ser verdade... era muito triste para ela acreditar! Sérgio contou-lhe que se casaria em breve, só que com outra, e que iria morar longe dali. Por que doía tanto! Ah, mas doía sim! Como ele podia fazer isso com ela? Ela lembrou-se, com muita raiva, daquela que de vez em quando estava dentro do seu carro branco. Ela era a culpada de tudo. Feia, chata. A menina tentou segurar as lágrimas, tinha vergonha, fugiu, saiu correndo e jogando-se na cama desatou o choro. No outro dia ele a procurou, não, na verdade ele a viu na frente de casa e a chamou, perguntou se eles podiam ser amigos. Ele explicou-lhe que um dia ela encontraria um rapaz bonito e que seria muito feliz. Agora era a vez de ele ser. Deu-lhe um beijo na testa e foi embora com um sorriso no rosto.
Foi duro compreender, porque ela só tinha cinco anos.
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