Um Dia... Um Anjo!

Um dia, um homem velho, carrancudo, sem nenhuma expressão de sorriso em seu rosto, atravessava uma rua pouco movimentada. Sua cabeça estava para baixo. Seus olhos viam apenas o chão. Foi quando uma menina, talvez de uns 8 anos, se aproximou daquele ancião e lhe indagou:

- Meu senhor, posso lhe falar?

O velho respondeu num quase gemido:

- Vá embora menina, não tenho dinheiro para te dar.

Outra vez a menina replicou:

- Mas senhor, eu não quero seu dinheiro...

Quando ele retrucou já enfurecido:

- Estou acostumado com tipos como tu, se não queres dinheiro, queres me roubar.

Já haviam atravessado a rua, quando a menina falou, talvez pela última vez:

- Senhor, por favor, eu não quero nada do senhor, nem mesmo seu dinheiro ou lhe roubar, quero, isto sim, lhe devolver o seu sorriso!

Aí o velho estancou, olhou para a menina e indagou:

- Mas como pretendes devolver o meu sorriso, pois nem mesmo sei se um dia eu soube rir?

Mais: se um dia eu soube sorrir e deixei de saber, não fostes tu que roubastes o riso.

Aí a menina sorriu e a luz divina irradiou de seu rostinho.

- Meu Senhor - disse com grande ansiedade - eu não roubei o seu sorriso, eu não fiz com que o senhor se tornasse tão amargo assim, mas aqui na minha cabecinha existe uma certeza de que é possível o senhor voltar a sorrir!

Intrigado o velho retorquiu:

- Mas como? Tu não me conheces! Como pretendes devolver o meu sorriso? Diga-me ou deixe-me em paz! Falou o velho com muita indignação.

Foi então que e menina, refeita de coragem, como que subiu um pouco além de sua altura, e disse:

- Nossa história é semelhante. Nossa história é de amor!

O velho que até aquele momento estava distante, mal humorado, triste, levantou a cabeça, levando a aba do chapéu um pouco acima e disse:

- Menina, como ousas falar de amor para mim? Que sabes tu de amor?

Neste momento a amargura do velho já era menor e a menina respondeu:

- Engano seu, eu hoje vivo bem, mas saiba o senhor que fui gerada numa quase aventura, de pessoas que nunca se amaram. Com poucos dias fui abandonada num beco qualquer e, por obra de Deus, fui resgatada por uma família que me adotou e me deu amor, muito amor. Tornei-me o que sou hoje!

Aí o velho retrucou furioso:

- Mas o que tem essa tua história a ver com a minha? Nem sabes a minha história.

Ao que ela respondeu:

- Nossa história é igual. Faltou amor!

- Como assim, disse ele?

- Eu - falou ela com alegria e coragem - perdi o amor de meus pais. O senhor, embora tenha gerado filhos e os criado todos, agora vive distante da maioria deles, porque não o que querem mais próximo a eles. Pior ainda é que a MULHER que o senhor amou também não lhe quis mais.

- E daí? Disse ele.

- Daí que amor não é como o senhor pensa! Quem ama, ama! Nada mais do que isso. Mas quem ama e não é amado, por qualquer razão, ou porque a pessoa amada não ama, ou porque existe alguma coisa que impede esse amor, não pode e não deve buscar o refúgio da tristeza e da amargura. Deve seguir o trem de sua vida.

O velho, neste momento, parou. Sua respiração era inperceptível. Sua figura estática.

- Menina! Disse ele, como se fosse a primeira palavra de sua vida.

Neste momento, aquele pequeno vulto, cheio de luz e amor, subiu ao céu e foi acenando o ancião. Cheio de alegria.

O ancião, por sua vez, entendeu tudo, havia encontrado UM ANJO!

O velho não foi embora da cidade e buscou um café, aquele local onde várias pessoas se encontram, quando ficou sabendo que aquela figura realmente existiu e havia sido vítima de um abuso sexual com morte por um bandido que estava de passagem na cidade.

Era um anjo!