IARA/ CUNHÃ e MARUPIARA/ MÃE D'ÁGUA/BREVE LENDA/VIT. REGIA/ BOTO /PIRARUCU - Lia Lúcia de Sá Leitão
Um pouco de História sobre A Iara.
Por Profª. Lia Lúcia de Sá Leitão exclusivo para o site de Lúcio Dia e Noite.
O Brasil com suas dimensões continentais apesar de unificado de Norte a Sul, Sudeste e Centro Oeste pela Língua Portuguesa, mesmo como um Estado Novo com apenas quinhentos e alguns anos de descoberta oficial, preserva seus mitos construídos pelos povos da Terra Brasilis como também assume como seu patrimônio cultural as histórias e lendas trazidas pelos estrangeiros.
Nesse primeiro momento trataremos sobre a Iara, a poderosa Iara que hoje podemos vê-la na sedutora postura da mulher brasileira diante dos olhos do mundo.
Atente leitores, a Iara não é a Mãe-d´água. A Iara é conhecida por Uiara, Upupiara.
A Iara possui o poder de sedução feminino em relação aos homens tanto quanto o boto cor de rosa para as mulheres, também conhecida como boto-fêmea e seu habitat são as margens pedregosas e enseadas dos rios amazônicos.
Uma bela mulher como a nativa do norte brasileiro, magnífica e delicada, voz encantadora, gestos delicados e envolventes, tez morena, cabelos negros e lisos, olhos castanhos e amendoados, possui o corpo nu da cintura acima, seios perfeitos às vistas, a outra metade é idêntico a um peixe, cheio de escamas verdes e brilhosas, essa parte fica mergulhada nas águas doces dos rios, aqueles que conseguiram retornar das profundezas afirmam que a Iara possui um castelo riquíssimo com um séqüito masculino guardando seus bens e pode também usar um vestido coberto de estrelas e uma tiara adorna seus cabelos com uma estrela cintilante que fortifica o encantamento. Em outras regiões do extremo Norte, a Iara também é chamada de a grande cobra ou boiúna.
A Iara
O corajoso Jaguarari da tribo Tuxuaua, era um guerreiro amado por todos, as crianças o admiravam pela sua alegria e brincadeiras, incentivava as crianças e os adolescentes a treinarem os jogos e danças da aldeia, para animá-los na hora do banho no rio animava cada um a se tornar um membro honrado da aldeia favorecendo ensinamentos que os seus avós ensinaram aos seus pais e ele mesmo sem estar casado ensinava aos mais jovens, posteriormente as aulas de conduta tribal treinava com afinco a pontaria dos adolescentes com lanças, arcos flechas que ele mesmo confeccionava nas horas de folga.
Jaguarari adorável índio era abençoado pelos adultos da taba dos homens mais velhos que ele e pelas mulheres adultas e as mais velhas que a sua mãe. Era o seu jeito firme de acreditar e divulgar os talentos dos rapazes para no futuro se tornarem os homens da aldeia e guardiões dos costumes, histórias e segredos do seu povo.
Certa feita Jaguarari investiu na mata densa em busca de caças a pedidos das mulheres da tribo para uma grande festa onde nada podia faltar, pois , outros parentes foram convidados e todos participariam da cerimônia.
Andava silenciosamente com seu grupo a espreita da última peça de caça pois a qualidade e quantidade de carne que já tinham reservado em seus depósitos já era o suficiente para alimentar todos, precisava enviá-las para as mulheres da aldeia. Os outros homens voltavam cantando de alegria e sucesso enquanto Jaguarari preferiu pescar alguns peixes e dirigiu-se para a margem do rio que formava uma enseada de areias e pedras brancas como madrepérolas. No caminho abateu algumas aves e decidiu fazer alguns enfeites para sua mãe, irmã e irmãos e o mais belo para a sua namorada uma índia da aldeia vizinha que participaria dos festejos e seria a sua futura esposa.
Nessa tarde, Jaguarari desceu sua igara nas águas doces do rio como de costume, e remou suavemente enquanto selecionava contas e penas coloridas, olhou para os lados, atentou para algum perigo, nada! Tudo era um mundo de paz e harmonia.
A igara distanciava-se da enseada quando o jovem avistou uma mulher morena nua sem se deixar mostrar os seios encobertos pelos longos cabelos negros, assustado com aquela visão ele remava fortemente quanto mais queria afastar-se daquele local mais se aproximava daquela cena, natureza exuberante, mulher com voz de ave canora, estava quase concluído o encantamento!
A Iara não fez prevalecer sua sedução, mergulhou no rio e sumiu, Jaguarari ainda mergulhou nas águas frias nadou de um lado a outro, mergulhou mas nada viu, nada encontrou. Frustrado, sua vida mudou radicalmente, o jovem caçador, guerreiro foi definhando de tristezas, a festa aconteceu e o jovem não estava presente, todo os dias voltava ao local para reencontrar aquela mulher linda, ficava horas sentado nas areias da margem do rio, esperando a visão, nada! Ainda restava o canto mavioso da Iara gravado na selva, esse canto ele ouvia de onde estivesse e o chamava para a área ribeirinha. Estava apaixonado pela Iara e a mãe desesperava-se, o pai aconselhava, os mais velhos faziam oferendas a Tupã e nada fazia efeito para livrar o jovem índio dos desejos da Iara. Numa noite de lua cheia Jaguarari ouviu o canto da sedução como um chamado, correu para o rio, as águas se abriram e ele mergulhou para nunca mais voltar.
Histórico.
Pela Profª Lia de Sá Leitão – 30/09/2007
Aproveitando a lenda do Pirarucu, justamente naquela tempestade em que o índio mau sofreu a fortíssima descarga de Tupã e foi arrebatado pela mão das águas do Tocantins para se transformar no peixo escuro e monstruoso. Pois bem, naquela tempestade um casal que se amava muito também foi atingido mas a Mãe Natureza em recompensa aos seus filhos amados sempre os protege e os acolhe.
Cunhã e o Marupiara: UMA LENDA DE AMOR
Profª. Lia de Sá Leitão – 30/09/2007
Um casal indígena separou-se da taba dos seus pais devido às maldades do índio Pirarucu, como ele não poupava os outros índios e jovens casais da taba em que viviam a cunhã tinha muito receio que seu marido Marupiara fosse perseguido ou morto. Pensaram muito no que deviam fazer e preferiram sair na paz, pediram o consentimento do pajé e dos anciãos da tribo para morar os dois em um local distante onde nunca faltava caça na selva nem o pescado delicioso nas águas da lagoa em frente ao trapiche da sua casa.
Ela a cunhã e ele Marupiara viviam felizes e com muita serenidade, suas vidas eram voltadas para o bem, sempre socorriam aqueles que ali procuravam alento e educava algumas crianças que fugiam dos horrores de Pirarucu. Ela deixava a casa um jardim, colhia flores aromaáticas e cuidava da limpeza e da comida enquanto o seu índio amado estava em busca da sobrevivência.
Como todo jovem casal, a cunha e Marupiara gostavam de brincar de esconde esconde e brincar com as horas correndo e observando as curiosidades que aconteciam pela selva. Passeavam muito na igara em plena lagoa, pescavam e aproveitavam para namorar, conversar e banhar-se numa brincadeira até infantil.
Certo dia Marupiara convidou a sua cunhã para um passeio de igara pela lagoa, pois o sol contribuía para um dia quente e divertido. Arrumaram alguns fardos com farinha, peixes secos, tapioca, e seguiram para o passeio. O dia estava tranaqüilo, as águas da lagoa estavam límpidas, suaves, as vitórias régias encantavam a paisagem, sem aviso, o inusitado aconteceu. Uma tempestade de formou rapidamente, as águas revoltaram-se, trovões, raios, ventos fortes assoviavam uma desgraça, o céu azul dá espaço as nuvens pesadas e arrepiantes de pavor. Marupiara pede para a sua amada ajudá-lo a remar com velocidade a igara que estava no meio das águas convulsas da lagoa para a margem, felizes se chegassem ao trapiche antes da tempestade desabar dos céus. No desespero e com muito medo o casal implorava a Tupã misericórdia, que poupasse as suas vidas pois a única coisa que unia os dois jovens era o amor, não tinham riquezas para oferecer, nem opulência política, e sim a simplicidade e a fé que só os deuses podiam salva-los e protegê-los. Nervosos, remavam sem parar, remavam sublimando a exaustão pois a margem estava ainda mais distante. Cunha chegou ao limite do desespero quando perdeu o remo para as águas revoltas e abraçou-se ao seu Marupiara e gritava com as lágrimas nos olhos, meu amor, o que será de nós? Como vamos superar essa tempestade? Ele segurava o remo com firmeza e com a outra mão segurava o corpo da amada e num tom de tranqüilidade acalmava afirmando que Tupã jamais os abandonaria. Tranqüilizava a mulher amada mostrava a sua força e fortaleza de índio guerreiro: estou contigo mulher não temas, nenhuma maldade vai se consumar entre nós. A distância da margem era menor, mas, exigia grande esforço físico que só o amor pode dar energias para vencê-lo no pavor imprimido pela natureza que iniciava a rasgar o céu com os seus relâmpagos fortes e seus raios com descargas violentas, abraçados o casal orava e pedia clemência a Tupã. Finalmente a igara encostou na margem e os jovens tomaram pé no chão. O medo era tamanho que ficaram naquela chuva torrencial abraçados. Molhados e seminus tornaram-se alvo fácil para os potentes raios que rasgavam os céus e foram atingidos e fulminados por um dos mais potentes enviados por Tupã em sua fúria. A Mãe natureza que não concordava com Tupã em ceifar vidas inocentes para atingir um guerreiro mau como Pirarucu, concedeu aos jovens um magnífico encantamento. Enquanto todos os índios choravam a morte do jovem casal, a Mãe Natureza transformou a cunha em Uriruri, a mais garbosas das palmeiras que enfeita as margens dos lagos e as selvas amazônicas e o guerreiro Marupiara para não ficar longe de sua doce amada foi transformado em Apuí um forte e imponente cipó que abraça docilmente porém com robustez o corpo da amada Uricuri. Assim sendo, mesmo diante da desgraça entre os humanos Marupiara e a cunhã o amor não permitiu a separação dos dois transformando-os num casal magestoso que nunca seseparam e em memória a história desse amor lagoa terá o casal impondo sua beleza conservada através a linda palmeira e seu cipó rei assim o casal nunca consegui ficar separados um do outro.
MÃE D’ ÁGUA
Por Lia de Sá Leitão para o site de Lucio Noite e Dia – 06/09/2007
Como vimos na editoração passada há uma enorme diferença entre a Iara e a MÃE D´ÁGUA. A primeira seduzia o homem das selvas, mantinha um séqüito guerreiro em seu castelo no fundo das águas doces. A Iara é a personalização da mulher sedutora.
A Mãe D’água figura no imaginário como uma mulher índia envolvente, pode-se também aceita-la numa visão mais moderna como a empreendedora, em tintas fortes pode ser exortada com a fibra da mulher brasileira que luta pelos seus direitos e acredita em sua força e seus direitos.
A lenda brasileira classifica a Mãe D’ água a mulher que seduz não só por sua beleza, como pela inteligência e principalmente pela sua força e fortaleza em produzir ações para ajudar todos. Dona de uma voz maravilhosa mais parecida a um trinado de ave canora o qual envolve, apaixona e enfeitiça pescadores, caçadores e índios que atravessam dias navegando pelos rios em suas pescarias.
A Mãe D’água injuriada com a invasão de estranhos em seus recantos silenciosos castiga-os com febres altíssimas que nenhum servidor da saúde ou conhecedor de remédios ou ervas da floresta pode aliviar a debilidade da imunidade.
Quando o ser não acredita na força da Mãe D´água volta a insistir e perturbar com alguma inconveniência a paz que reina na selva a Mãe D’água seduz e leva o ser em um mergulho profundo nas águas frias e escuras dos rios ou igarapé onde desaparecem e jamais retornam para suas casas. Para entender a lenda é necessário conhecer um pouco da história oral indígena e caboclar brasileira.
A Mãe D’ água
Dinahí era uma índia belíssima, impressionava com a sua rapidez as atividades que lhe cabia e uma inteligência brilhante na hora das decisões, essas posturas deixavam todos da tribo Manau impressionados. Ninguém até aquela ocasião tinha demonstrado tamanha coragem, valentia e força como poucos guerreiros da própria tribo. A índia com todo o seu dinamismo e suavidade passou a causar ciúmes entre a maioria da população da sua tribo que passaram a implicar e perseguir e desfazer tudo aquilo que ela fazia, desde o beju tarefa familiar como a caça e pesca entre seus parentes. Certa feita, os dois irmãos de Dinahí combinaram e tramaram eliminá-la da tribo na margem de um igarapé ao cair da noite, arquitetaram finalmente em ceifá-la da vida, ao procurar os instrumentos para a prática do crime. Os rapazes fizeram tamanha bagunça e barulho que a Índia Manau aguçou a audição de uma ariranha, mesmo em sono profundo, acordou, e preparou-se para defender-se, no ataque criminoso os irmãos foram mortos. Assustada, sem imaginar a ferocidade de Kaúna, o seu pai, Dinahí foge da tribo. Corre pela mata sem rumo o pai segue de perto numa busca implacável apenas seguindo as pegadas deixadas pela filha, por onde passava a índia Manau deixa sua marca, uma peça do colar, uma conta da pulseira, na correria para livrar-se de um severo castigo, com velocidade arrancava gramas do caminho, desloca pedrinhas do caminho, quebrou alguns galhos secos dos arbustos, tudo indicava a trilha seguida e o pai experiente índio das selvas seguia cada passo. Várias luas se passaram até a índia ser presa pelos índios guerreiros de seu pai, finalmente exausta e sozinha finalmente foi enlaçada, amarrada, e por ordem do pai foi mergulhada no encontro das águas entre os Rios, Negro e Solimões. No profundo mergulho para a morte, várias espécies de cardumes surgiram em seu socorro e levaram o corpo da índia para a margem do rio. Era noite, ainda desmaiada Dinahí sentiu a Lua cobrir o seu corpo e esses raios prateados transformaram a índia em uma lindíssima mulher com porte de princesa das águas, cabelos escuros como as águas do Rio Negro e a pele morena.
A rainha guerreira das águas negras tornou-se a Mãe D´água símbolo da beleza e coragem da mulher dos trópicos.
INTRODUÇÃO
Profª Lia Lúcia de Sá Leitão, composições exclusivas para o site Lucio Noite e Dia. 11/09/2007
Nos dois primeiro textos propositadamente não fiz nenhuma alusão ao surgimento dos dois principais rios da Região Norte, o Amazonas e o Xingu. Esperei algum leitor atento viesse questionar algo sobre a formação bacia hidrográfica habitada por nativos, e caboclos ribeirinhos. Caro leitor, em colóquios anteriores sobre as belíssimas índias, a Iara, representação da mulher sedutora, e o segundo texto a Mãe D´Água, a força corajosa da mulher guerreira. Pois bem, nenhum dos leitores questionou sobre o surgimento das águas as quais essas personagens mantêm seus palácios submersos. Como surgiu esse manancial hídrico? Apenas a geografia e o relevo explicam? E onde fica a criação da Literatura Oral? Dando continuidade aos nossos encontros culturais sobre as lendas e mitos. É o que chamamos de acomodação mental, tudo chega ao nosso conhecimento na velocidade da luz em nossa mente, grava-se o que é necessário e dissipa-se o que não possui importância. A diferença está consumada nesse momento, o índio atenta para uma explicação do que para ele parece ser inexplicável. Esse homem simples, sem o SABER científico, invadido do conhecimento empírico criativo expõe a riqueza do imaginário.
BREVE LENDA DOS RIOS. – Amazonas e Xingu Por Lia de Sá Leitão – 11/09/2007
A Juriti era um passarinho muito esperto e percebeu que não existia água em canto nenhum, tudo era seco, nem mesmo na mata longínqua existia água, e ela era dona de três potes com água, armazenada na época das chuvas, aquela água era uma grande segredo não podia dizer a ninguém por que era para seu uso e de seus filhotes, não podia distribuir para ninguém, e tinha medo que falando para os outros que podiam acumular água das chuvas as nuvens lhe dessem um castigo e ela também ficasse sem o precioso líquido da vida. Por essa época a seca reinava entre os campos e vales, mesmo na mata a água era raridade. Um dia os filhos Rubiatá, Juruna e dois irmãos eram filhos de um dos maiores Pajés da região Norte os rapazes estavam consumidos pela sede, souberam numa conversa entre parentes sobre os três potes guardados pela juriti onde o passarinho possuía muita água. A seca e a sede era tamanha que foram lá e com muita dificuldade pediram um pouco do líquido para saciar aquela sede horrível. A juriti não deu água aos filhos do Pajé, e sugeriu uma pajelança, uma magia, que saciasse a sede dos seus filhos e de sua gente. Os filhos de Cinaã voltaram debilitados pra a tribo em prantos medrosos de ficarem secos como os animais da selva enfraquecidos dobravam as perninhas entristeciam e morriam. Cinaã, proibiu os filhos de retornar e humilhar-se ao passarinho, orientou seus filhos que em um daqueles potes tinha peixes perigosos que não mexessem nem por sonho naqueles potes com água da juriti, e encaminhou-se ao retiro para pensar como salvar seu povo e o povo da selva com suas caças, formigas, cobras, mandiocas e árvores. Os rapazes desesperados voltaram até a casa da Juriti, procuraram os potes todos foram quebraram e as águas vazavam numa velocidade de cascata. A Juriti ficou braba mas não podia fazer nada! Os rapazes se assustaram com todo aquele volume d´água e pularam longe numa margem alta por onde toda aquela água evacuava com força de natureza viva, mas Rubiatá não teve a mesma sorte que os irmãos, um peixe enorme relutava para não sair do pote, em sua fúria engoliu Rubiatá que ficou com as duas pernas fora da boca do peixe. O pavor tomou conta dos outros irmãos que corriam pela selva como as flechas, essa correria formaria o Amazonas. O maior rio da região, o encantamento aconteciaem cada passo dado pelos irmãos, onde eles pulavam , atravessavam, rolavam em quedas e tornavam a correr formavam outros rios menores, igarapés, cascatas, lagos, águas profundas e rasas. O peixe enorme espatifou finalmente o pote e nadava por outro lado rasgando aquela inundação, como se debatia foi abrindo uma enorme vala que a água rapidamente cobria e assim o rio Xingu foi se avolumando até encontrar o Amazonas onde os filhos de Cinaã resgataram as penas do irmão Rubiatá, que já estava falecido, coletaram o resto do sangue e sopraram nas águas do que hoje é o rio Amazonas. O rapaz voltou a vida e todos voltaram para a taba e narrando a façanha, a quebra os potes a magia que criou os dois grandes rios e sorrindo asseguravam para todo seu povo e povos vizinhos que jamais faltaria o líquido precioso desde que o homem soubesse respeitar a vida.
Breve histórico:
Por Profª Lia de Sá Leitão para CULTURA no site Lucio noite e dia – 23/09/2077.
Mais uma lenda ligada ás águas da Região Amazônica, notamos a mulher enaltecida em sua sensibilidade, um ser que ganha formação mitológica, respeitada e reverenciada para qualquer nativo das margens ribeirinhas ou lagoas, indígena ou mesmo para qualquer turista em seu primeiro contato com a maior planta (lili) aquática do planeta em seus dois metros de diâmetro com as bordas levantadas tipo uma proteção lateral a qual favorece que a Vitória Régia desenvolva um balé suave sob as águas do grande mar doce, o Amazonas. A beleza e a generosidade da Mãe Natureza favorecem um encantamento especial aos olhos que miram aquele banhado de águas fluviais. A noite, quando as flores se abrem em pétalas, pode-se perceber abracura singela ou leves tons róseos com as bordas em frisos esverdeados. O perfume da Vitória Régia invade a selva e inebria quem ali estiver a pescar, namorar ao sabor da Lua ou mesmo as áreas próximas as praias das margens ou ribanceiras dos rios da bacia amazônica.
NAIÁ: A FILHA DO PAJÉ, QUE SE TORNOU A VITÓRIA RÉGIA.
Profª. Lia de Sá Leitão
O Rio Amazonas sempre majestoso em sua selvagem beleza, atravessa a floresta serpenteando com suas águas doces e afluentes a selva fechada, impingindo uma tranqüilidade de quem confia na força que possui a cada corredeira, cascata ou mesmo na imensidão de todo o silêncio, sereno segue tranqüilo as suas histórias. Faz uns séculos que vivenciou uma das mis belas história de amor entre uma linda cunhatã nascida na tribo guerreira dos tupi-guaranis, a filha do mais antigo Pajé, um ancião sábio e respeitado e os desejos apaixonados da jovem por Jaci , a Lua, que derramava em tons pratas seu brilho por toda a Terra, lagoas, igarapés e rios. AS jovens se enamoravam e ali prestavam cerimoniais com seus belíssimos cânticos e narravam seus desejos e sonhos, paixões e amores, encenavam o mais puro ritual de dedicação durante horas enaltecendo a Lua, seus mistério que despertavam as paixões e influenciavam os enamorados a se casarem sempre em cada canto , em cada narrativa o assunto era versado para o mistério dos astros e estrelas que cobriam a noite como pontos de brilhantes reluzentes aos olhos. Esse encantamento era o maior segredo a ser desvendado pelas jovens que desejavam um dia ser abençoada por Jaci e num raio de luz azul se tornarem mais uma estrela no firmamento. Jaci tinha algumas preferências, vinha buscr as índias mais robustas e belas e sempre deixava Naiá fora os seus planos, Jaci sempre vaidosa queria deixar algo de presente para as suas admiradoras, mas não sabia o que podia agradá-las mais que transformando-as em estrelas, e assim durante anos fazia sempre uma vez por mês um nativa encantadora como sua dama de companhia. Um dia as cunhatãs sentadas em seu ritual para Jaci transformá-las em estrelas sedutora refletindo o brilho da sedução para o amor, a Lua apenas mirou-se nas águas limpidas do rio sem observar que estava sendo a protagonista de uma longa espera trouxesse seus bem amados para o primeiro beijo iluminado. As cunhatãs perceberam nessa noite Jaci diferente, uma postura nada peculiar ao de costume, tudo muito comum e o que se tornava singular tornou-se banalidade, naquele momento, Jaci, não tirava o olhar de seu rosto refletido no Amazonas, banhava-se e aspergia água para todos os lados, refletia seu brilho cada vez mais intenso pelas relvas pelas areias brancas das praias, pelas margens, pelas árvores e arbustos, enfim como um manto encantado cobria de luz toda a região. Nessa noite, a jovem Naiá deixou que todas as amigas voltassem a taba entristecidas e ficou mais um tempo naquele local de colóquios sobre a sedução do brilho e do amor. A jovem índia que todos os dias corria toda a selva até a exaustão para encontrar Jaci, ficou a espreita da primeira oportunidade e implorar auxílio para tornar-se uma estrela. Apenas o prateado de Jaci iluminava a noite severa que iluminada permitia a Lia banhar-se como criança, a cunhatã não resistiu ao encantamento atirou-se nas águas profundas e morreu afogada. Aquela atitude assustou e fez o coração de Jaci ficar compadecido com a atitude de Naiá penalizada com tamanha dedicação aos seus mistérios, Jaci devolve a vida para a jovem indiazinha na foram mis dócil possível, transformou-a em uma linda lili da amazônia, a Vitória Régia, que desabrocha ao entardecer sob as enormes folhas que flutuam sob as águas a filha da Lua recolhe suas pétalas ao clarear do dia. Assim sendo a vitória Régia e considerada a estrela das águas da bacia Hidrográfica do Amazonas.
O BOTO - LIA DE SÁ LEITÃO - NORMANDA
Profª Lia de Sá Leitão –27/09/2007
A maioria das Lendas ligadas às águas da bacia do Amazonas. A limitação do imaginário popular apenas à situação hidrográfica do Norte é destacar o fato como inusitado, único, singular, não existe em outras regiões brasileira. A lenda do Boto é filha única de um ambiente brasileiro em que a criatividade está irmanada à necessidade de encontrar alternativas para explicar uma situação que não é comum a uma sociedade embargadas de conceitos morais e religiosos impostos pelas comunidades cristãs ali existentes para salvas almas, isso mostra que a filosofia medieval de implantação da fé cristã ainda exibe a sua força da mesma forma que atuou nos primórdios do Brasil,
Ainda vivem em constantes apreensões com os Botos; famílias ribeirinhas, moradores das selvas próximas as lagoas e igarapés, arruados que servem de área portuária para os gaiolas (pequenas embarcações típicas da região) como também pracianos, as gentes das Capitais, o Boto tem poderes mágicos e atinge todas as classes sociais das mais humildes às mais abastadas. A Lenda do boto não deixa de ser uma criação muito bem articulada pelos personagens, na falta de explicação plausível, uma noite de amor, um romance real, a carência de uma educação sanitária e prevenção contra uma gravidez indesejada deixa a mulher numa situação vulnerável a uma verdadeira tortura emocional pela falta de sensibilidade e delicadeza familiar e social, infelizmente embrutecidos em seus conceitos morais para aceitar uma mãe solteira e a nova vida chegará sem se saber a identidade paterna. O maravilhoso acontece com o encantamento de um jovem rapaz que seduz a moça mais bela da região em algum festejo religioso oi profano. O rapaz empolgante, viril, conquista a mais bela incauta credita em sua maneira de empreender e prender a atenção da moça inicia um namoro, estabelece uma conquista e a leva para um local mais distanciado da festa onde segue seu ritual de amor, depois abandona a moça mergulhando nas águas profundas dos rios e deixa a moça largada à própria sorte.
O BOTO SEDUTOR.
Por Lia de Sá Leitão -27/09/2007
Certo dia no arruado à margem do Amazonas todas as casas estavam enfeitadas para mais uma festividade anual de Stº. Antônio da Vila Padroeiro da Vila. Postes foram plantados com bandeirolas até o trapixe, uma forma de pontilhão que dá acesso aos barcos que circulam pela região dos rios. O dia era especial, vizinhos de outras paragens estariam com suas famílias para a Missa, o Padre já estava na Igreja em sua labuta de confessionário e as mulheres estavam agitadas com a preparação das comidas regionais, pato no tucupi, tacacá, o tucunaré no forno de lenha, os pudins de farinha de mandioca e o famoso doce de bacuri que todas as autoridades da festa voltavam a ser criança. Dona Maria dos Anjos, índia criada com as Irmãs Franciscanas e a mãe de todas as mães, a mulher mais idosa as vila era ela quem cozinhava o prato principal o pirarucu ao leite de coco com castanhas do Pará. O suco de açaí, e outros frutos estavam guardados longe dos olhos das crianças.
Os homens mais maduros estavam atarefados preparando as fogueiras para as postas de peixe na brasa, os convidados depois da Missa podiam ir ao parque brincar nos barquinhos de corda, no carrocel com os cavalinhos de madeira, a atração da festa veio de Manaus, a roda gigante. Um grupo de marabaixo ofereceu uma apresentação gratuita para alegrar a noite. (Marabaixo é uma dança típica do Amapá, mas que é conhecida em toda bacia hidrográfica do amazonense, ao som de duas caixas, vozes de duas mulheres e coro popular, com a improvisação dos figurantes. Os dançarinos formam filas, abraçados uns aos outros, ora separados, se organizam em filas três a três, ora ficam lado a lado, enfim permanecem isolados frente a frente, e dançam ao som da música, em compasso binário. Os passos variam com os toques das caixas que os tocadores, a um canto, fazem soar. Trata-se de um quadro de muita alegria, vivido sob um céu cristalino. As cores vivas das vestimentas, as fitas, as flores - tudo contribui para emprestar exuberante vivacidade a esta bonita dança.) Todos esperavam o ponto alto da festividade, o baile, o arrasta pé no galpão de fazer farinha, os jovens estavam indóceis, mal assistiam a Missa com atenção, seus sentidos era encontrar os olhares negros e meigos das meninas moças da região, as namoradeiras e as casadouras. Só uma preocupação reinava no semblante dos pais das adolescentes, como evitar a chegada do sedutor Boto, ele se misturava ao povo, embora tivesse o seu andar sem muita firmeza pelo tempo que nadava nos rios, mas sabia iludir, encostava-se nas cercas, sentava-se nos bancos, sempre vestido impecável como se fosse filho de fazendeiro, terno branco, chapéu e sandálias combinando, era o mais atraente sorriso e o mais sedutor olhar de toda a festa. Os pais por mais que segurassem as filhas para não se distanciassem dos olhares vigilantes das mães. As moçoilas sorriam e diziam que as rezas fortes do Padre protegiam cada uma do Boto. O festejo começava depois que o soldado do Exército dava um toque de corneta. A gritaria, as risadas, o corre-corre das crianças, o maxixe tocando forte e a festa avança a noite numa alegria inenarrável. Mais umas horas, lá vem o homem de terno impecável, quieto, prende a atenção na mais bela moça do arraial que é atraída pelo magnetismo daquele olhar, pelos gestos, pela educação e sai com o rapaz para um local mais tranqüilo onde possam conversar. A moça é dominada pelas belas palavras e se entrega ao amor daquele homem maravilhoso, ele é o mais forte dos heróis, parece o moço filho do mais poderoso chefe político d região, moço educado, estudado longe das Missões, pele clara, cabelos negros como a noite, olhos ternos, gestos amorosos de quem sabe agradar uma moça. Ela se entrega àquela paixão como quem perde a razão por amor e se entrega de corpo e alma. Depois de satisfeito os seus desejos de conquistar uma donzela, seduzi-la ao encantamento dos seus braços. O rapaz deixa que a noite aprofunde e a moça adormeça em sonhos de uma vida feliz, casada ao lado daquele homem, até despertaria inveja nas amigas, teria filhos lindos e inteligentes que estudariam na capital e ela teria uma casa só pra si. A festa já estava acabando, vozes se despediam dos amigos, as luzes já começavam a picar com a sobrecarga de energia, alguns barcos já partiam, alguns bêbados contavam valentias nas barracas, mulheres sentadas nas escadarias da Igreja esperavam a volta dos filhos e do marido para se recolherem. O Boto na surdina acomodava a moça na margem do rio, despia-se do encantamento de homem e num salto voltava ás águas do grande Rio e ali ficava mais uma moça desonrada com um filho de um boto para criar sozinha.
Profª Lia de Sá Leitão
Tratando das lendas e mitos do Norte mergulhamos num Universo culturalmente rico e formador do imaginário que influencia toda uma Nação. Não podemos nos furtar ao encantamento e ao maravilhoso, assim sendo, é necessário que façamos uma corrente que envolva e desperte no brasileiro o desejo do conhecimento e o poder da divulgação podendo ter uma cadeira cultural nas Escolas que desenvolva o saber sobre a Literatura Oral e a sua riqueza.
AS crianças e adolescentes brasileiros carecem conhecer as origens, da beleza e da riqueza que nem sempre pode ser cultuado como uma exaltação nacional devido a abertura do que é importado comercialmente de outras culturas. Temos em nosso maravilhoso a bruxa, representada pela mulher má, temos a fada, representada pela mulher boa, não podemos negar os nossos mitos malvados como também os que nos faz rir, qual o motivo de enaltecer o maravilhoso estrangeiro quando as nossas lendas são mananciais de informações que atravessaram séculos e não foram diluídos pela velocidade dos conceitos mercadológicos, nossa cultura será atingida em cheio na sua beleza no momento em que o próprio povo brasileiro esquecer que a sua origem e ligação com o homem da Terra.
Lenda Amazônica do Pirarucu
Por Profª Lia de Sá Leitão.
Os Uaiás era uma tribo de tradição guerreira foi chefiada por um grande homem o índio Pindarô, ele preservava a honestidade e a justiça, possuía um coração limpo da inveja, perversidade ou ódio. O grande Chefe antes de tudo era um sábio, conhecia as leis da vida e as leis das selvas. Pindarô servia como referência para muitos jovens de sua tribo e de tabas vizinhas, todos os pais qeriam ter um filho com a integridade daquele chefe indígena. Mas nem sempre a vida oferece todas as benesses para uma pessoa de boa índole, o chefe dos Uaiás tinha um filho de coração malvado, perverso, desde criança seus divertimentos eram maltratar as outras crianças, o pai esperava que seu filho, futuro chefe daquela tribo de bravos viesse a ser um homem feliz, e generoso, acreditava o chefe que seu filho ao chegar na fase mais amadurecida, com os doutrinamentos que os jovem recebiam na tribo, aquela maldade seria deixada de lado e ele poderia se tornar em um chefe tão bom e poderoso quando foi o pai e o pai de seu pai. Mas o filho do chefe, chamado Pirarucu, cresceu e ficou adolescente muito mais malicioso não ajudava ninguém, ao contrário só prejudicava. O rapaz possuía o coração cheio de uma perversidade inexplicável, ninguém queria fazer companhia a ele nas caçadas em grupos, pois, ele chacinava seus irmãos de taba, tomava os mais jovens como reféns de suas astúcias e maltratava um a um. Os torturados, e humilhados ficavam medrosos de falar o que ele praticava na selva com seus companheiros. Egoísta e invejoso, Pirarucu ganhava fama entre as tabas de uma pessoa sem caráter e mal, ninguém falava seu nome com carinho e os comentários sobre ele na taba era o pior que imaginava seu sábio pai. Pirarucu apesar de suas maldades também blasfemava contra os deuses, chegava a desafiá-los em duelos, ameaçava de tal maneira que os deuses ficavam irritados e quando castigavam o índio malvado todos da tribo sofriam um castigo coletivo como: seca, falta de caça, pragas de pernilongos e outras coisas que só os índios sabem explicar quando não se respeitam seus deuses.
Tupã, o deus de todos os deuses indígenas percebeu que até assim tinha algo errado, e Pirarucu não sofria sozinho, um dia olhando do céu aquele jovem insolente, chamou Pólo seu auxiliar e ordenou que espalhasse o mais potente de todos os seus relâmpagos, foi divinalmente chamar Iururaruaçu, a deusa das torrerrentes, e manifestou o seu desejo de que seus deuses das águas e tempestades fizesse cair sobre a terra a maior das tempestades quando Pirarucu estivesse pescando, não importava que ele estivesse acompanhado de índios bons ou maus, mas queria que a ordem dele fizesse valer uma intempérie, com raios, trovões, relâmpagos, fúria das águas, que o Rio Tocantins se transformasse um animal a ponto de atacar em sua incontrolável força. Assim aconteceu, Pirarucu chamou um séqüito de índios maus e levaram consigo um grupo de índios mais jovens e com menos força muscular que aquele grupo malvado, e foram todos para a margem do Tocantins. Tupã, indignado, prevendo a malvadeza que seria praticada com aqueles jovens índios, estrondou toda a floresta com o seu fogo divino, mesmo assim, Pirarucu não se intimidou, blasfemou contra Tupã e foi o seu fim. Um relâmpago clareou a Terra e um raio fortíssimo rasgou o céu atingindo-o em cheio o coração do índio mau. Todos os índios maus caíram por terra e pediram clemência a Tupã fizeram juramento que jamais fariam maldades. Os jovens assustados ainda mais amedrontados correram para floresta em busca de proteção. Uma tempestade caiu sobre aquele local e uma cheia enorme invadiu os leitos dos Rios, igarapés e lagoas, um índio que tinha escalado uma árvore altíssima viu quando Pirarucu ainda foi levado vivo pelas mãos das águas para a profundeza do Rio Tocantins e transformado em um peixe enorme, um verdadeiro gigante de cor escura e nesse mergulho nunca mais retornou a superfície, mas aterrorizou o povo da região, até que um dia o chefe Pindarô, dos Uaiás precisou ir até as margens do Tocantins para pescar e trazer sustento para sua gente que passava por um período de estiagem e fome, aproveitou para tirar a prova de tão perverso bicho aquático e trouxe depois de alguns dias no Rio e de pesca, um peixe de cor escura, enorme como um monstro, o famoso Pirarucu que alimentou toda a tribo naquele momento de dificuldade.