ZUZA E ZUZINHA
ZUZA E ZUZINHA
Solteirão, idoso, rico e cheio de manias, esse era Seu Zuza, mas o povo de Serra do Soldado gostava dele mesmo assim, porque no fundo ele era uma boa pessoa; seu melhor amigo e companheiro era o Zuzinha, seu muito querido cão.
Em todas suas conversas ele tinha alguma coisa para contar do precioso Zuzinha; falava com orgulho, como se o cão fosse um filho muito inteligente e terminava dizendo: para ser gente Zuzinha só falta falar, ele entende tudo que eu digo.
E o cachorrinho entendia mesmo, de manhã o velho dizia: ta na hora do jornal, vá buscar filhinho e Zuzinha corria para a porta. onde esperava até o jornaleiro colocar o jornal em sua boca e ele levava alegremente para Seu Zuza ainda na cama.
Depois de ler o jornal, o homem se levantava e os dois tomavam o café da manhã juntos, enquanto Seu Zuza comentava as noticias com ele; Zuzinha ouvia com toda atenção, parecia entender todas as novidades contadas pelo amigo.
Saiam então para dar um passeio e as pessoas diziam: bom dia Seu Zuza e olá Zuzinha, ele respondia a saudação com um alegre latido; todos achavam graça na esperteza do cachorrinho e isso era uma alegria para seu dono.
Na mesa das refeições a empregada colocava um prato para ele e quando ela avisava que a comida estava servida, ele subia na cadeira e era servido igual ao seu dono e se a sobremesa demorasse a ser servida, ele latia e batia as patas na mesa.
Seu Zuza era um homem saudável apesar da idade, mas se ele se deitasse durante o dia o cão subia na cama e se deitava tristinho a seu lado e só se animava quando o idoso dizia: calma amigo, eu estou bem, só estou com preguiça.
Zuzinha apareceu diferente um dia, recusou a comida e não saiu de sua caminha; Seu Zuza mandou chamar o veterinário e esse disse que o cão estava com alguns dentes cariados e que precisavam ser extraídos ainda naquele dia.
Seu Zuza deixou levar o amigo depois de muitas recomendações, mas não foi junto para não ver o companheiro sofrer;
o veterinário era novo na profissão e deu uma dose exagerada de anestésico para Zuzinha, que não acordou dentro do prazo.
Muito assustado ele chegou a conclusão que o Zuzinha estava morto e foi comunicar o acontecido a Seu Zuza; foi um horror, o velho chorava e os vizinhos vieram ajudar, mas nada melhorava a situação e ele acabou dizendo para o veterinário cuidar do enterro
A noite caiu e todos se recolheram muito abalados com a morte de Zuzinha, mas de madrugada Seu Zuza acordou com alguma coisa arranhando a porta e latidos aflitos, ele pensou: será que cães tem alma e viram fantasmas? vou lá ver o que é isso.
Quando abriu a porta, Zuzinha entrou correndo e se aninhou muito assustado em sua caminha e o velho quase morreu de alegria por ver seu companheiro bem vivo; na manhã seguinte ele mandou chamar o veterinário e exigiu explicações bem claras.
Em apuros o rapaz foi obrigado a falar a verdade e confessou que deixou o Zuzinha no lixão, achando que ele estava morto, mas ele estava anestesiado e quando acordou achou o caminho de sua casa; tentou se desculpar, mas Seu Zuza não aceitou.
Disse ao veterinário todos os desaforos possíveis e contratou um advogado para processar o coitado por imperícia e avisou que se Zuzinha adoecesse novamente, ele mandaria vir um doutor de verdade de Belo Horizonte, porque ele merece o melhor.
Durante muito tempo o povo de Serra do Soldado comentou e riu por conta do acontecido, mas Seu Zuza não achou graça nenhuma do perigo que seu fiel amigo correu e comentava: Coitado do Zuzinha, perdido naquele lixão, justo ele que é o mais limpo e perfumado cachorrinho desse mundo.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA